sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O fracasso da política de Cabral é um sucesso

Tentando, só tentando, botar um pouco de ordem na barafunda. É claro que sou favorável às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Eu sou a favor, aliás, de tudo o que pacifique e não mistifique. O que tenho escrito aqui há quase dois meses, quando a bandidagem ainda fazia o obsequioso silêncio pré-eleitoral (por que acordou depois é um mistério bem-guardado até agora), é que não existe pacificação sem prisão de marginais. Para algum lugar, eu inferia, eles tinham ido, não é mesmo? Das três uma: a polícia do Rio pode prender os bandidos, matar os bandidos ou exportar os bandidos. Decretar a sua inexistência, bem, isso não era possível.

Foto: Gabriel de Paiva/O Globo
O mesmo se diga em relação às drogas. Como as UPPs eram anunciadas com antecedência — “Olhem que nós estamos chegando” — e como o objetivo não era pôr fim ao tráfico, mas torná-lo mais decoroso, não se apreendia um grama de nada. Nadica mesmo! Tanto é assim que o preço do bagulho se manteve.  Bandido não abre mão de sua margem de lucro. Se o “material” rareia e se há dificuldades logísticas para a oferta — ou mesmo impedimentos para a procura —, a margem se mantém de que modo? Elevando o preço. A lei de mercado, leitor, é a segunda natureza dos humanos — existe na legalidade e na ilegalidade. Se a ação de Cabral desafiava essa natureza, então ela não era o que dizia ser. É uma questão óbvia.

Pois não é que a Polícia anuncia que já aprendeu duas toneladas de drogas depois que a UPP do B — a Unidade de Polícia Prendedora — entrou em ação? Não só isso: 192 pessoas foram presas. E dou de barato, até evidência em contrário, que não estavam lendo Os Lusíadas quando isso aconteceu. Pelo menos 43 teriam morrido. Bem, dada a política anterior de Sérgio Cabral, cujo fracasso é um sucesso!!!, os quase 200 bandidos estariam soltos, e as duas toneladas de drogas, inundando o mercado.
O que estou deixando evidente é que a Unidade de Polícia Pacificadora como política de segurança pública é uma falácia, ainda que, atenção!, a presença do estado nos morros possa trazer alguns benefícios, coibindo delitos no dia-a-dia numa área em que a presença do estado é quase nenhuma. Reitero: é um fracasso COMO POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA! Bandido tem de ser preso. Drogas e armas têm de ser apreendidas. Sem prejuízo, obviamente, de se procurar ter uma base do estado nas comunidades.
As favelas do Rio precisam, sim, ser pacificadas. Mas, antes de tudo, precisam ser LIBERTADAS, essa é a questão. É preciso ser um tantinho inocente para não perceber o que estava em curso: uma política de acomodação e disciplinamento do tráfico, o que acabou resultado em  mão-de-obra criminosa ociosa. Ou bem ela vai para a cadeia ou bem vai fazer o que sabe: tomar na marra os objetos de seu desejo.
Nas entrevistas, Sérgio Cabral, agora muito pudoroso — não é aquele do palanque…— fala na dimensão histórica do que está em curso no Rio. E, nota-se, trata da bagunça como coisa já resolvida, já solucionada.  Não dá! Alguns leitores não entenderam o sentido daquele texto da madrugada em que afirmo que, até agora, está dois a zero para o óbvio. Quis chamar a atenção, ali, para o fato de que 1) há algum tempo vinha apontado a farsa que era a UPP na forma como vinha sendo vendida; 2) há muitos anos acho que as Forças Armadas têm, sim, de entrar nessa guerra — porque é uma guerra. E não é para matar, não!, mas para salvar vidas, libertar a população refém do narcotráfico.
Assim, dada a realidade, parece-me que as ações em curso procedem. E todos temos de torcer para que os bandidos sejam postos na cadeia. Mas isso não deve nos impedir de apontar que uma mistificação estava em curso. É simplesmente ridículo que Cabral tente vender as decisões de agora como uma simples continuidade do que havia. Beltrame prendeu mais bandidos ligados ao narcotráfico em três dias do que em quatro anos. E apontar esses desacertos é uma obrigação. Mais: o objetivo tem de ser, sim, eliminar o tráfico também nas áreas pacificadas; não existe um modo limpinho e higienizado de vender pó e maconha.
Todo apoio à prisão da bandidagem e às ações que buscam pôr ordem no Rio. Mas a gente não precisa parar de pensar só porque decidiu ser patriota.
Reinaldo Azevedo

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