domingo, 18 de julho de 2010

O divórcio é contagioso

O divórcio de amigos, familiares ou colegas de trabalho pode ser "contagioso", revela um estudo norte-americano. Em Portugal, um em cada três casamentos acaba em separação.

Assistir ao divórcio de amigos aumenta em 75 por cento a probabilidade de o casal se separar, de acordo com uma investigação realizada ao longo de 32 anos a 12 mil pessoas do estado de Machassussets (nordeste dos Estados Unidos da América). Se a separação for entre amigos de amigos, o efeito de "contágio" desce para 33 por cento.
Segundo três investigadores das universidades de Brown, Califórnia e Harvard, a vida amorosa de familiares e colegas de trabalho também influencia a longevidade do casamento: quanto mais divorciados uma pessoa conhece, mais hipóteses tem de seguir o mesmo caminho.
Em entrevista à agência Lusa, a investigadora Rose McDermott, da Universidade de Brown, acredita que "não há razões para que os resultados do estudo não possam ser aplicados à realidade e sociedade europeia".
Confrontada com as conclusões do estudo, a investigadora e socióloga portuguesa Karin Wall lembra que "se torna mais fácil aderir a qualquer comportamento quando este começa a ser difundido". No entanto, ressalva, "o divórcio já estabilizou nos países desenvolvidos".
"Notou-se um aumento durante uma ou duas décadas, mas depois estabilizou", sublinha a socióloga do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa.

Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam o aumento: em 2008, a taxa de divórcio em Portugal passou os 60 por cento enquanto, há dez anos, a percentagem era de 30 por cento e, há 20, situava-se nos 12,9 por cento.

Se o divórcio de conhecidos aumenta os riscos de separação, a existência de crianças pequenas reduz as probabilidades de dissolução da união, revela ainda a investigação norte-americana.

Karin Wall corrobora esta ideia lembrando outros estudos que indicam que "há menos divórcios quando existem crianças pequenas": "Há uma tentativa para tentar manter o casal parental para poder dar uma vida familiar à criança". Mas, quando as crianças atingem os 13 anos, o factor "filhos" parece deixar de ter força.

Entre as já conhecidas dificuldades do divórcio, o estudo norte-americano acrescenta mais uma:"Os divorciados chegam a perder dez por cento dos amigos".

"Qualquer evento familiar - um divórcio ou mesmo um casamento -- introduz mudanças sociais nos indivíduos. No caso do divórcio é normal assistir-se ao afastamento de sogros e cunhados. Os divorciados podem, durante uma fase de transição, ter redes sociais mais reduzidas, até porque os casais também dividem os amigos entre si: um fica com uns e o outro fica com outros", lembra Karin Wall.
Quer isso dizer que quem quer permanecer casado deve afastar-se de amigos divorciados? "Não, mas podemos dizer que se quer proteger o seu casamento tente apoiar o dos seus amigos", responde a investigadora americana Rose McDermott.

Até porque o "contágio social" pode acontecer à distância. Os investigadores seguiram pessoas que tinham abandonado Machassussets e perceberam que o divórcio de um amigo que vive longe tem mais impacto que a separação de um vizinho.
Perante as conclusões do estudo, Rose McDermott disse à Lusa que é preciso "encorajar as pessoas a apoiar as relações dos amigos, porque isso pode ajudá-los a salvar as suas próprias relações". 

Agência Lusa/Jornal "Público", 18-07-2010 12:44

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