sábado, 24 de abril de 2010

Contos moucos dos loucos (VI)

Inverno...
Na primeira noite relampejara. Pensou que o mundo iria acabar. Não acabou ainda, pois havia três dias e três noites que chovia. Pensou nas três irmãs Miranda, dominicanas, e nas borboletas que por lá voaram. Pegou A República, de Platão. Mais três páginas...

Inquieto, trouxe o laptop para junto dele. Ligou-o. Descarregou os seus e-mails. Um deles lembrava-lhe que a primavera começaria na manhã seguinte. Aquietou-se logo. A bonança viria depois. Chegara a primavera. As borboletas ainda voam...

Borboletas
As borboletas planavam em volta do grande vaso de alamandas. Sorrriu para elas. De gratidão, por lhe terem trazido a quietude e a beleza do mundo.
Não sairia de lá.

Vespas
Estava entretido na varanda, contemplando as borboletas, sorrindo para elas e para o cão que se aproximara.
Nisto, viu duas vespas.
Então, lembrou-se! Borboletas e vespas, assim caminha a humanidade...

Campainha
Passava a ferro. O radinho na 103.7. A camisa era de brim, difícil de passar. Pensamentos bordejavam-lhe a cabeça. A campainha da porta soou. Tinha sido comprada na Leroy Merlin.

Recordações no ônibus
Fez sinal, o ônibus parou.
Scarface subiu e cumprimentou todo o mundo: o motorista, conhecido por "Dedo-de-cobra", o cobrador,
alcunhado de "Cara de cachorro em porta de açougue", e alguns pasageiros, velhos conhecidos.
"Boca-de-sapo", que houvera sido comissário de vôo da antiga Varig, contava para o "Palmeira triste" a história
daquele passageiro argentino que, desgostoso com a Pioneira, proferiu:
- La Varig es una mierda!
E o Boca questionou:
- Ué?! Entonces por que usted no va de Aerolineas?
- Porque es una mierda peor!, sentenciou o passageiro.

Adoção
Noite escura. Voltava do trabalho. Algo se mexeu. Aproximou-se. Era um filhote de gato. Tremia de frio (e de fome?). Pegou-o e o colocou junto ao peito. Acalmou-se o bichinho. Levou-o para casa. Deu-lhe o nome de "Star". 

Estava um dia quente, bem quente.Ele adorava o calor. Ela, o frio. Terminaram nesse dia quente, bem quente.

Inesperado
Estava à toa na vida. Merecidamente. Não esperava que o céu lhe caísse na cabeça. Caíu.

Eram duas as máscaras. Do Botswana.Uma forte ventania as derrubou da parede da varanda. Não sofreram nada. São de madeira.

Acabara de reler o comunicado 001/2008 do Aerus. Informavam-no que ainda teria alguns meses. Ele não sabia se eram de vida. Então, abriu uma cerveja.

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