quarta-feira, 23 de março de 2011

Pinpoo foi achado

A saga do vira-lata despachado por avião que sumiu por 15 dias – e foi achado
Pinpoo em Porto Alegre, na tarde de quinta-feira, 17 de março.
 Ele passou 15 dias desaparecido.
 
Rodrigo Turrer
A história do cachorro que escapou de uma gaiola trancada e dos seguranças do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, como se fora o mágico Harry Houdini terminou como um bom filme de bichinho no estilo Lassie: com final feliz. Na última quarta-feira, depois de 15 dias desaparecido, Pinpoo voltou para os braços de sua dona, a aposentada gaúcha Nair Flores. Ele foi encontrado quando rondava o batalhão da Polícia Militar vizinho ao aeroporto. O fugitivo ainda resistiu à abordagem dos guardas, mas se rendeu diante de um suculento frango assado.
A saga de Pinpoo começou no dia 2 de março. Nair Flores, de 64 anos, embarcava para Vitória, no Espírito Santo, num voo da Azul e fez questão de levar seu cão, um vira-lata descendente das raças pinscher e poodle, mistura resumida no nome Pinpoo. No check-in, Nair descobriu que não poderia levar o cãozinho de 11 meses, que tem peso acima dos 9 quilos permitidos pela empresa. Embarcou sem ele, e o advogado Euclides Motta Paz, de 81 anos, seu tio, despachou Pinpoo pela Gol Log – empresa de transporte de carga da companhia aérea Gol. Ele comprou a gaiola apropriada em uma loja do aeroporto, por R$ 165, e pagou a taxa de embarque de R$ 684. “Entreguei o cachorro na caixa trancada, e eles prenderam a grade na minha frente, com dois lacres de plástico”, diz Euclides. Uma hora e meia depois, ele foi avisado do sumiço do cachorro. Nair recebeu a notícia em Minas Gerais, onde esperava uma conexão. “Informaram pelo alto-falante que um cachorro havia sido perdido em Porto Alegre”, diz Nair. “Fiquei desesperada.” Voltou para Porto Alegre assim que pôde, quatro dias depois.
 Como Pinpoo conseguiu fugir? Segundo a Gol Log, o animal forçou a grade da caixa de segurança e escapou. A empresa diz que foi a primeira fuga em mais de 100 mil animais transportados. Divulgou fotos de Pinpoo pela internet e as espalhou em paradeiros prováveis. Dona Nair também se aventurou atrás de Pinpoo. Para tentar atrair o cão pelo cheiro, espalhou peças das próprias roupas por árvores no bairro de São João, próximo ao aeroporto. Nas andanças pelo matagal, torceu o tornozelo.
Na última terça-feira, a trama teve momentos de farsa e suspense. Um cachorro foi encontrado perto do aeroporto de Navegantes, em Santa Catarina. A Gol embarcou o bichinho para Porto Alegre e o levou a uma clínica. Os veterinários contratados pela empresa atestaram: o peso, as dimensões, as unhas cortadas e a sobrancelha aparada eram iguais aos do pequeno fugitivo. A Gol se ofereceu a pagar um teste de DNA, caso a aposentada julgasse necessário. Algo que ela dispensou, baseada em métodos conclusivos. “Ele não me reconheceu, não respondeu quando chamei”, disse Nair. “É quase idêntico, parecido mesmo, mas não é o meu Pinpoo.”
Não era mesmo. Às 22 horas da quarta-feira, dia 16, Nair Flores recebeu uma ligação eufórica da mulher do sargento da Brigada Militar Paulo Ribas da Silva, de 53 anos. Ele e dois soldados do batalhão encontraram o cachorro nas cercanias do Salgado Filho.
“Quando soubemos da fuga, virou questão de honra capturar o cachorro, que andava nas redondezas”, conta Ribas, dono de dois cães. Por três dias, ele bolou estratagemas para capturar Pinpoo. Primeiro, tentou atraí-lo com chamados. Não funcionou. Fizeram rastros com ração canina, que formava uma trilha do matagal até uma sala na Brigada. Nada. Então apelaram para o frango assado. Não o das televisões de cachorro, mas pedaços tirados do cardápio dos soldados. Funcionou. No começo da noite de quarta-feira, o cão se aproximou do batalhão, deleitado com os nacos de frango. Chegou devagar e entrou na sala onde havia a maior porção de carne. O sargento Ribas fechou a porta e o prendeu. Depois levou Pinpoo para reencontrar sua dona.
“Foi exatamente como imaginei: ele saltou do colo do policial, saiu correndo e pulou no meu colo”, relata Nair. “Ele me beijava, me lambia. Na hora eu pensei ‘nem precisa de DNA, este é o meu Pinpoo’.” Mesmo com o cão nos braços, Nair diz que o filme não acabou. Pretende processar a Gol. “Quanto valem 15 semanas de sofrimento? Eu quero justiça, para que não tratem os bichos como sapatos velhos.” No meio do ano, a aposentada vai se mudar para a casa da filha, em Guarapari. Viajar de novo de avião? “Nem pensar. Vou levar o Pinpoo de carro mesmo.” 
Final feliz
Nair e Pinpoo, depois do reencontro.
 A aposentada pretende processar a empresa que havia perdido seu bichinho.
 
Imagens e Texto: Rodrigo Turrer, Época, edição nº 670, 19-03-2011

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