segunda-feira, 27 de setembro de 2010

José Mourinho: um português tão pouco português


Reuters
Mourinho entra e diz: "Microfones, cheguei!" Isso é o menos, homens de futebol que se extasiam com microfones é vulgar. Dizem frases redondas e falam de si próprios na terceira pessoa. Mas Mourinho trata os microfones de forma única: aos pontapés brutais, na verdade com a elegância de um toque de Didi. Não que eu saiba isso quando ele fala; confesso que no momento sempre o oiço como um exagerado e um provocador. Depois, com os êxitos no Porto, no Chelsea e no Inter, é que me dou conta que há sempre uma razão para aquelas frases atiradas por ele. Não conheço bom profissional nenhum que compre briga com a teimosia com que ele o faz. Agora, no Real Madrid, eu esperava que apaziguasse. Qual quê! Nunca foi tão cedo tão brutal. Declarou que as outras equipas se deixam ganhar pelo Barcelona (e arranjou uma coligação generalizada dos outros clubes contra o seu) e, sobretudo, provocou gratuitamente os sócios do Real Madrid com a intenção de treinar Portugal a part-time. É como se ele só carburasse sob tensão. Se tudo lhe fosse fácil, podia ser manobra de pavão para mais o admirarmos. Mas como ele faz isto em situação perigosa (hoje, em Espanha, há mais editoriais contra Mourinho do que contra Zapatero) é ainda mais admirável. Sigo-o como, num policial de Patricia Highsmith, ao talentoso Mr. Ripley, sempre à beira da queda e sempre a safar-se gloriosamente.
Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 27-09-2010

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