segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um PCP sem rumo

Álvaro Cunhal - de quem acaba de sair uma biografia íntima, de Adelino Cunha - foi coerentemente favorável à ditadura do proletariado, para impor o socialismo.Por isso apoiou a invasão soviética da Checoslováquia, em Agosto de 1968, indiferente ao movimento libertário que estalara em França em Maio desse ano. Nunca se conformou com o legado de Gorbatchov: fim da União Soviética e Rússia capitalista. Essa coerência merece admiração, desde que tivemos a certeza de que as suas ideias não nos esmagariam, ou seja, depois do 25 de Novembro de 1975.
Mas não imaginamos Cunhal a respeitar a ditadura militar da Birmânia (cujo único apoio parece ser hoje Pequim), ou a conformar-se com o novo capitalismo chinês. No entanto, Jorge Cordeiro, na linha oficial do PCP, acusou Francisco Louçã de anticomunista, no Avante!, por não ter comparecido perante o Presidente da China, na visita deste a Lisboa.
O PCP, sem Cunhal, já sem proletariado (que se aburguesou e, em geral, subiu às classes médias), anda mesmo sem rumo. À falta de socialistas, agarra-se aos ditadores, que lideram capitalismos mais cruéis que nunca. O que sustenta o eleitorado ao PCP não é mais a ideologia, mas o folclore - ajudado pela empatia de Jerónimo de Sousa. Já nem sequer tem a grandeza de uma ameaça.
Pedro d'Anunciação, jornal Sol, 26-11-2010

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