domingo, 27 de março de 2011

Afinal, onde fica o Piauí?

O Estado do Piauí assinalado no mapa do Brasil
Um ator que iria apresentar uma peça no teatro da Assembléia do Piauí resolveu repetir piada atribuída a um comediante e afirmou em sua página no Facebook que, se o mundo tinha cu, então ficava em Teresina. Pegou mal. Ele retirou a mensagem, desculpou-se, até deu sumiço, parece, no seu perfil. Não adiantou! A corrente dos indignados e ofendidos cresceu, exigindo providências das “autoridades competentes”. Fábio Novo (PT), presidente da Assembléia do Piauí, com a concordância da Mesa Diretora, decidiu suspender a autorização para a apresentação do espetáculo. Muito bem, coroné!!!
Escrevi a respeito. Não endossaria o conteúdo da piada que ele fez se piada não fosse! A retaliação é absurda e ilegal. Escrevi a respeito aqui. Os botocudos, então, decidiram voltar-se contra mim, atribuindo-me, como é hábito das supostas vítimas triunfantes no papel de algozes, o que não disse. O próprio Fábio Novo resolveu tirar uma casquinha, publicando uma “carta aberta” a Reinaldo Azevedo… Santo Deus! Tenta seus 10 minutos de fama. Volto a ele daqui a pouco.
Escrevi o óbvio: as pessoas têm o direito de dizer o que bem entendem, e aqueles que não gostam do que é dito podem e devem se manifestar. Boa parte dos que resolveram entrar no blog para me atacar desferiu impropérios contra São Paulo e os paulistas, como se eu fosse representante de um estado! Vão se danar! Eu não represento ninguém e não reconheço a essa gente autoridade intelectual, moral ou política para falar em nome do Piauí. Até o tal Fábio Novo, que é deputado, representa não mais do que seus eleitores, embora tenha se comportado como o dono do teatro e da Constituição da República Federativa do Brasil, que assegura a liberdade de expressão nos Artigos 5º e 220º.
A nossa tolerância com a liberdade do outro é testada justamente quando este outro diz o que julgamos repulsivo ou inaceitável. Se ele não estiver fazendo a apologia do crime ou promovendo-o, ninguém tem o direito legal de molestá-lo. O rapaz não se referiu nem mesmo ao povo de Teresina, mas à cidade. E estava claro que fazia uma piada.

Se o tal ator cometeu um ato inaceitável ao chamar Teresina de “cu do mundo”, em que seriam diferentes dele os tontos que atacam São Paulo com o objetivo de me agredir? Respondo: ele fazia um gracejo, por mais infeliz que fosse; estes outros pretendem falar a sério, cavalgando seu ódio mesquinho, seu ressentimento pueril, seu orgulho mixuruca. Em suma: eles são de fato aquilo que dizem combater! Falem de São Paulo o que  bem entenderem! Eu não dou pelota! Já escrevi aqui e repito: se, a exemplo de Samuel Johnson, considero “o patriotismo o último refúgio dos canalhas”, acho o regionalismo o “último refúgio dos canalhas caipiras”. Nas conversas que tive com leitores Brasil afora, eles sabem disso, sempre fiz pouco caso desse sentimento de patota. A cidade, o estado ou o país onde se nasce são uma questão cartorial. Eu, por exemplo, nasci na Fazenda Santa Cândida. Sou de lá. É a minha pátria! O resto é injunção política que depende da vontade de estranhos.
Bandeira do Estado do Piauí
Eu escrevo para pessoas alfabetizadas. Ao me referir ao Piauí, afirmei que sabia pouco  sobre o estado além dos dados do IBGE — e eles não são nada abonadores! Esses bobocas indignados que me escrevem, já que estão em busca de uma causa, deveriam é tentar melhorar aquela situação miserável. Do que tanto se orgulham? Fiz elogios a pessoas nascidas no Piauí. Lembrei que Mário Faustino, o mais elaborado poeta do século 20, é piauiense. É bem provável que os indignados não conheçam o que de melhor a terra que tanto amam produziu nas letras nacionais. Faustino não foi um gigante da literatura piauiense, mas da poesia brasileira em qualquer tempo. Em “Contra o Consenso”, meu primeiro livro, dedico um longo texto à sua obra. ATENÇÃO, PIAUIENSES INQUIETOS: APRENDAM COMIGO O QUE O PIAUÍ CONSEGUIU FAZER DE VERDADEIRAMENTE GRANDE! Cliquem  aqui. Se vivo fosse, cosmopolita como era, imagino o que não diria dessa bobajada! O Piauí não precisa me dar um título de cidadão honorário por isso…
Fábio Novo
O deputado Fábio Novo (PT), o censor, presidente da Assembléia, resolveu me dirigir uma carta aberta. Leiam os dois primeiros parágrafos:
Lamento que como jornalista, eu também me formei na área, aprendi que um fato deve ser apurado ouvindo as partes envolvidas. Você não me ouviu no episódio Marauê e portanto, deixou de ser jornalista para tomar partido de um fato que ouviu dizer por terceiros. Assim feriu de morte o principio da informação com imparcialidade;
Taxar de censura, ato administrativo da Assembleia Legislativa do Piauí, que retirou de pauta a apresentação do espetáculo, é uma afirmação injusta pelo não conhecimento dos fatos e das leis. Senão vejamos:”
Jornalista? É! Ele quer me ensinar os segredos da profissão. Que bom que decidiu ser político, carreira em que se pode ir muito longe com uma alfabetização rudimentar. Se algumas regras elementares da gramática fossem pessoas, Novo seria um homicida em massa. A cereja de seu bolo retórico está em “taxar de censura…” Eu não “taxei” nada! No máximo, poderia ter “tachado”, com “ch”, apontado uma “tacha”, um “defeito”, uma “desonra”. “Taxa”, meu senhor, é aquela coisa que se paga no guichê. O mundo é diverso! O Piauí já produziu Mário Faustino e Novo! Se a língua portuguesa fosse um corpo, a de Faustino seria o cérebro. Já a de Novo…
Quantidade espantosa de bobagens
O pensamento politicamente correto e o ressentimento querem esmagar a liberdade de expressão no Brasil. Em sua carta, o deputado Fábio Novo tenta explicar por que ele e seus pares suspenderam o espetáculo. Quando leio seus pobres argumentos e penso na Primeira Emenda da Constituição dos EUA, eu me dou conta da nossa miséria intelectual. Leiam:
“Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the Government for a redress of grievances.”
Atenção! Não se trata de uma simples garantia da liberdade de religião, da liberdade de expressão e de imprensa, do direito do povo de se reunir e de encaminhar petições ao governo para reparar injustiças. É MAIS DO QUE ISSO: O CONGRESSO ESTÁ IMPEDIDO DE VOTAR LEIS QUE LIMITEM ESSES DIREITOS, ENTENDERAM? De tal sorte eles são considerados inegociáveis, que não se admitem leis restritivas de nenhuma natureza.
Por aqui??? Pobres de nós! Qualquer deputadozinho acha que, “em nome do povo”, pode suspender um espetáculo. E ainda diz estar agindo em defesa da cidadania e contra o preconceito!
Vocês entendem por que o governo federal mete a mão grande na Vale, uma empresa privada, e diz quem pode e quem não pode dirigi-la, sem que isso provoque um escândalo? No Brasil, os direitos individuais são considerados filhos bastardos do Estado, que tudo pode. Eu escrevi um artigo contestando a suspensão da peça, não contra o direito de protesto daqueles que se sentiram ofendidos. Afirmei que a gritaria era coisa de “caipiras ressentidos”, não que os piauienses  fossem caipiras ressentidos. Mas e daí? Eles lêem o que querem e buscam justificativas inexistentes para linchar os críticos. A levar a sério os protestos, devo considerar que não há melhor lugar no mundo para se viver do que o Piauí, que só perde para Alagoas em analfabetismo, que está em 18º lugar no ranking da mortalidade infantil, em 24º no da expectativa de vida e em 27º — o último — no PIB per capita.
Criticar o Piauí não é só um direito, não! Também é uma obrigação! Pode-se lastimar a qualidade da crítica. Mas a Constituição proíbe que se tente proibi-la! E eu não vejo uma boa razão para que a Constituição não valha também no Piauí. 

Segue em vermelho o restante da carta do deputado Fábio Novo (ver post acima),  presidente da Assembléia Legislativa do Piauí. Respondo em azul.
1) Na manhã de ontem, o setor de comunicação da Assembleia recebeu quase 2 mil e-mails, além de 478 telefonemas. Muitas pessoas foram pessoalmente a Assembleia Legislativa do Piauí, solicitar o cancelamento do espetáculo, devido a repercussão negativa da frase proferida pelo ator. Isto sem falar na ampla repercussão na imprensa local e pelas redes sociais;
E daí? Nada disso me impressiona ou autoriza um ato discricionário. O fascismo era popular. Os linchamentos costumam ser expressões de grupos indignados. Nem o povo tem o direito de rasgar a Constituição!
2) O art. 3º da Constituição do Estado do Piauí reza que a Assembleia Legislativa é a guardiã da Carta maior do Estado e que é prerrogativa do Legislativo zelar pelo seu cumprimento. O inciso III do artigo 3º estabelece como objetivo fundamental do Estado “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” e por ser papel da Assembleia Legislativa do Estado do Piauí zelar pelo respeito e cumprimento da sua Constituição;
Falar mal de Teresina, ainda que tivesse sido a expressão séria de um pensamento, o que é mentira, não fere o Artigo 3º da Constituição do Piauí. Ademais, quem outorgou ao senhor prerrogativas de juiz? A expressão de um pensamento é coisa muito diferente da promoção de preconceito.
3) O Regimento Interno da Assembleia Legislativa estabelece como papel da sua Mesa Diretora guarda e a administração do patrimônio físico daquela Casa Legislativa, estando, portanto, o seu Cineteatro enquadrado dentre este patrimônio. Não seria pedagógico, portanto, que as instalações de um prédio pertencente ao patrimônio da Assembleia legislativa do Estado do Piauí, pudesse ser utilizado por alguém que acabara de fazer, publicamente, na rede mundial de computadores, apologia ao preconceito e discriminação ao Estado do Piauí e ao povo de Teresina.
Apologia do preconceito uma ova! Qualquer brasileiro tem o direito de achar Teresina, São Paulo ou a Capela Sistina o “cu do mundo”. “Não seria pedagógico”? No Piauí, só se admite a liberdade de expressão se ela for “pedagógica”? E quem tem o monopólio desse juízo?
4) Não cabe falar em censura neste caso, pois a Casa do Povo, sensível às inúmeras manifestações da população, atendeu aos apelos do povo do Piauí. Censurar significa o exame prévio ou posterior de uma peça teatral. Isto nunca ocorreu no Cine Teatro da ALEPI. Em nenhum momento, se discutiu o conteúdo do espetáculo, tanto é que ele estava pautado.
Pois é! E você acha que, por isso, é menos grave? É pior, então, do que na ditadura! Nem ela ousou proibir um espetáculo em razão da opinião que um ator ou autor tivessem fora do espetáculo!
5) O ato administrativo da Assembleia do Piauí foi sereno, responsável e pautado na legislação vigente. Com os ânimos acirrados no Estado, e sob forte pressão da população, pensando na integridade física dos próprios atores e ainda na preservação do patrimônio público o razoável seria o cancelamento da pauta. E assim o fizemos, por decisão não do deputado Fábio Novo, mas por unanimidade dos membros da Mesa Diretora do Poder Legislativo.
Quando você decidir estudar um pouco, Novo, verá que alguns inquisidores ficavam rezando pela alma da vítima que tinham condenado à fogueira para que ela se livrasse do… fogo do inferno. Louvo o seu cuidado e o de seus pares. No máximo, vocês deveriam ter pedido proteção policial especial se havia risco de tumulto.
6) Ao pedir desculpas ao povo do Piauí, Marauê complicou ainda mais sua situação, pois declarou que a frase usada seria “uma expressão cultural do Piauí.” Se não bastasse, justificou sua tonteria desferindo outro preconceito e discriminação, agora contra o povo de Campinas(SP), ao dizer que “quem bebe da água de Campinas se torna homossexual masculino ou feminino.”
Ele que se dane com suas tolices. Está pagando um preço alto por elas.
7) Em nenhum momento proibimos a apresentação do ator em outro local. A produção poderia ter encaminhado nesse sentido. É bom ressaltar que contratos publicitários agendados com várias empresas que pretendiam usar a imagem dos atores foram cancelados, devido à repercussão negativa da frase infeliz. Enfim não havia mais clima para a apresentação do espetáculo no Estado, tanto é que os mesmos, deixaram o Piauí nesta madrugada.
Novo diz que não proibiram a peça em outros locais como se alguém, no Piauí ou no Brasil, tivesse autoridade para fazê-lo. Pede que reconheçamos a sua generosidade ao não fazer o que a lei proíbe que ele faça!
Por fim, não somos “caipiras ressentidos”, mas sim piauienses com muito orgulho de ter como característica a boa hospitalidade. Caetano Veloso já cantou isso. Também somos firmes quando a ocasião exige, foi assim em 1823 quando em Campo Maior os piauienses foram os únicos brasileiros que derramaram sangue em favor da consolidação da independência do Brasil, através da Batalha do Jenipapo, ao expulsar as forças do comandante Fidié, que insistia em não reconhecer a independência das terras de Vera Cruz
Um abraço!
Fábio Novo, ator, jornalista e atualmente no exercício do mandato de Deputado Estadual
Eu não exalto a hospitalidade dos paulistas porque conheço os hospitaleiros e os hostis. Folgo em saber que, no Piauí, a “boa (sic) hospitalidade” chega a 100%. Eu sempre fui grato à Batalha do Jenipapo, quando o Piauí salvou o Brasil.
Às vezes, chego a sentir saudade do tempo em que as esquerdas, em nome do humanismo (era tudo cascata, eu sei),  diziam-se internacionalistas. Não faz muito, antes de o PT chegar ao poder no Piauí, eram elas a denunciar as mazelas econômicas e sociais do estado. Agora, tentam calar os críticos em nome da história!
Texto: Reinaldo Azevedo
Título e Edição: JP
Brasão do Estado do Piauí

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