sábado, 25 de setembro de 2010

Brasil: a leveza política do elefante


Observado do exterior, o Brasil é um gigante económico e um adolescente em matéria política. O crescimento dos últimos anos transformou a economia brasileira no motor do desenvolvimento da América do Sul. Passou a ser um dos principais destinos dos investimentos chineses. E não só. Também a Europa acabou por descobrir o Brasil, um mercado vasto, dinâmico e prenhe de recursos naturais. Dentro de meia dúzia de anos, deverá ser a quinta maior economia do mundo. Mas a política externa do país não tem correspondido. Nem à crescente afirmação económica nem aos esforços desenvolvidos pelo Presidente Lula da Silva. 
A ambição do Presidente era a de projetar um país capaz de reivindicar, sem grande discussão, um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Neste momento de fim de mandato, pode dizer-se que a realidade não corresponde às expectativas. É verdade que o Brasil tem agora assento reconhecido no G20. Mas não define a agenda, limita-se a reagir ao que outros propõem. Também é um facto que tem promovido algumas iniciativas diplomáticas na América Latina. Mas nem sempre consegue dar seguimento, de modo sistemático, a esses projetos. Assim, continua a ser visto, em Washington, Nova Iorque, Londres ou Bruxelas, como uma ator meramente regional, sem peso nem significado fora da área geopolítica a que pertence. 

A ambiguidade política em relação à Venezuela, à Bolívia e aos terroristas colombianos tem um custo importante, para a imagem externa do Brasil. Dá azo a uma etiqueta frouxa e incoerente. A que se veio acrescentar, em Maio, o passo pouco estratégico, em relação ao Irão. Foi tido como um desafio direto ao Conselho de Segurança e à política norte-americana. A liderança brasileira passou, então, a ser considerada como imprevisível. Um mau rótulo, em política internacional. Sem contar que foi um golpe fatal para as ambições que Lula pudesse ter, nas instituições do sistema onusiano. Para que não restem dúvidas, Ban Ki-moon acaba de nomear a antiga presidente do Chile para um cargo em Nova Iorque. Confirmou, assim, que não há espaço para outro ex-chefe de Estado, vindo da mesma região. 
Quem for eleito para o Palácio da Alvorada terá de repensar a política externa. Menciono alguns pontos relevantes. Primeiro, haverá que rever o relacionamento estratégico com os EUA. O reforço das relações mútuas será benéfico para ambos. Em segundo lugar, o Brasil tem de jogar a fundo a carta da integração regional, no quadro da Mercosur. Aqui, um dos pontos importantes passa por um maior entendimento comercial com a Argentina. O terceiro aspeto tem que ver com a mediação entre a Venezuela e a Colômbia. Outra frente de ação diplomática diz respeito a África. A presença brasileira no continente africano continua a ser muito tímida. Mesmo na comunidade lusófona, como em Moçambique. Finalmente, a intervenção nas organizações internacionais precisa de ser mais ousada. Reconheço que tem havido mais empenho nas missões de manutenção de paz. A contribuição para o Haiti é um bom exemplo. Mas precisamos de um Brasil que marque a agenda na área da resolução de conflitos, dos direitos humanos, do ambiente e nas negociações de Doha. Com centenas de diplomatas recrutados durante a presidência cessante e com 35 novas embaixadas abertas um pouco por toda a parte, não se está a pedir de mais. Trata-se, apenas, de lembrar à nova liderança, seja ela Dilma Rousseff ou José Serra, que é fundamental expandir aquilo que Lula iniciou. 
Victor Ângelo, revista Visão, 23-09-2010

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