domingo, 21 de novembro de 2010

Os brincalhões

Os cavalheiros que há umas semanas diziam que era essencial que o Orçamento passasse para que os nossos credores se acalmassem e que a sua viabilização era um imperativo nacional são os mesmos que vêm dizer que isso já não basta e que o Governo não pode por si só garantir a estabilidade política.

Mas, afinal, de que se queixa o Governo? O Orçamento não foi aprovado? Há algum problema negocial na especialidade? Existe algum sinal de que o PSD se prepara para fazer alguma maldade? Alguém ouviu algo que pusesse em causa a execução orçamental por parte do líder do principal partido da oposição?

Claro está que os apelos de alguns membros do Governo podem estar a ser mal interpretados. É muito provável que se- jam mensagens dirigidas a outros membros do Governo e do PS. Ouvindo, aliás, as declarações dum ministro que se confessa satura-do e de outro que põe em causa a permanência de Portugal no euro podia-se facilmente chegar à conclusão de que o chamamento à responsabilidade e à estabilida- de tem destinatários internos.

Podemos todos fingir que não sabemos quais são as verdadeiras razões para estes lancinantes apelos a entendimentos políticos, mas a realidade é tão evidente que se impõe ao mais distraído dos cidadãos: o Governo assume, de forma mais ou menos clara, que é incapaz de atingir os resultados que se propôs, e para os quais tem o apoio do PSD. Não quer, porém, perder a face sozinho. Na falta de sinais ou declarações que indiciem uma posição menos responsável dos sociais-democratas - o que, neste momento, os dirigentes socialistas não dariam por umas frases mais duras de Passos Coelho -, resolveram criar pela milionésima vez um cenário que visa co-responsabilizar o PSD pelo possível fracasso da execução orçamental.

Se, aquando da negociação do Orçamento ainda havia uma réstia de lógica - muito rebuscada, diga-se - na tentativa de imputar ao PSD responsabilidades dum eventual impasse político, desta feita, estas atitudes consubstanciam uma enorme e absoluta irresponsabilidade.

Numa altura em que o País atravessa uma das mais profundas crises da sua história recente, os membros deste Governo gastam o tempo em declarações absurdas, ateiam fogueiras, perdem-se em debates internos. Comportam-se como elefantes bêbados numa loja de porcelanas. 
Pedro Marques Lopes, Diário de Notícias, 21-11-2010

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