segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Acordo Ortográfico mais simples para portugueses do que para brasileiros, defende linguista

António Gonçalves Rodrigues

A aplicação da última versão do acordo ortográfico vai ser mais simples para os portugueses do que foi para os brasileiros. A convicção é do linguista brasileiro Evanildo Bechara, manifestada esta tarde, à margem da sessão de abertura do IX Colóquio Anual da Lusofonia, em Bragança.

O uso do hífen será um dos problemas, prevê o linguista Evanildo Bechara,
 foto: Miguel  Madeira
Segundo Evanildo Bechara, “o acordo faz com que os brasileiros abram mão de muitos mais princípios do que os portugueses”, nomeadamente na acentuação. “Os brasileiros têm vogais muito mais abertas” e terão, com o acordo, de retirar alguma acentuação que utilizavam anteriormente.
Quanto aos portugueses, será positivo “para as crianças, que deixarão de ser obrigados a usar uma consoante que não lêem”, como em “Egipto”, que passa a Egito, enquanto “egípcio mantém o ‘p’”.
No Brasil, o acordo assinado em 2008 já está em vigor desde 1 de Janeiro 2009. “Inicialmente foi [uma aplicação] titubeante”, porque “já faz parte da tradição o Governo assinar e depois voltar atrás. Aconteceu em 1943, quando Portugal assinou e depois saiu. Em 1945 o Brasil assinou, mas depois voltou ao de dois anos antes”. Por isso, este foi “um momento histórico, ter reunido à mesa representantes de sete países e todos eles assinarem o acordo”.

Em Portugal, a sociedade tem reservas “naturais”, como “sempre acontece quando há mudanças”. “É normal, ainda para mais numa língua que tem mudanças ortográficas de dez em dez anos, porque o público escreve por memória visual”, considera o linguista brasileiro, que aponta o uso do hífen como o mais problemático.
Nas escolas “tem sido perfeito”, observa Bechara . “Todos os professores já usam acordo. E como o maior cliente das editoras é o Governo, que compra milhares de exemplares de livros didácticos para distribuir gratuitamente pelos alunos, já há dois anos que se determinou que as compras de 2011 estejam de acordo com a reforma”.
Já o linguista português João Malaca Casteleiro considera que o atraso na implementação do novo acordo nos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) se deve ao facto de Portugal “não ter ainda tomado uma decisão quanto à entrada em vigor do acordo”.
“O Brasil tomou essa iniciativa e tinha sido muito importante que Portugal e Brasil o tivessem feito ao mesmo tempo. [Não o terem feito] atrasa o processo nos outros países”.
Mesmo assim, em Portugal há algumas iniciativas, como as de alguns órgãos de comunicação social, que já aplicam as novas regras, e “foi anunciado pelo Ministério da Educação que o novo acordo entraria em vigor em 2011-2012, para dar tempo a que se fizessem as alterações nos manuais”, sublinhou Casteleiro, destacando o facto de ser a “única língua de grande projecção internacional com duas versões”.
António Gonçalves Rodrigues, Público, 27-09-2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-