segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

As chuvas na região serrana – rotina de tragédias anunciadas

Ronald Santos Barata
Fenômenos climáticos que causam enchentes, deslizamentos e enxurradas produzindo mortes e destruição, tornaram-se rotina. Temos, no mínimo, uma catástrofe anual em vários lugares.  Felizmente não nos assolam furacões, tsunamis, vulcões, terremotos.

Foto: DR
Mas nossas tragédias, embora produzidas por causas naturais,  seriam minimizadas se não houvesse imóveis em locais claramente perigosos, se as encostas estivessem contidas e tivéssemos uma eficiente defesa civil. E, claro, se não houvesse super população nas cidades, não haveria necessidade de construções em áreas de risco. Tínhamos até os anos 1960, 55% da população no campo e 45% nas cidades. Hoje, inverteu-se. São apenas 16% no campo e 84% nas cidades. É, portanto, principalmente, uma questão política. Não se pode reduzir a intensidade das chuvas, mas podem-se criar condições de não acontecerem catástrofes. A exacerbada migração não ocorreria se houvesse formas de fixação do rural em seu ambiente, isto é, a tão decantada e sempre adiada Reforma Agrária. E condições dignas nas pequenas cidades.
Em 2008, o Estado de Santa Catarina sofreu os efeitos de fortíssimas chuvas. O morro do Baú, no município de Ilhota, com cerca de 10.500 habitantes, foi severamente castigado, mas não houve vítimas fatais. Em 2010, repete-se o problema e o Morro do Baú, desta vez, foi arrasado, sumiu do mapa. Deixou vários desabrigados. Agora, no início de 2011, aconteceram novas tragédias em vários municípios daquele Estado.

Chuvas fortes, seja em março, novembro ou janeiro têm causado graves transtornos principalmente nas regiões sul e sudeste, a exemplo do ano 2009.  Repetiram-se tragédias já havidas em anos anteriores. Na década de 1960 a cidade do Rio de Janeiro sofreu muito. Criou-se a Geotécnica e, de lá para cá, obras importantes foram feitas e as tragédias foram mitigadas. Entretanto, no Estado do Rio de Janeiro, não se pode comemorar nada. Em 2010, em Angra dos Reis e na Ilha Grande, houve 148 mortes. Em Niteroi, só no Morro do Bumba foram mais de 30 mortes. 318 mortes no Estado.
O governador Sergio Cabral estava viajando pelo exterior e o vice Pezão apareceu no lugar da catástrofe e declarou: “Esse é o momento de ver o que pode ser feito    para resolver a situação dessas pessoas.”  Essa estupidez não deve ter sido mal intencionada. Mas mostra o despreparo e o desprezo das autoridades.
Estamos dizimando a mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. Além de não se deixar construir onde não se deve, impõe-se fazer obras preventivas que respeitem a natureza das encostas, dos vales e dos rios. É fundamental impedir construções às margens dos rios e nas encostas. Mas o grande problema é a falta de uma política habitacional, em todo o país. Fenômenos naturais que atingiram países socialmente desenvolvidos e que respeitam a natureza, causaram transtornos, mas as tragédias foram bem menores que nos países descuidados.
Vendavais e tufões no Caribe atingiram Cuba, destruindo casas, indústrias e lavouras. Mas não houve nenhuma vítima fatal. Funcionou a prevenção. A recente tempestade-tsunami na Austrália, afetou uma área igual a dos estados de Minas Gerais e S. Paulo juntos, destruiu 30 mil casas e o sistema de eletricidade. Mas os helicópteros para socorro apareceram imediatamente. Área maior que a nossa região serrana, mas teve 25 mortos e menos de cem desaparecidos. Havia prevenção. Na região serrana, onde os mortos podem chegar a mil, o primeiro helicóptero só apareceu 72 horas depois.
Em agosto de 2005, o furacão Katrina, com ventos que alcançaram 280 km/hora, atingiu a extensa costa dos Estados Unidos que, naquele ano, já havia sido vitimada  por dez tempestades (sendo 4 furacões), destruindo casas, rede elétrica, plataformas petrolíferas etc. Foram evacuadas mais de um milhão de pessoas e houve mil mortes. O Tsunâmi de 2004 na Indonésia matou cerca de 300 mil pessoas. No Haiti, o país mais pobre do continente, o terremoto de janeiro de 2010 deixou  230 mil mortos, 250 mil feridos e 1,3 milhão de desabrigados;  os sistemas de serviços públicos, como água potável etc. ainda não foram recuperados e ainda há um milhão de desabrigados.
Portanto, há vários exemplos de gradação das desgraças. Todos oferecendo imagens aterrorizantes. Mas também há o belo: a solidariedade e apoio aos flagelados, prestados por cidadãos anônimos, empresas e entidades sociais. Os voluntários deram comoventes espetáculos da beleza da parte sã da criatura humana. Governos estrangeiros fizeram doações. Chegam a R$ 7 milhões os depósitos em contas bancárias abertas para ajudar. Seis empreiteiras doaram 2 mil casas. Nenhuma faz parte do grupo de beneficiárias que mamaram bilhões no governo Lula.
É preciso especialíssima atenção às crianças atingidas, que guardarão imagens drásticas por toda a vida, abalando-as moral e psicologicamente. As atenções e as obras de recuperação não podem ficar restritas às três principais metrópoles. Há que chegar aos seus distritos, às cidades menores atingidas e às áreas isoladas.
Friburgo, Petrópolis e Teresópolis já haviam mapeado 10 mil casas em mais de 220 áreas de alto risco, sujeitas a deslizamentos, enxurradas ou enchentes. Inclusive em áreas de proteção ambiental. Fica evidente a deficiência de atuação de órgãos responsáveis como o IBAMA, federal, e o estadual INEA. As novas edificações certamente observarão as recomendações dos geólogos, mas devem ser fiscalizadas por esses órgãos. Felizmente o Ministério Público Federal e entidades civis como OAB, associações etc., vão fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros cedidos por órgãos públicos e  particulares. Mas é preciso não esquecer sistemas de alerta e alarme.
Ronald Santos Barata

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