quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ninguém quer ou gosta de falar errado. Muito menos de escrever.

Falar errado, pode. Escrever, não! Quem fala incorretamente ou “errado” fá-lo porque não sabe o correto ou porque quer falar “errado”. Neste grupo uns falam errado por banga, outros, por sarro, outros ainda, por jargão próprio. Direito deles!

Já escrever errado não pode ser um direito, de quem quer que seja, mesmo dos economicamente pobres ou socialmente não cultos.

Do livro “Por uma vida melhor”, de Heloísa Ramos:


Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados.

Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro?’.”
Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião.

Ninguém deve ter o direito de escrever errado. Porque a escrita, a ortografia, é patrimônio coletivo, nacional. Deve o coletivo ter orgulho da língua comum. A Língua, como a Bandeira, identifica o indivíduo no mundo das nações.

Deve o indivíduo se esforçar por escrevê-la bem, o melhor que souber. Deve o indivíduo dar a mão a quem não escreve bem, ou melhor, a quem não a escreve corretamente, puxando-o para cima, para o melhor. Pode até parar para ensinar a quem não sabe e quer aprender. Mas deve resistir à puxada para baixo, para a mediocridade; não dar a mão ao medíocre, nem ao preguiçoso.

O argumento de que a língua é uma coisa viva é o preferido por quem, justamente, a quer matar. Não confundamos evolução natural (e necessária, às vezes) com modas passageiras ou ainda exercícios de vaidade explícita de linguistas e outros “istas”. Evolução é, por exemplo, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990): veio para uniformizar e facilitar a escrita. Como foi com o “p” e o “h” da farmácia – que em alguns países ainda é farmácia, noutro é drogaria. Mas em todos os países da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, têm os mesmos plurais: as farmácias e as drogarias.

Gírias ou calões, algumas bem imaginadas e divertidas adentram naturalmente a língua escrita, mesmo a culta, e são adotadas tranquilamente pelos escreventes da Língua que os falantes inventaram. E essa adoção pelos escreventes e escritores transcende estratos sociais. Quando não transcende permanece sendo um código tribal, tá ligado?

Algumas palavras estrangeiras se incorporam ao idioma, aportuguesam-se, como “deletar”. Outras, mesmo que frequentemente utilizadas não passam de pedantismo pois têm o seu correspondente, bem significado, em português.

Até aqui falamos de orgulho nacional, de evolução, de gírias, de modismos, de anglicismos, até de farmácias e drogarias – estas entregam em domicílio, aquelas, ainda não. Não falei da ênclise de uns, nem da próclise de outros, muito menos da mesóclise. Mesóclise? Nem morto! Embora eu já tenha ouvido o GUP – Guia Universal dos Povos, pronunciar “recebê-lo-ia”, juro!

Sobre presidenta, oficiala, generala e outras entas e alas, prefiro, de longe, - mesmo que me acusem de estar a usar a minha língua, o som, não o órgão, como instrumento de poder  -, o “O” (artigo definido masculino singular) e a “A” (artigo definido feminino singular). Dou-me muito bem com eles, eles são perfeitamente definidos e me bastam para perceber quem tem “pilau” ou “piloa”.

Não me importo, dou de ombros, com a convivência ortográfica das duas formas, como em “presidente” e “presidenta”, boff!

Para concluir, sobre o livro da professora Heloísa Ramos, “Por uma vida melhor”, distribuído pelo MEC – Ministério de Educação e Cultura, do Governo do Brasil, mormente no trecho acima transcrito, trata-se de uma tentativa de puxar para baixo, de mediocrizar, e de uma tremenda irresponsabilidade ao propugnar pela morte da elementar e consolidada concordância verbal, que não tem nada a ver com o local de morada e/ou se na minha casa existem três televisores, se na casa do outro água de poço e se aqueloutro mora numa cubata do muceque Sambinzanga.
Inté! 

Foto: DR
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5 comentários:

  1. Oi,Jim

    Adorei seu texto,excelente.

    Só não sei o motivo da manutenção do tal acordo para unificar a Língua Portuguesa escrita,já que existem "falares" diferentes,como por exemplo "telemóvel" e "celular",e mudar a ortografia não vai alterar sinônimos & antônimos; e ainda há essa tentativa de imposição da ignorância crassa sob a ridícula justificativa de se evitar "preconceito linguístico" (taí o perfeito eufemismo para "burrice").

    Afinal,querem que os demais falantes passem a adotar barbaridades como "Nóis vai", "A gente fumo", "Eu fui que ia,fui,e acabei fondo"? "Eles toca fogo nos livro", espancam a gramática e "fiquemo tudo di boa?".

    Não dá pra aceitar discordância verbal.

    Sinceramente,rejeito esse peixe podre que "as zelite" tentam impingir; o empobrecimento (no caso,tá mais pra miserê mesmo) da Língua Portuguesa é inaceitável, até porque só consegue uma vida melhor quem luta por ela,e a base disso é o estudo, a cultura, coisas que começam com o conhecimento e a aplicação correta da Gramática e da Ortografia.

    A Editora Civilização Brasileira tinha um slogan perfeito nos Anos 60: "Quem não lê,mal fala,mal ouve e mal vê"; foi por não levarem nada disso a sério que hoje temos que encarar os absurdos analisados nesse seu post.

    Abrs

    Lícia

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  2. Obrigado, Lícia!
    Adorei o slogan da "Civilização Brasileira"
    Só me permita uma lembrança: o Acordo Ortográfico pretende (e aplaudo) unificar a ortografia, não os "falares". O seu exemplo é perfeito: telemóvel e celular significam o mesmo objeto em países diferentes, no entanto, em ambos os países a ortografia dos dois vocábulos deve ser a mesma. Vou dar outro exemplo: no Norte de Portugal, muitas pessoas trocam, ao falar, o "v" pelo "b". Pronunciam "binho", "uba". Mas mesmo as professoras que também pronunciam "uba", não aceitam a ortografia "uba".
    Grande abraço./-

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  3. Oi de novo,Jim

    Não há de quê,amigo. Muito obrigada pela lembrança sobre a unificação da ortografia; no entanto,ao citá-la, minha intenção foi a de frisar que a intenção original poderá, com o passar do tempo, ser ortograficamente afetada pelo falar (erradamente) brasileiro,já que há um livro escolar que permite isso.

    De fato,"telemóvel" e "celular", devemos escrever da mesma forma; assim como "binho" e "uba" aí em Portugal,aqui temos trocas de letras em palavras como "caviúna" e "cabiúna",ou "assovio" e "assovio",todas aceitas como formas corretas na escrita e na oralidade. Até aí,tudo certo; Uma língua muito rica e criativa.

    Problema mesmo é o que pretendi destacar no comentário: a distorção do idioma através do desprezo pela ortografia e a gramática,através de um livro que prega que ao falar e escrever errado,e ser corrigido,o indivíduo pode ser vítima de preconceito.

    É,talvez o mundo acabe mesmo em 2012...hahaha.

    Abrs

    Lícia

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  4. Sim, Lícia, o mundo acabou em 2012 para algumas pretensas intelectuais...
    Como você escreveu "a distorção do idioma através do desprezo pela ortografia e a gramática, através de um livro que prega que ao falar e escrever errado, e ser corrigido, o indivíduo pode ser vítima de preconceito.", demonstra esse fim!
    Impressionante!

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  5. Oi,Jim

    Infelizmente é isso.E impressiona mesmo :-(

    Abrs

    Lícia

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