Os defeitos de José Saramago

Gosto dos seus livros. Não li todos, mas dos que li até agora gostei. Gostei do enredo e da forma como os escreve. Pode ser maneirismo ou oportunismo de mercado. Gostava. Também  gosto das parábolas contidas nas suas histórias. Parece que o escritor gostava de utilizar a parábola tanto quanto os apóstolos. Apóstolos e obra (a bíblia) que ele muito criticou.

Como escritor, reconheço e aplaudo o seu protagonismo na divulgação e promoção da língua portuguesa.

Claro que José Saramago gostava muito de Portugal, onde nasceu,  como da Espanha, onde morava e era feliz com a mulher. Certamente que gostava muito de outros países, lusófonos ou não. Mas, com certeza, Saramago não se deixava limitar por nacionalismos populistas e fomentadores da mediocridade. Pelo contrário, desprezava-os. Admiro isso.

Saramago, o homem, opinava sobre atualidades sob um posto de vista ideológico engajado. (Sectário, talvez, não sei). Direito dele. Como é direito de outros preferirem Shiva a He-man…

Estaria ele de acordo com o filósofo ateu André Comte-Sponville, para quem um ateu que diz saber que Deus não existe, “antes de ateu, é um imbecil, como é igualmente imbecil o crente que diz saber que Deus existe.”  Penso que José Saramago, muito melhor do que eu – até porque eu não sei – saberia explicar a diferença entre saber e crer.

Enfim, como homem, Saramago foi um homem falho. Como é todo o ser humano aos olhos de outro. Um é sempre defeituoso aos olhos de outro indivíduo, mesmo que aquele tenha um comportamento moral irreprensível, mas é este que o ”julga”. Pois que enquanto vivermos neste planeta, em sociedade, coletividade, isto é, com outros seres humanos, sempre seremos “julgados” pelos outros. Com razão ou sem, com justiça ou sem.

Agora, em meu “julgamento”, José Saramago tinha um defeito imperdoável que muito lamento: era sócio honorário do Benfica, desde 14 de Junho de 1999.