sábado, 27 de novembro de 2010

O abandono da Zona de Leopoldina já soma umas três décadas

Sônia d'Azevedo
O abandono, pelo poder público, da Zona da Leopoldina do Rio de Janeiro, onde se localizam os bairros da Penha, Olaria, Ramos, Bonsucesso e outros, já soma umas três décadas.
Governos sucessivos priorizaram as Zonas Sul (turismo) e Oeste (especulação imobiliária). A Zona da Leopoldina, tradicionamente, era uma região industrial e bem importante. O quadro atual foi gerado pelo descaso, o abandono, o "virar as costas" do poder público aos contribuintes que sempre trabalharam, pagaram impostos, mas se calaram sempre, em vez de gritar, quando ainda era possível, sua indignação.
As indústrias se foram. Suas estruturas se transformaram em esqueletos abandonados depois invadidos, tornando-se moradias de migrantes e até mesmo imigrantes!

Precisamos lembrar, ainda, que o narcotráfico é uma indústria poderosíssima. E que o Rio não produz drogas. O Rio é rota que supre a Europa. Quem permite a entrada? Quem permite a saída? Quem permite o trânsito? Elementos que jamais viveram em morros e favelas! O mesmo se aplica às armas sofisticadas, utilizadas pelos narcotraficantes para intimidar os moradores das favelas e enfrentar as forças policiais.
Desta vez, houve inteligência, sim. E, por medida de precaução, as articulações foram feitas com a Marinha, não com o Exército... É preciso dizer por quê? Pessoas preparadas e inteligentes sabem o verdadeiro motivo.
Passei os últimos dois anos e meio trabalhando em Manguinhos (de frente para a Rua Leopoldo Bulhões, a famosa "faixa de Gaza" carioca). Os relatos e cenas que ouvi e vi, ali, são terríveis. Existem, de fato, "tribunais" do poder paralelo. Cidadãos sendo "condenados" porque, de alguma forma, se opunham ou contrariavam os chefes do narcotráfico.
Não me vou estender neste tópico. Digo, apenas, que "analisar tecnicamente" de longe é um exercício fabuloso. Sugiro aos investigadores especializados que residam ou trabalhem, de fato, nessas comunidades, convivendo sem regalias com todas as dificuldades ali existentes. E depois procurem enxergar, com olhar igualmente "especializado", "técnico", os motivos por que os cidadãos que lá residem estão aplaudindo a ação da polícia.
Essa ação, seguramente, está sendo articulada há cerca de um ano ou mais. Não podemos esquecer que, há quase um ano, um helicóptero da polícia foi derrubado sobre uma comunidade da Zona Norte do Rio. E ninguém apareceu para dizer que poderia ter caído sobre as casas de moradores inocentes...
Gosto muito de conversar com os moradores dessas comunidades. Ouvi-los e às suas misérias. Mas, para mim, isso não é assim tão difícil. Afinal, também resido em Olaria, a cerca de 4km do Complexo do Alemão. De minha casa, vejo os helicópteros e ouço os tiros. Por isso, entendo plenamente os (ainda) tímidos aplausos desses trabalhadores.
Sônia d'Azevedo, Jornalista
Igreja da Penha com favelas do Complexo do Alemão ao fundo. Foto: Custódio Coimbra

2 comentários:

  1. Bem, o papo de narcotráfico e vilência no Alemão parece que pararam, né? Até teleférico incluido no pacote turistico para gringo existe. Sobretudo, o papo envelheceu de violência e passou a sêr TransCarioca na Estarda do Engenho da Pedra e sua "revolução" apóis as desapropiações. Portanto, tudo muda e estác mudando.

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  2. Tudo que é ruim sempre pode piorar:

    http://videerrado.blogspot.com.br/2015/12/resumo-jornalistico-este-material-tem.html

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