terça-feira, 28 de setembro de 2010

O rapaz que queria uma rã


Jefferson Thomas (1942-2010). Com mais oito amigos negros, desafiou a sociedade racista inscrevendo-se num liceu ‘só para brancos’.
Jefferson Thomas


Leonor Pinhão
Em 1954, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos decretou o fim da segregação racial nas escolas. Jefferson Thomas tinha 12 anos, era negro e vivia em Little Rock, no Arkansas. Frequentava a Horace Mann High School, um estabelecimento de ensino com uma população estudantil exclusivamente negra, gostava de atletismo e interessava-se por biologia.
A sua escola era incomparavelmente mais pobre do que o liceu dos alunos brancos, a Little Rock Central High School. No liceu dos negros, nas aulas de Biologia, a turma inteira tinha de partilhar a mesma rã para a experiência curricular da dissecação. No liceu dos brancos havia uma rã para cada aluno.
"E eu quis ir para uma escola onde cada aluno tivesse a sua rã. Eu queria uma rã só para mim!", explicaria mais tarde, sempre apelando ao seu sentido de humor, a decisão que tomou de se inscrever no liceu dos brancos, confiante de que a ordem do Supremo Tribunal seria respeitada.
No dia 4 de Setembro de 1957, quando Jefferson Thomas e mais oito estudantes negros pretenderam iniciar o ano lectivo na Little Rock Central, foram surpreendidos por um motim.
O governador do Arkansas, Orval Faubus, desrespeitando a nova lei em vigor, convocou a polícia para impedir a entrada dos estudantes que ficaram conhecidos como os ‘Little Rock Nine'. Uma semana mais tarde, os nove negros voltaram a tentar entrar na escola mas tinham à sua espera uma multidão hostil que os fez, uma vez mais, voltar para trás. Teve de ser o presidente dos EUA, Dwight D. Eisenhower, a mobilizar o exército para garantir a lei em Little Rock.
Eisenhower apelidou de "vergonhosas" as manifestações contra os nove estudantes negros que conseguiram terminar os seus cursos secundários, sempre guardados pelo exército dentro e fora da escola.
Jefferson nunca se licenciou em Biologia, foi contabilista toda a vida e, em 1999, recebeu a Medalha de Ouro do Congresso que lhe foi entregue por Bill Clinton, outro natural de Little Rock.
Em 2009, Jefferson Thomas teve um novo contacto com um novo presidente dos EUA. Ele e os outros oito companheiros de luta foram convidados para a tomada de posse de Barack Obama. "Gostei muito", disse Thomas, que era de poucas palavras.
Leonor Pinhão, "Domingo", Correio da Manhã

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