domingo, 27 de março de 2011

Eleições em Portugal: "um mal económico e um bem social"

1 Estas eleições que Cavaco Silva vai determinar nos próximos dias são um mal económico e um bem social.
São um mal económico porque Portugal ganharia, nesta dramática conjuntura, em estar politicamente unido para evitar problemas de tesouraria nos meses que se seguem. As colocações de dívida, de que necessitamos para sobreviver, ficaram ainda mais difíceis e, sobretudo, acrescentou-se maior incerteza à já pouca confiança que os investidores têm na frágil economia portuguesa e na sua liderança política. A maioria dos cidadãos, apesar da discussão pública destes últimos meses, ainda não tem uma ideia clara do que nos pode suceder em caso do pior dos cenários...
Mas essas eleições também são um bem social porque estando o clima partidário tão crispado em torno do primeiro-ministro, José Sócrates, elas abrem uma janela de oportunidade para uma reflexão colectiva sobre o Governo necessário para que o País descole da situação actual. Daqui a dois meses o Presidente da República terá - sem falta - de empossar um Governo maioritário. Qualquer líder que queira posicionar-se para o dirigir terá de mostrar agora a capacidade de unir. Não acredito que as próximas eleições premeiem quem, na condição de candidato a primeiro-ministro, eventualmente as venha a enfrentar com o estado de espírito de um homem que tenha contas a acertar com o destino. Este não é o tempo para isso. O discurso de Estado e as ideias claras devem prevalecer a bem do País.

Pedro Passos Coelho
2 Pedro Passos Coelho parte em vantagem na corrida a São Bento, mas deve ser frontal se quer mostrar ser mesmo diferente. Tem de dizer, com clareza, qual o caminho que pretende trilhar no campo da recuperação financeira, da modernização económica e da reorganização do Estado. Todas as medidas que um eventual Governo dirigido pelo PSD porá sobre a mesa devem ser referidas de forma crua. Este é o momento para praticar o discurso da verdade que o partido tem defendido tantas e tantas vezes nos últimos anos. Não pode haver hesitações, como na recente polémica do IVA. Os eleitores têm de saber com o que contam.
3 José Sócrates, por seu lado (e só há dois candidatos a primeiro-ministro), deve pensar duas vezes antes de definir o percurso. Vai, com certeza, combater em volta daquilo que considera "uma injustiça", o chumbo das medidas que quis impor sem discussão e sem olhar ao carácter minoritário do seu Governo. Cometerá, contudo, um tremendo erro se não adoptar um discurso que lhe dê hipóteses de ser ele a dirigir o imprescindível Governo de maioria parlamentar que é necessário.
À partida, e depois destes seis anos, o PS está dispensado de sonhar com uma maioria absoluta. Mesmo a possibilidade de uma vitória (francamente muito difícil...) apenas fará sentido se, depois, houver capacidade para gerar um consenso alargado (que, com razoabilidade, só poderá ser conseguido com alianças à direita).
O caminho é estreito para José Sócrates e para o PS e aconselha a uma análise realista da situação. Tenho dúvidas de que o partido que ontem enviou Edite Estrela na delegação a Belém esteja em condições de esquecer desconchavos e pensar grande...
João Marcelino, Diário de Notícias, 26-03-2011

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