segunda-feira, 23 de maio de 2011

O debate (Pedro Passos Coelhos X José Sócrates): análise de Marques Mendes

Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD

Luís Marques Mendes
Procurando ser objectivo, tenho para mim que Passos Coelho ganhou o debate da passada sexta-feira e que José Sócrates o perdeu. Sim, em boa verdade são as duas coisas e não apenas por causa das expectativas que existiam em torno de um e de outro.

Sócrates perdeu o debate sobretudo por uma razão essencial: porque abdicou de se apresentar como primeiro-ministro e se limitou a fazer o papel de oposição à oposição. Ora isto é um sinal de fraqueza e uma confissão de incapacidade. Quem governa e tem obra a apresentar defende-a com orgulho, sem precisar de desviar as atenções e sem recear a confrontação do adversário. Com Sócrates sucede o oposto.

Ele não se foca na governação porque não tem resultados a exibir. Ele atira-se às ideias do adversário com o mero intuito de tentar esconder os telhados de vidro do seu mandato. Exemplo maior é o do desemprego. Numa hora de debate, Sócrates não teve uma palavra, uma solução, uma expressão sequer de solidariedade para com 700 mil portugueses no desemprego. Tudo isto define um derrotado e mostra um enorme peso na consciência. Especialmente para um primeiro-ministro dito socialista e de esquerda.

Passos Coelho venceu por duas razões principais: primeiro, porque fez o que um líder da oposição deve fazer – ser certeiro a confrontar o primeiro-ministro com as suas responsabilidades de governo; depois, porque se afirmou com coragem como candidato a primeiro-ministro, esgrimindo propostas para o futuro e soluções para o País. Quem, desconhecendo a política nacional, aterrasse de repente em Portugal e assistisse a este debate seguramente diria que Passos Coelho era o primeiro-ministro e Sócrates o líder da oposição, tal o volume de propostas que o primeiro exibia e o vazio de ideias que o segundo demonstrava. É isso mesmo: pelos programas que apresentam, o líder do PSD já veste o fato de primeiro-ministro, enquanto o líder do PS já enverga o estatuto de oposição. De forma consciente ou inconsciente, ambos já interiorizaram o resultado da eleição.

Ao contrário do que vaticina o primeiro-ministro, a escolha de 5 de Junho não é entre quem está a favor ou contra o estado social. É, sim, entre o desastre do passado e a nova esperança reformista do futuro. Um conduziu-nos à ajuda externa. Outro, daqui a três anos, pode libertar-nos dela. Eis a fronteira que separa a responsabilidade da irresponsabilidade.
Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD, Correio da Manhã, 22-05-2011

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