domingo, 21 de novembro de 2010

Quem quer casar com a carochinha?


Não, não vou escrever sobre a visita do Presidente Obama a Portugal, nem sobre a Cimeira da NATO. Gostamos provincianamente de tudo o que chega de fora e deixamo-nos facilmente iludir pelos tapetes vermelhos que são estendidos a tão ilustres figuras e pelas medidas de segurança extremas que são tomadas para os proteger das ameaças que por aí pairam. Ficamos embasbacados por sabermos que temos um primeiro-ministro que, afinal, fala um inglês que os americanos entendem e até invejamos ligeiramente a filha do ministro Amado que conseguiu tirar uma fotografia, no aeroporto, ao lado do homem que dirige a maior potência mundial. Aceitamos ser bombardeados pelas televisões com os preparativos para o grande evento, com o evento propriamente dito e até ficar com a sexta-feira estragada pelos cortes dos acessos a casa ou ao trabalho. Mas agradecemos, agradecemos bastante, que ao menos nos últimos dois dias não se tenha falado no défice, nas dificuldades que o País atravessa e na possibilidade de termos de apertar ainda mais o cinto para que possamos ter a credibilidade que nos falta junto dos demais europeus e do restante mundo que nos observa e de que tanto dependemos.

Somos assim. Periféricos até na forma como vemos o que chega de fora. Deliramos com o fausto que nos servem, lançamos os foguetes e apanhamos as canas. O pior é o dia seguinte. Depois da festa acabada, olhamos para o lado e já nada resta. O que temos pela frente não são os carros blindados do Obama, nem o interior do Air Force One e muito menos a atenção da imprensa estrangeira pelo papel central que desempenhamos na Aliança Atlântica ou na relação com os EUA. A realidade não é esta, é uma outra que exige os pés bem assentes na terra e a definição de prioridades a nível nacional.
Tem-se falado na hipótese de haver uma remodelação governamental. É possível que José Sócrates esteja a ser aconselhado a dar um novo impulso ao Executivo, demonstrando assim que não desiste à primeira dificuldade. O principal desafio que Sócrates tem pela frente é o de encontrar personalidades credíveis que aceitem o sacrifício de integrar um Governo que está como os iogurtes fora de prazo: azedo e coalhado. Dentro do PS, há inúmeras vozes que, em surdina, têm defendido que devem ocorrer mudanças. Talvez tenha chegado a hora de esses mesmos demonstrarem que estão dispostos a correr o risco de passar da palavra aos actos e de ajudarem o líder a enfrentar a tempestade que se aproxima em 2011. Se António Costa, António José Seguro, António Vitorino e Francisco Assis aceitarem essa missão, então outro galo cantará.
Maria de Lurdes Vale, Diário de Notícias, 21-11-2010

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