terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mercadante, Páris, Helena de Tróia e Safo de Lesbos

Aloysio Mercadante e Lula, foto: AD

Os petralhas, para não variar, estão torrando a minha paciência, perguntando quais são as minhas credenciais acadêmicas. Huuummm… Eles gostam tão pouco de mim que me acusam de estar com inveja até de Aloizio Mercadante!!! Já escrevi aqui e reitero: inveja eu tenho é do Brad Pitt e do George Clooney.
A única inveja decente de um homem é a do poder de atração de outros machos sobre as fêmeas, se me permitem reduzir a questão ao vocabulário de nossa natureza animal. Brad tem certo apelo “mocinha”, com suas caras e bocas, mas há Angelina, né?, que parece ter renunciado aos amores que Safo de Lesbos prodigalizava em poemas só para ficar com ele. Safo escreveu, aliás, o poema erótico mais quente da Antigüidade — e não era para um rapaz. Epa! Acabei me distraindo.

Antigamente, esse tipo de inveja dava em histórias com muito sangue. Praticamente fundou a literatura ocidental. A Ilíada nasce de um rapto. Páris, o troiano, brindado pelos deuses com uma beleza única, toma para si a também inigualável Helena, casada com Menelau, rei de Esparta. E pronto! Temos o poema épico. Não foi bem um rapto, né? Ela foi porque já estava “perdida”, como se dizia antigamente em Dois Córregos sobre a moça ou mulher que desse o mau passo. As mulheres podem até fantasiar — sempre no universo dos símbolos — com a disputa sangrenta dos machos pelo privilégio de visitar o seu leito: ao vencedor, o banquete! A gente dispensaria a batalha e se contentaria com a humilhação do perdedor. De volta à vida sem charme.

Quando, em 2006, na outra derrota eleitoral de Mercadante ao governo de São Paulo, denunciei o seu falso doutorado, já vieram com essa história da “inveja”. E indagavam: “Qual é a sua formação acadêmica, seu idiota (o xingamento varia)?”. Respondo o mesmo que respondi então. Estudei uma coisinha ou outra. Quem sabe, ok. A quem não sabe, agora não digo. Que fique assim: “Primário Incompleto”. Pronto! O curso mais importante que fiz até hoje foi o de datilografia — os superiores só me aborreceram por inferiores. Era obrigatório para os garotos da minha origem social, cujas mães nasceram analfabetas. Era pré-requisito para trabalhar em escritório, o que comecei a fazer aos 15 anos. Fiquei duas semanas no primeiro emprego. Mandei o dono tomar suco, achei o capitalismo uma droga e virei comunista. O pior é que ele tinha razão. Nenhum motivo será bom o bastante para você se tornar um esquerdista!

Com o advento dos computadores pessoais, a datilografia caiu de moda. Quase todo mundo usa dois dedos, no máximo quatro, numa velocidade que acho espantosa. Eu ainda tenho a destreza da antiga secretária exemplar, com os dez… Que fique registrado: o único diploma de que me orgulho é o de datilografia. Ele me basta para a disputa “sangrenta” com Mercadante, hehe…

É claro que não é o doutorado que faz o caráter, não é? Mas mentir é feio. E os petistas adoram fantasiar sobre suas credenciais acadêmicas. A própria presidente eleita já foi flagrada numa burla como essa. Chegará o dia em que também defenderá a sua tese à moda Mercadante, repetindo motes de campanha eleitoral e fazendo proselitismo o mais vagabundo e vexatório para um ambiente universitário? Em, Máximas de Um País Mínimo, afirmo que, no PT, que não tem diploma se orgulha de não tê-lo; quem se orgulha de tê-lo não o tem…

Não! Eu não tenho inveja de Mercadante, não! Sinto, por ele, a vergonha que ele não sente, compreendem? É a tal “vergonha alheia”. Por que, a esta altura da vida, ele precisa de uma láurea acadêmica sabidamente ilegítima, que lhe é conferida em razão de uma conjuntura política, a indicar a contaminação do ambiente acadêmico pela política a mais rasteira, o que não deixa de ser uma ofensa a outros que obtiveram o seu título depois de muito estudo, de muito esforço? Ora, para titulações dessa natureza, existem as honrarias “honoris causa”. Nesse caso, faz-se uma distinção que tem forte apelo político. Não! Ele quer fazer politicagem na universidade, mas ser reconhecido como acadêmico.

Inveja, ciúme, ressentimento, essas coisas, era aquilo que Menelau sentia de Páris, né?, cujos atributos para seduzir Helena eram reais e lhe haviam sido concedido pelos próprios deuses. Na Ilíada, a inveja do macho nascia, no fim das contas, da admiração. Como admirar Mercadante em seu patético momento?
PS - Sei… A partir do segundo parágrafo, boa parte não prestou atenção a mais nada e só quer saber qual era o poema safadinho da Safo… Mercadante consegue: quando ele é pauta, a gente só quer pensar em outra coisa.
Reinaldo Azevedo, 20-12-2010

Helena e Páris, pintura de Jacques-Louis David, 1788

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