terça-feira, 19 de abril de 2011

Esclarecido o mistério do programa do PSD (Entre a candura e...)

Passos Coelho assumiu o óbvio com candura: o seu programa confunde-se com o do FMI
Pedro Passos Coelho assumiu ontem aquilo que já era evidente: nenhum programa que o líder do PSD invente para apresentar às eleições de 5 de Junho terá qualquer valor perante o eleitorado enquanto produção autónoma do partido. Inevitavelmente, será "confundido" com o programa do FMI.
A confissão é ingénua e arrisca-se a não render muitos votos ao presidente do PSD - mas é absolutamente verdadeira. Não haverá qualquer margem para programas autónomos nestas eleições e é isso que as transforma num acto que se esgota numa espécie de referendo ao pacote do FMI.
O que é válido para o líder do PSD é válido para José Sócrates: nenhum dos dois tem qualquer margem de autonomia depois do acordo que serão obrigados a assinar três semanas antes do acto eleitoral.
A surpresa de Fernando Nobre ter aceitado encabeçar a lista de Lisboa do PSD deriva de outras razões que não a de o ex-candidato presidencial desconhecer o programa do PSD. Primeiro, o dito programa não existe e todos os cabeças-de-lista estão no mesmo barco - o do cheque em branco. Mas, de facto, o tal programa cuja inexistência tem dado tanto mote à propaganda do PS tornou-se subitamente inútil. Passos Coelho não precisa de mostrar, agora, qualquer alternativa - a alternativa está a ser escrita pela troika FMI, Banco Central Europeu e Comissão.

Os mais cépticos antipassistas dirão que ainda bem - qualquer programa que saísse da São Caetano à Lapa poderia ser pior em termos eleitorais para o PSD do que um programa delineado pelo FMI a meias com o PS.
Em alguns casos, as mãos atadas de Passos Coelho até poderão ser, neste contexto, favoráveis - as teorias do líder do PSD relativamente aos despedimentos e à flexibilização do mercado laboral passam melhor no eleitorado se convenientemente embrulhadas com o papel do FMI. Mas sair à rua a pedir votos ao eleitorado sem programa (ou com um programa imposto pelo exterior) não deixa de ser uma condenação a uma não alternativa.
O povo que distribui tradicional e maioritariamente os votos entre o PS e o PSD está, portanto, destinado a escolher em função de personalidades, já que o programa será único e transmissível. Além das personalidades, vai contar substancialmente a capacidade táctica e estratégica - e nestes dois itens, apesar da derrota que foi a chamada do FMI, Sócrates tem capacidades de sobrevivência já reconhecidas. De Passos Coelho ainda não sabemos nada. Nos discursos quotidianos do líder e na sua proverbial ingenuidade não se consegue ainda identificar um sobrevivente.
Ana Sá Lopes, jornal “i”, 19-04-2011

Entre a candura e... a mentira e a autêntica sofreguidão pelo Poder ainda fico com a primeira! 
Abraços./-

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