domingo, 24 de outubro de 2010

Agressões e afagos

Quando Lula ganhou a eleição para presidente da República pela primeira vez, uma amiga mais que querida, colega de jornalismo diário, que precisou se exilar com a família por atividades chamadas “subversivas”, me telefonou. Sabia que eu jamais votaria em Lula e, meio que querendo me consolar por me saber arrasada com a eleição deste sujeito que nunca me enganou, me perguntou: “Mas tu não consegues te alegrar nem pelo fato de ele ter lutado tanto, tantos anos, até conseguir vencer?” E eu respondi, de imediato: “Não. Jamais vou me alegrar com a vitória de Lula”.
Esta amiga, provavelmente, nem lembra deste episódio em nossas vidas que seguiram, sem qualquer contratempo – ao contrário, nossa amizade e bem querença se reforçou com a passagem dos anos. Há alguns meses, enviei a ela um mail avisando que minha indignação havia aumentado em relação ao PT, o Lula e todos seus asseclas e que minhas manifestações públicas, em meus modestos espaços virtuais, manteriam o tom de inconformidade sem concessões. Minha preocupação era: até que ponto uma relação de afeto se mantém em meio às diferenças de pensamento? Pois minha amiga, minha irmã de coração, me tranqüilizou: ela continua ligada ao PT por achar que este é o partido com que mais se identifica ideologicamente, mas nossos laços não seriam afetados por isso nem por minha oposição.

As redes sociais têm sido, hoje, os testes maiores para as relações interpessoais. Antes, a gente se encontrava pessoalmente, por telefone e, até, por mail ou msn, para expressar sentimentos e crenças. Tudo muito a dois, às vezes até em pequenos grupos de bate-papo, mas ainda eram conversas quase íntimas diante do que se faz hoje num facebook ou, em especial, num twitter. Ali, na hora, no calor do momento, escreveu, postou, não adianta nem deletar: alguém já leu, repercutiu, devolveu ou até fixou para sempre numa imagem de paint.
Estou vivenciando esta intensa troca de opiniões dia a dia, faz tempo. A rede dos 140 toques por mensagem representa o céu e o inferno da internet. Em época de eleição, nem se fala: tudo cresce exponencialmente, para o bem e para o mal. Trata-se de uma torrense incontrolável de confluência de idéias que aproxima ou afasta em definitivo um do outro. Quando não dá briga, o que tem se tornado muito comum. E com conseqüências, muitas vezes, desastrosas e sem retorno.
Confesso que o twitter instiga a se usar tons que, normalmente, não se usa em conversas, sejam elas mais ou menos restritas. E, quando está em jogo a defesa de candidatos ao cargo mais importante de uma nação, não existe meio-tom: o grito é constante, contra ou a favor. Dá, mesmo, uma grande irritação quando algum tuiteiro, parecendo absolutamente fora da casinha, ousa abordar temas fora da pauta e falar em poesia, música, estas amenidades que devem ficar de lado num momento tão tenso quanto esse de troca de governo.
Eu, particularmente, tenho batido forte no que acredito ser uma mancha indelével na legalidade e na ética de um país que é a posição doente de Lula em campanha por sua cria Dilma. Defendo a idéia de que Serra é a pessoa certa para recolocar o Brasil no caminho da correção e afastar de vez a corrupção semeada por Zé Dirceu e que virou erva daninha com Erenice Guerra e sua prole. Mas, acima de tudo, acho que a escolha democrática precisa ser garantida.
Estou sendo alvo de muito desaforo, agressão pessoal e ameaças atualmente, por causa do que penso e exponho nas redes sociais, em meu blog, aqui e em outros sites em que colaboro. Recebo e rebato tudo, sem temor. Afinal, tive acesso a uma boa educação familiar e formal que me deu base forte para raciocinar sobre tudo. Mas me preocupam os milhões de manipulados por Lula e pelo PT numa vergonhosa campanha pelo poder puro e simples. Me deixa chocada a passividade de milhões diante dos absurdos em palavras e atitudes que Lula expõe, diariamente, sem limites de lei ou de moral. Não tenho outra imagem a associar, diante de todo este quadro, que não seja a do movimento nazista em que Hitler e seus pensadores mobilizaram as massas de tal forma que eliminar seres humanos, como judeus, homossexuais e portadores de deficiência física e mental, passou a ser normal. 
Não temos fornos crematórios, ainda. Mas, do jeito que Lula e o PT estão agindo, em breve o Brasil, já dividido por seu presidente entre “eles” e “nós”, vai viver a eliminação das diferenças da maneira mais cruel e criminosa. Não vamos esquecer que Lula proclamou a eliminação de um partido por não concordar com ele. Daí para propor (e ser atendido) a eliminação de todo e qualquer que não concorde com ele, é um pequeno passo.
Contra essa possibilidade e todo o arbítrio, me bato diariamente no twitter, no facebook, em meus espaços de internet e, claro, no corpo a corpo. Afinal, se eu não defender minhas idéias, quem o fará?
Maristela Bairros é jornalista e escreve para os sites: www.coletiva.net e www.clinicadapalavra.blogspot.com

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