domingo, 21 de novembro de 2010

O desprezo e os desprezíveis

Foi sem dúvida uma óptima ideia organizar a Cimeira da NATO em Lisboa. O Governo pôde banhar-se no alegado "prestígio", uma raridade nos tempos que correm. O Estado pôde exercitar a sua natural prepotência e enxotar a populaça da capital da nação. A nação pôde cumprir a vocação de Terceiro Mundo e entrar em stand-by a propósito de meia dúzia de reuniões. As reuniões contaram com a presença mística de Barack Obama, herói das massas. As massas, pelo menos as lisboetas, puderam gozar de uma folga imprevista. A folga distraiu uma economia arruinada. A economia arruinada pôde receber, a benefício do turismo, milhares de "activistas" anti-NATO, antiglobalização, anti-EUA, anticapitalismo, anti-semitas, antiguerra, anti-sabão, anti-trabalho, etc.
Porém, é de mim ou a afluência e a actividade dos "activistas" ficaram aquém do esperado? Na quinta-feira, duas dúzias de moços testaram, perante a indiferença da polícia, métodos de "desobediência civil". À hora a que escrevo, na tarde de sábado, uma manifestação desce a Avenida da Liberdade, deprimida por não conseguir enervar as autoridades apesar dos proverbiais gritinhos de "fascistas". Um site informativo refere milhares de participantes. Outro site refere centenas. As fotografias mostram a omnipresença de bandeiras do PCP e do Bloco de Esquerda, o expediente possível para disfarçar a ausência de estrangeiros em quantidade bastante para um protesto decente.

O que explica isto? Um patriota lembra a destruição que os amantes da paz espalharam em Estrasburgo ou em Seattle e não evita a indignação: a rapaziada anti-o-que-lhe-vem-à-cabeça desprezou por completo Portugal e Lisboa. Das duas, uma. Ou essa gente desenvolveu uma compaixão súbita e teve pena do desamparo em que nos encontramos ou apenas nos desprezou, na convicção de que não se estraga o que já está estragado.
Em qualquer dos casos, o caso dá que pensar. Chegou-se a tal ponto que já nem delinquentes nos acham dignos dos pandemónios em que se especializaram. O país desceu tanto que fugiu ao radar do crime ideologicamente motivado, e esta dúbia proeza é o único prestígio de que o eng. Sócrates se deve inequivocamente orgulhar.
Alguns dirão que o controlo das fronteiras impediu a entrada de maior número de "activistas". Na verdade, foram devolvidos uns duzentos e detidos uns vinte. Por tique nervoso, houve "activistas" a queixar-se da "repressão" do Estado português, coisa que o passivo contribuinte caseiro costuma experimentar a sério e em silêncio.
Alberto Gonçalves, Sociólogo, Diário de Notícias, 21-11-2010

Manifestação anti-NATO, Lisboa, sábado, 20 de novembro de 2011

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