quarta-feira, 23 de junho de 2010

O dunguismo que faz o jogo das marcas e alimenta a idiotia pátria

Agressão a um profissional é apresentada de má fé como um conflito com seus patrões
Dos craques preferidos pelo mercado apenas Kaká estará na Copa. Isso vem abrindo espaço para “novos garotos” propaganda, tais como Luiz Fabiano e Robinho. Mas quem mais ganhou espaço com essa “ausência” foi o técnico Dunga, ao ponto de praticamente tornar uma marca registrada o lance do Guerreiro, incorporada pela cerveja patrocinadora da Copa e da Seleção, a Brahma”.
Fernando Fleury, Professor de Marketing - especializado em Marketing Esportivo (no site ESPN Brasil).





Para quem considera Sarney e Renan Calheiros bons companheiros, nada é mais coerente do que sair em defesa de Dunga em suas agressões autoritárias, em sintonia com o novo “pra frente, Brasil” expresso com todas as letras no discurso em dueto que o treinador inventado pela cúpula da CBF pronunciou após anunciar sua (?) desastrosa lista de convocados para a Copa em andamento.
Como a mediocridade primária impulsiona os arrivistas que se acham detentores de franquias ideológicas, sobre as quais, aliás, blasfemam na maior sem-cerimônia para explicar a índole adesista, o oba-oba acrítico, o sonho (ou realidade) de uma boquinha no coração de mãe da máquina pública, arautos auto-designados invadiram o território livre da internet com declarações de amor ao treinador, como se suas agressões a profissionais no correto exercício do ofício fossem demonstrações de confrontos com os patrões, esquecendo-se, por conveniência ou idiotia, que o jornalista agredido poderia ser de qualquer órgão da mídia: os palavrões agressivos se dirigiram a um trabalhador especializado e não ao complexo empresarial onde presta serviço no momento.
A preocupação de blindar Dunga, assim como Lula blindou o banqueiro Henrique Meireles no Banco Central, tem mais a ver com a imprudente politização da seleção brasileira de futebol, tal como nos idos do general Médici.
A paranóia dos que nunca comeram mel e agora se lambuzam tem origem no medo de que um fiasco dos escolhidos de Dunga (e de Ricardo Teixeira, patrocinadores e "empresários" inescrupulosos) possa repercutir negativamente e afete a “onda de sucesso” cuja âncora é a transformação da caritativa “bolsa-Família” no remédio para os pobres sem emprego e no fortalecimento do lumpesinato como arma de imobilização de um proletariado vendido pelos cabeças de seus sindicatos.



Um treinador tirado do bolso do colete

Todo mundo sabe que Dunga nunca treinou nem time de várzea antes de ser pinçado para a seleção brasileira, assim como dona Dilma não disputou nem eleição de síndico antes de ser imposta ao PT e aos partidos premiados com boas prebendas como compensação pelo grito parado no ar.
Sem histórico escolar, Dunga caiu sob medida como testa de ferro dos grupos econômicos que manipulam o futebol, a grande paixão dos brasileiros, onde rola muito mais grana do que aparece, até porque a orgia de sua corrupção especializada está a salvo dos controles de tribunais de contas e dessas ONGs focadas bitoladamente num único alvo, como se a má conduta não tivesse enodoado toda a alma da sociedade e não acometesse todo gestor de dinheiro de terceiros.
Houvesse o mínimo de escrúpulo, Dunga jamais poderia ser sido chamado para comandar um grupo que poderá levar ao orgasmo ou à depressão 190 milhões de seres humanos, causando sensações colaterais de conflitantes efeitos múltiplos.
Ainda outro dia, Dunga jogava ao lado de alguns dos atletas que iria “escolher” como a nata do nosso futebol. Participara da guerra silenciosa de egos, no esforço individualista de cada um de ser a peça de maior valor no leilão que o certame alimenta como se fosse, talvez, mais importante do que a própria prestação de serviços ao conjunto.
Nunca foi brilhante, nunca se destacou como um Pelé, um Garrincha, um Zico, um Sócrates, um Ronaldo, um Maradona, um Zidane, um Beckenbauer, e muitos outros que realmente esbanjaram talento e domínio total dos segredos das quatro linhas.
Sempre quis ser o “operário-padrão”, ter sua foto exposta como o mais esforçado, o que cobrava raça dos parceiros, como se futebol fosse apenas um enduro. Mas mesmo tendo sido “capitão” em uma Copa, isso não seria o bastante para preterir outros profissionais com mais chão e dotes reconhecidos para o ofício de treinar homens de talento, mas motivados pelo trágico de uma profissão que os aposenta antes dos quarenta, obrigando cada um a fazer seu dourado pé de meia por todos os meios e de forma muito pessoal.



Apenas um sargentão da bola
Talvez, ao catapultá-lo a um mister que desconhecia, o controvertido comando da CBF partiu do princípio de que temos uma tal fartura de talentos que só precisavam de um sargentão cumpridor e repassador de ordens, cuja ascensão se exauria por si. Como alguns ministros e secretários deslumbrados desses governos aí, cumprir o script num jogo de aparências já seria  o bastante. O resto se resolveria no gramado pelo escalados, até porque a transformação do futebol em arena de gladiadores mercenários é um fenômeno globalizado.
Fenômeno, aliás, que está expondo algumas matrizes do futebol, afetadas pela condição de países importadores de mão-de-obra, destacando-se aí, entre outros, a Itália, onde a Inter de Milão ganhou a Taça Europa com um elenco exclusivo de forasteiros.
Em geral, jornalistas e radialistas que cobrem futebol (e polícia) têm uma tendência a um estranha cumplicidade, até porque alguns acabam ombreados com os cartolas ou até ocupam seus lugares, como Kleber Leite, no Flamengo.

O incômodo de jornalistas independentes
A existência de um bom número de profissionais independentes, alguns, como o Cajuru, sacrificados por levarem a fundo suas convicções, é um excrescência que incomoda o esquema montado em torno do futebol, área livre para mafiosos e canalhas.
Jornalistas de verdade ameaçam o jogo sujo que se esconde na movimentação de milhões de dólares e euros e acabam por tencionar os que aparecem no proscênio dessa grande farsa produzida por empresas que sabem tirar proveito da visibilidade ganha com a canalização da ansiedade da população apaixonada.
Mais do que nunca, ante o envolvimento de interesses insaciáveis de empresas especialistas no trabalho escravo (seja dos operários paquistaneses ou dos ídolos das seleções) é preciso estimular o jornalismo crítico e independente.
As agressões de baixo nível ao jornalista Alex Escobar, proferidas, curiosamente, por quem guarda com o príncipe operário uma certa semelhança no achincalhe do vernáculo, devem ser vistas como sintomas de uma doença grave que se reflete no desempenho medíocre dos craques escolhidos.
Desempenho que pode até dar certo, o que acho quase impossível, mas que certamente seria mais garantido se tivessem sido convocados craques que não tiveram tempo de puxar o saco do Dunga ou contassem com “empresários” e patrocinadores influentes.

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