terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sem surpresa, nem emoção

Cavaco Silva, Lisboa, 21 de janeiro de 2011. Foto: José Manuel Ribeiro/Reuters

1. Exceptuando a sua primeira vitória em eleições legislativas (1985, com maioria relativa), Cavaco Silva nunca teve tão poucos votos. Mas também nunca venceu com tanta vantagem, e percentagem. Portanto, pode dizer-se que passou sem dificuldade este pró-forma da reeleição, marcado por uma difícil experiência pessoal (à volta do caso BPN), e parte para o segundo mandato com toda a legitimidade política que um Presidente da República pode, e deve, ter. O pior de ontem para ele foi o discurso, de novo justificativo e de auto-elogio, em que não foi capaz da grandeza política que, do ponto de vista partidário, pontuou as palavras de José Sócrates e de Passos Coelho.
2. Obviamente, não podia haver surpresa. Para isso era preciso, pelo menos, uma alternativa (a Cavaco Silva) - e nestas eleições ela não existia. Para a grande maioria dos eleitores portugueses, moderados, aqueles que sempre determinam quem ganha (legislativas e presidenciais), Manuel Alegre e o Bloco de Esquerda eram um perigo a exorcizar. Traziam uma mensagem anti- -União Europeia, antieconomia de mercado, antialianças tradicionais. Anti tudo aquilo que é marca distintiva da democracia portuguesa, sendo que Manuel Alegre abandonou de livre vontade o único estatuto "anti" que lhe interessava: o de candidato anti-sistema instalado. E, portanto, não tendo havido capacidade do PS (nem muita vontade...) para gerar uma alternativa sólida no centro esquerda, o único perigo para Cavaco Silva vinha da abstenção, que continua a crescer e deve merecer uma análise substantiva por parte do sistema político e dos seus actores.
3. Cavaco ganhou sem paixão, e Alegre perdeu com estrondo. Mas, para além disso, Fernando Nobre tem razões para se sentir minimamente satisfeito e, acima de tudo, a sociedade portuguesa deve interrogar-se porque é que um inimputável como José Manuel Coelho, cujo programa era chamar "corrupto" e "ladrão" aos mais importantes titulares de cargos públicos sem motivar qualquer reacção, pode chegar a ter 190 mil votos, com certeza quase todos ganhos ao abstencionismo!
João Marcelino, Diário de Notícias, 25-01-2011
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