segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O paraíso imaginário de Luiz Inácio Lula da Silva


J. R. Guzzo e Paulo Felske
De todos os presidentes que o Brasil já experimentou em seus 121 anos de República, provavelmente nenhum teve tanto sucesso em criar um mundo imaginário como Luiz Inácio Lula da Silva. Às vésperas de passar o cargo para a sua sucessora, Lula dá a impressão, pelo menos quando fala em público, de acreditar cada vez mais num Brasil que inventou na sua própria cabeça – um Brasil curiosamente parecido com o paraíso terrestre que se pode ver todos os dias na televisão, nos anúncios da Petrobrás, do Banco do Brasil e de outros agentes da propaganda oficial. É como se o presidente assistisse àquilo tudo, na sua poltrona do Palácio do Planalto, e acreditasse, realmente, que está olhando para um documentário com a imagem de fatos reais: casais felizes correndo com os filhos em gramados impecáveis, operários entusiasmados, transbordando de alegria em uniformes cortados sob medida e sem a mínima mancha de graxa, rostos de todas as raças com sorrisos luminosos nos lábios, máquinas de última geração, plataformas de petróleo em mar de almirante, fábricas do terceiro milênio, usinas espetaculares, todo um mundo de eficiência, operosidade e riqueza. O que mais? Mais tudo aquilo que bons diretores de filmes comerciais conseguem enfiar num anúncio de TV quando são encarregados de inventar uma vida ideal – seja para exibir a família em estado de adoração diante da margarina que vai consumir no café da manhã, seja para mostrar o cidadão comum sendo recebido numa agência bancária como um príncipe da Casa Real da Inglaterra.

Este é, hoje, o Brasil do presidente Lula – e o melhor, para ele, é a quantidade de gente que acredita a mesma coisa, ou algo parecido. Se o homem diz que o país vive uma época de ouro (“estamos num momento mágico”, informa ele), e tanta gente concorda, ou tão pouca gente se dá ao trabalho de discordar, por que não continuar com a mesma procissão? É exatamente o que Lula vem fazendo. Na verdade, em vez de apenas continuar, vai aumentando o conto. “Temos indicadores sociais dos países desenvolvidos”, disse ele tempos atrás – um fenômeno, realmente, em matéria de invenção direta na veia, quando se considera que o Brasil não tem simplesmente nenhum indicador comparável aos do Primeiro Mundo, um só que seja, em áreas fundamentais como educação, saúde, esgotos, transporte coletivo, criminalidade, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e por aí afora. Não tem competência, sequer, para montar um exame de escola como o Enem – mas Lula está convencido, e convenceu o público em geral, de que isso que se vê aí é o Brasil-potência. Da mesma forma, em sua última viagem à África, falou, ao passar por Moçambique, no prodigioso sucesso da política brasileira de ajuda aos países pobres. Justamente em Moçambique – onde o seu governo prometeu, num acordo assinado em 2003, doar aos moçambicanos uma fábrica de remédios que até hoje, sete anos depois, ainda não conseguiu produzir uma única pastilha contra tosse. Julga-se capaz, em encontros como o que acaba de ser feito pelo G-20 em Seul, de intimidar as grandes potências; voltou de lá, mais uma vez, sem que sua presença tivesse alterado coisa alguma.
Capa da revista "Veja", edição nº 2192
Lula sempre conseguiu tirar mais benefícios dos seus defeitos do que de suas qualidades; na construção dessas fantasias todas sobre o Brasil Grande, tem se mostrado capaz, também de construir fantasias sobre si mesmo e colocar-se sempre no papel de herói que “este país” nunca teve. Sua mais recente realização no gênero é dizer que foi “o primeiro presidente que teve coragem” de comprar um Airbus de última geração para a Presidência da República. Assim fica tudo muito fácil; se a compra do Aerolula é um ato de bravura, então não há nada que possa estar errado com o seu governo em geral e, menos ainda, com ele em particular. Nem o exame do Enem. Quando o desastre aconteceu, Lula disse que a prova tinha sido um “sucesso total e absoluto” e, como sempre, veio com suas ameaças sobre “gente interessada” no fracasso da sua política educacional. Quando, logo em seguida, achou que perdia mais do que ganhava ao sustentar um disparate desse tamanho, saltou fora de sua convicção sobre o “sucesso total e absoluto” e passou a dizer que o exame poderia ser refeito quantas vezes fosse necessário. E dai? A vida é essa. Como o burrinho pedrês de Guimarães Rosa, Lula nunca entra em lugar de onde não possa sair; seja lá o que diga ou o que faça, sempre resolve seu problema, se alguma coisa der errado, desdizendo o que disse ou desfazendo o que fez. É o mundo da imaginação.
J. R. Guzzo, revista Veja, edição nº 2192,  24-11-2010


Comentário de Paulo Felske
Mussolini e Hitler
Para mim, pobre proletário urbano, tive que aguentar o homem com a voz rouca, sua língua pleza, repetindo em tom de discussão e briga, aliás, como sempre : "... se a prova do Enem tiver que ser feita mais uma vez, será feita mais uma vez, se tiver que ser feita mais duas vezes, será feita duas vezes, se tiver que ser feita mais três vezes, será feita três vezes, se tiver que ser feitamais quatro vezes, será feita quatro vezes ..." e a solução naquele dia foi não ligar mais a TV. As pessoas estão tão anestesiadas; como ficavam com Hitler e Mussolini, que nem se dão conta do quão autoritárias são tais afirmações feitas continuamente e em tom desaforado.
 O povinho gosta de um paternalismo ... e só um pai ou uma mãe muito fora do sério para falar assim com um filho... aguenta... Propuseram mudar a data da fundação do Rio de Janeiro, para o dia em que o complexo de favelas do Alemão foi tomado pelas Forças Armadas e todas as polícias, Bope, militar e civil.
Eu não consigo entender como há tanto tráfico de drogas, que movimenta zilhões de reais, se eu não uso, nunca usei, e nunca vi ou soube de alguém usando.
Talvez eu não perceba com quantos viciados eu já lidei e não percebi, talvez eu esteja num conto da terra do nunca.
E pensar que as únicas vezes em que me ofereceram drogas na vida foi sempre quando eu passava pela Rua Augusta… em Lisboa... e a oferta era sempre em inglês, apesar de perceber que eram ciganos portugueses.
Paulo Felske
Rua Augusta, Lisboa. Foto: Luís Ponte

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