segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Chico Buarque é mau escritor com ou sem petição, com ou sem prêmio

Yara Chiara

Conheço bem os livros de Chico Buarque. Conheço até a última palavra da página 163, da 2ª Edição, 12ª Reimpressão - lado direito do livro - do romance Budapeste, publicado pela Companhia das Letras. Lê-se: “O carro afundou na garagem, o vigia se metera na guarita e a persiana da Vanda já estava arreada. Era dia claro quando cruzei zunindo a portaria do hotel, e nem bem alcancei minha porta, o telefone tocou.”

Assim como Caetano não indulge em certas coisas, a persiana da Vanda fica permanentemente arreada, edição após edição.

Ou o cantor que estranha a presença de acento agudo em “Gadú” acha normais os erros mais esdrúxulos [o certo é "arriada"]?

Que Caetano acuse de grosseiro quem já debateu seriamente o mérito literário de Chico Buarque enquanto escreve uma diatribe de viés estritamente pessoal, sem manifestar-se uma vez sequer sobre por que Chico seria, afinal, um bom escritor, não denota lá muita coragem. Que traga a política quando, em teoria, condena a politização das críticas a um prêmio literário, trata-se já de certa ausência de autocrítica.

Também o incomoda a existência de pseudônimos. Para Caetano, opinião só vale com “CPF na nota”: o importante é quem opina, e não o que se diz, no mundo em que a fabricação e a projeção da imagem constituem a essência das coisas.

Chico Buarque é mau escritor com ou sem petição, com ou sem prêmio: os leitores e os escritores de respeito discordam do clube que outorgou a Chico a premiação. Eu não coloquei nem nome nem pseudônimo na petição: ela não me interessa. Não acho que Chico deva devolver o Jabuti - a ordem das coisas exige que se critique, antes de tudo, quem conferiu o prêmio, não o ato de recebê-lo, de que Chico é, a essa altura, vítima inescapável.

Jamais encontrei quem goste da obra literária de Chico Buarque, embora conviva com leitores ávidos diariamente. Sempre encontro reservas: “É bom letrista, mas muito fraco como escritor”, dizem. Foi o que disse, basicamente, Wilson Martins, a quem não se pode acusar de ter sido um ignorante literário ou um político da literatura.

Como Caetano Veloso lida com a crítica do saudoso Wilson Martins a Chico Buarque? Qual é o posicionamento de Caetano quanto a “Chico escritor”?

Versado no mundo da psicanálise, Caetano deveria “saber melhor” (should know better…): não há algo de regressivo nessa história de ficar trazendo a figura do pai para o debate? Sérgio Buarque foi um dos fundadores do PT, mas não um sobrevivente de Auschwitz: seu legado é principalmente, ou mesmo exclusivamente, intelectual. Um legado notável, sem dúvida, de que Chico não é herdeiro - o cantor pode ter adotado atitude política semelhante à do pai, mas certamente não herdou o mesmo brilho para a análise política ou sociológica. Daí que, com entusiasmo juvenil e rigor escolar, ainda esteja ao lado do PT, apesar da história, algo que Sérgio Buarque se negaria a fazer.

Não consigo ver o mestre de “Raízes do Brasil” ao lado de mensaleiros, populistas, demagogos e censores da democracia.

Também José Serra foi perseguido pela ditadura. Aliás, teve de fugir de duas, e creio que, como governador do maior Estado da Federação, não tenha deixado um legado de perseguição política. Foi bem o contrário. José Serra está entre os poucos políticos perseguidos na ditadura e na democracia desvirtuada do PT: falar do ex-governador sem mencionar as palavras “dossiê” e “quebra de sigilo” é condescender com o autoritarismo.

Caetano sente que encarna a História. Eu não tenho essa pretensão. Na verdade, tenho medo de quem a tem: é gente que costuma a passar sobre os “excluídos da história” como escavadeira.

Acho mais bonita a história encarnada por José Serra, em que a preocupação social legítima não se deixou afogar pelo populismo, pela baixaria, pela corrupção, pela intolerância. Só um democrata aceita perder as eleições da forma como José Serra o fez. O PT jamais aceitaria - tanto é assim que, para vencer, utilizou-se de tudo: do dinheiro público à depredação institucional, do discurso rancoroso e monopolista à mentira institucionalizada.

As pessoas crescem e fazem suas escolhas.

Algumas não crescem nem escolhem, mas acabam sendo escolhidas pelas vagas do momento, pelos ventos da estação, e jamais deixam de ser exatamente isso: escravos do preconceito alheio.
Título e Texto: Yara Chiara, 29-11-2010

7 comentários:

  1. Que isso?
    Será uma "Tia Ryara" chiando?
    Tal qual "Tio Rei", o livro de Chico é apenas pretexto, o grande motivo é a posição política dele.
    Também gosta de textos longos, para poder atacar o maior números de pessoas possíveis ou muitos ataques ao mesmo....

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  2. Os livros de Chico Buarque não são para leitores medianos. Foi que ouvi um professor de faculdade dizer em uma banca de defesa de dissertação em que o objeto de analise eram os livros de chico Buarque, logo se a academia diz isso não importa o q os outros dizem afinal é muito coincidência em um ano de eleição (2010) e com a posição de Chico bem definida, isso é só perseguição politica. Cara Yara, acho q esses seus amigos leitores devem ser profundos conhecedores de livros de autoajuda talvez vc também precise ler já que não chega a ser uma leitora mediana.

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  3. Ainda ontem comentava sobre a "inteligência" de livros, filmes (como os de Glauber Rocha) e do, vamos dizer, corporativismo intelectual e esnobe que elege, justamente, "obras" que ninguém entende e que quase todos têm vergonha de dizer que é uma merda por medo de serem apontados como "medianos" por anônimos que se acham...

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  4. O livro Budapeste eu não li mas assisti ao filme. Nem eu conseguiria fazer porcaria igual. Só tem banalidades, do começo ao fim. Se o livro tiver a história do filme, meus pêsames ao grande letrista Chico. João.

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  5. Minha impressão é que o Chico, se julgando genial, não reescreveu seus livros, por isso viraram uma porcaria (sic). Quem escreve sabe que um romance pra ficar bom tem que ser reescrito muitas e muitas vezes, e o Chico não fez isso, na ganância de se mostrar escritor. João

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  6. Fica claro,mesmo disfarçando no texto acima, que a crítica é para a ideologia de Chico, e não para sua obra. Tanto que a certa altura elogia-o como letrista. Se bom letrista, bom escritor! Quem faz versos bem escreve bem! Vide Fernando Pessoa! Talvez a obra não contribua para o enriquecimento da literatura enquanto romancista, porque gostos são contraditórios, mas enquanto poeta vivo, é o melhor do Brasil. Quiça da língua portuguesa! E arriado ou arreado é erro na revisão da editora, porquanto ambas as expressões existem na língua portuguesa. Embora com significados diferentes!

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  7. Realmente não sei porque o cavalo defeca bolinhos e a vaca tortas enormes.
    Não entendo por causa do cheiro.
    Aliás temos no bairro brasilis vários prêmios NOBEL de literatura.
    O acima citado deve ter escrito um "monte" de "best sellers".
    Nós perdemos tanto em cultura, que não existe poetas VIVOS contemporâneos de quilate.
    Até nossa música perdeu-se nas rimas doentias e chulas.
    Eu vou dar um FUI... gigantesco antes que alguém leu o alquimista me diga que PAULO BOSTELHO É UM GRANDE ESCRITOR.
    Filosofia

    Você quer mesmo saber
    como a vida se levar?
    Pois é... primeiro viver
    e depois, filosofar...

    Diz que é rico... Pode ser...
    Mas pode ser que não seja...
    Ser rico... é apenas poder
    fazer o que se deseja. . .

    Nessa eterna e dura lida
    renasço a cada momento
    lavando as dores da vida
    no rio do esquecimento...

    Onde o sonhar de outra idade?
    A fé que tive, e perdi?
    Hoje... chego a ter saudade
    daquele ... que já morri...

    (Poema de JG de Araujo Jorge
    do livro – Cantiga do Só – 1964)

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