sábado, 26 de março de 2011

Barack Obama: o triste fim de um mito


Quem passou pela Terra de Cabral um dia desses foi um tal Barack Hussein Obama, que, dizem, é o presidente dos EUA. Foi recebido com festa pelos nativos, que o adularam com salamaleques oficiais na capital. Para não perder a viagem, ele aproveitou para passear no Rio de Janeiro, onde, entre um discurso histórico e uma pose histórica da família histórica, o presidente histórico fez um pouco de turismo. Enquanto isso, um grupo de crianças de uma ex-favela (agora se chama "comunidade") lhe entretiveram e à primeira-dama Michelle e suas filhas dando saltos mortais e fazendo piruetas. Na próxima, vão chamar um grupo de funk.
Alguém teve a brilhante idéia de que, ao colocarem as mãos no chão e darem cambalhotas, os meninos e meninas do Morro Dona Marta estariam exibindo algo genuinamente "nacional", a fina flor de nossa cultura, esses papos, enfim. Se tivessem declamado Goethe ou Shakespeare, ou exibido bons conhecimentos de ciências e matemática, não seria a mesma coisa. Afinal, gringo gosta de ver coisas exóticas, como o samba e a macumba, ou o rebolado de nossas mulatas. Além do mais, é nossa sina. Parece que os brasileiros têm certa dificuldade em permanecer em posição ereta diante de Obama.
Estava previsto inicialmente que Obama faria um discurso na Cinelândia. A idéia, certamente saída do cérebro de algum gênio do marketing político, foi, felizmente, abandonada. Parece que alguém na comitiva obamista lembrou que os brasileiros não entendem inglês. Mas não poderia haver tradução simultânea, por meio, sei lá, de um telão com legendas em português? Poderia, claro. Mas aí alguém deve ter lembrado que os brasileiros não sabem ler em nenhuma língua.

A visita de Obama foi também uma oportunidade para confirmar aquilo que sabemos há, pelo menos, oito anos: que o Brasil, finalmente, é um país importante, cujos líderes são respeitados mundialmente. Chegou a hora, pensaram os anfitriões, dessa gente bronzeada mostrar seu valor, provando aos gringos que somos iguais a eles e que estamos no mesmo nível. Imaginem Lula ou Dilma Rousseff falando aos americanos no Capitólio ou na Times Square. Imaginaram?
(Nota à margem: Lula não foi ao almoço oferecido em homenagem a Obama pelo Itamaraty em Brasília. Deve ter pensado que o lugar não comportava dois demiurgos e reformadores do mundo. Afinal, cerimônia em que ele não discursa não vale. Essa peça é somente para um ator.)
No final, Obama não mostrou seu queixo de estátua na Cinelândia, mas num palco um pouco mais acanhado, o Teatro Municipal. Não haveria lugar mais adequado. Afinal, o homem é um ator, e dos bons. Obama, como já sabem mais de 70% dos americanos que, a essa altura, querem vê-lo despejado da Casa Branca, não passa de uma operação de marketing, a mais gigantesca de que se tem notícia. Lá de onde ele veio, apenas uma minoria ainda acha que ele é algo mais do que isso, e ainda compra seus slogans. Há alguns meses, ele sofreu um duro revés, com a derrota esmagadora do Partido Democrata nas eleições legislativas americanas. Nos EUA, não falta quem levante dúvidas sobre seu passado, e inclusive questione se ele é cidadão nato norte-americano. No Brasil, porém, onde as coisas sempre chegam com certo atraso, ele goza de ampla simpatia. Eu disse simpatia? Eu quis dizer devoção. Tietagem. Oba-oba.
O Brasil é mesmo o lugar certo para Obama. Como demonstraram pela enésima vez os petistas - um grupo chegou mesmo a ensaiar um protesto contra o representante do "imperialismo ianque" -, somos mesmo incapazes de manter uma relação adulta com os EUA. Não conseguimos ainda superar a esquizofrenia, passando do antiamericanismo rombudo à adulação servil. No caso de Obama, às vezes as duas coisas se confundem.
No discurso - histórico, claro - do Municipal, perante uma platéia selecionada de políticos e atores da Globo, Obama desfilou todo seu charme e elegância, arriscando algumas palavras decoradas em português de marinheiro gringo e mostrando toda sua desenvoltura de animador de auditório - aliás, eu vi, juro que vi, uma jornalista derramando-se em elogios a Obama, descrevendo seus dotes de animador de auditório (ela usou essa mesma expressão, "animador de auditório"), como se fosse uma coisa boa! Desconfio que, se em vez de discursar ele tivesse sapateado ou feito malabarismo, ou cantado My Way de Frank Sinatra, o efeito teria sido o mesmo sobre a patuléia embasbacada. Para fechar com chave de ouro, ele encerrou o discurso citando uma frase de significado profundo de um grande pensador e intelectual brasileiro, um nome capaz de deixar Mark Twain e Ralph Waldo Emerson no chinelo: Paulo Coelho.
Ninguém percebeu, hipnotizados todos que estavam pela lábia obâmica, mas Obama repetiu, no Rio, a mesma mentira histórica com a qual começou seu discurso oficial em Brasília. Em ambas as ocasiões, ao elogiar sua anfitriã, ele avalizou uma fraude, afirmando que a luta no passado de pessoas como Dilma Rousseff foi o que permitiu aos brasileiros desfrutarem hoje de uma democracia. Alguém precisa informá-lo de que a "luta pela democracia" de Dilma Rousseff deu-se nas fileiras da Vanguarda Armada Revolucionária e da Vanguarda Popular Revolucionária, grupos terroristas que desprezavam a democracia e queriam implantar o comunismo no Brasil. Das duas, uma: ou Obama não sabe nada de História (assim como a maioria dos brasileiros), ou sabe, e nesse caso considera que explodir bombas e assassinar pessoas pelo comunismo é uma coisa boa.
Mas o momento culminante da jornada carioca de Obama foi sua visita ao Corcovado. Lá, ele posou, com seu sorriso de mil dentes, ao lado da estátua do Cristo Redentor. Naquele mesmo dia, jatos e navios dos EUA iniciaram uma campanha devastadora de bombardeios à Líbia. Imaginem o efeito de relações públicas no Oriente Médio: o presidente do Satã imperialista ocidental posando para fotografias tendo como pano de fundo um símbolo cristão no mesmo dia em que ordenava um ataque a um país muçulmano... George W. Bush quase foi crucificado, sem trocadilho, porque usou a palavra "cruzada" para se referir à "guerra ao terror" (expressão, aliás, que não quer dizer nada) após o 11 de setembro. Foi atacado por todos os lados, principalmente pela esquerda, como instigador do ódio religioso etc. e tal. Já Obama fez o que fez, e é enaltecido como campeão da tolerância e do respeito à diversidade. A essa hora, a foto dele ao lado do Cristo já deve estar circulando em sites de fundamentalistas islâmicos, como prova de que os EUA estão mesmo em guerra com o Islã.
Por falar em Oriente Médio, é lá que o mito Obama tem sido enterrado nesses dias. Começou no Egito, com Obama dando a senha para o caos, ao virar as costas a Hosni Mubarak sem se importar com as conseqüências. Seguiu-se uma onda de revoltas "espontâneas" em países como Iêmen e Líbia. Neste último país, onde o ditador Kadafi reagiu com fogo e bombas a uma rebelião armada, que logo degenerou em guerra civil, Obama não mostrou nem a sombra da determinação que teve ao pedir a saída imediata de Mubarak do poder no Egito. Somente quando França e Reino Unido deixaram claro que iriam atacar Kadafi é que ele, Obama, mudou de idéia.
Há alguns dias, o Barein, assolado por manifestações violentas dos xiitas, quase certamente instigadas pelo Irã, pediu e conseguiu ajuda militar da Arábia Saudita, que prontamente enviou tropas e tanques para o país vizinho. Sem que Washington sequer fosse consultado. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Pela primeira vez, também, os EUA se colocaram a reboque de Paris e Londres numa campanha militar - e contra um tirano asqueroso que continua a chamar Obama, apesar dos bombardeios, de "meu filho amado". O declínio do poder americano parece real.
Ou Barack Hussein Obama diz o que diz e faz o que faz por inépcia, e é, portanto, um idiota, ou o faz de caso pensado, e é alguém que age conscientemente para minar o poder americano e, por conseguinte, a segurança do mundo. Em qualquer caso, é uma farsa e um desastre total. Já está pronto para ser presidente do Brasil.
Imagem e Texto: Gustavo Bezerra, Blog “Do Contra”, março 2011

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