terça-feira, 12 de julho de 2011

[Brasil] Corruptos deitam e rolam, mas não aguentam a rebordosa


Foto oficial

Dilma pega uns e manda recado aos outros: é, ela é presidente de fato e de direito


"Num estado democrático existem duas classes de políticos: Os suspeitos de corrupção e os corruptos".
David Zac, bispo de Kampala, Uganda.

No episódio do Ministério dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff parece que vai pular mais uma fogueira sem chamuscar-se nesse emaranhado torpe que faz do chefe do governo refém de bandos parlamentares dedicados exclusivamente à causa própria, numa rapina irrefreável de efeitos catastróficos para as instituições republicanas.
Ela não tem nem 200 dias à frente do governo e parece querer resgatar os valores morais essenciais da gestão da coisa pública, pondo em risco o seu próprio pescoço.
Até outro dia, o jogo do poder, em todas as administrações, de todos os partidos, vinha sendo marcado pela absoluta falta de recato, por uma voracidade insaciável e inconsequente.
Ressalve-se, por oportuno, que as práticas detectadas na área dos Transportes não são exclusivas desse Ministério, entregue de porteira fechada a um partido, em nome da governabilidade. Difícil será encontrar nesse ambiente degenerado que permeia a vida pública hoje, em todos os entes, alguma ilha de lisura.

Espelho de uma sociedade permissiva
O desvio de conduta dos políticos é, de fato, o espelho de uma sociedade inteira que vem se habituando perigosamente ao convívio com golpes de toda natureza. Como já escrevi aqui, nesse carnaval de trambiques, os maus elementos maiores operam nos grandes oligopólios, à sombra, em tacadas de esperteza, inflando suas fortunas pelo abuso de fraudes, sonegações e trapaças imperceptíveis
O Estado é mais vulnerável pela própria transitoriedade do poder. Muitas dessas vestais de araque que se exibem hoje como zeladoras do nosso dinheiro não passam de farsantes empavonados, sem a menor autoridade moral para posar de bons moços.
Porque eles próprios, quando no poder, cometeram crimes de lesa pátria sem qualquer constrangimento, privatizando nossas empresas estatais a preços de banana, e favorecendo sempre a empresários amigos.


Mandatos obtidos a peso de ouro
Todos têm o mesmo comportamento quando estão no poder porque até as melhores cabeças acreditam piamente que fora desse jogo não há governo que se sustente. A idéia de governabilidade numa democracia representativa é eivada de todos os vícios, começando pelo processo de escolha dos mandatários: estes investem fortunas em suas campanhas eleitorais e a massa acrítica e acuada acaba votando no que tem mais dinheiro para se tornar mais visível, fazer favores pessoais ou esmerando-se no uso abusivo das máquinas oficiais.
Pode-se dizer que os mandatos parlamentares, em sua maioria, são comprados a peso de ouro, numa afronta a princípios elementares da representação. E não é só o mercado de leilões eleitorais que facilita a vitória de candidatos saídos das elites minoritárias.
O modelo de voto eletrônico no Brasil é aliado preponderante da tramóia que transforma picaretas e testas de ferro dos grupos econômicos em maiorias no Congresso. Até hoje, a Justiça Eleitoral resiste à impressão do voto, tornando sua conferência impossível. Da mesma forma, a implantação do voto biométrico, que impede alguém de votar por outro, vem ocorrendo em doses homeopáticas: em 2012, usarão suas digitais nas urnas apenas 1 milhão de eleitores, de um total de 135 milhões. Nenhum deles é do Estado do Rio (coincidência?).

A mudança que não mudou nada 
Esse Congresso que está aí encurralando o poder executivo, impondo o fatiamento da administração para servir a seus interesses, não é, pois, legítimo representante da maioria do nosso povo, embora, ironicamente, possa exibir um turbilhão de votos obtidos por conhecidos transgressores dos bons costumes.
Era de se esperar que a vitória de um metalúrgico que havia contado 300 picaretas no Congresso abrisse caminho para reverter essa relação deletéria que faz da corrupção a base doutrinária da governabilidade. À primeira vista, ele não tinha o currículo comprometido de seus antecessores. E esbanjava o talento suficiente para investir em novos hábitos administrativos.
No entanto, para a frustração de muitos dos seus seguidores, rendeu-se ao sistema, dando continuidade à política econômica neoliberal e assimilando os mesmos truques abomináveis, com a formação de uma base aliada regada a pepitas mensais.

No ambiente das raposas
A indicação de Dilma Rousseff só foi possível, porém, pela a determinação de Lula de dar uma demonstração de forças na sucessão, passando por cima do próprio PT. Mulher, com o passado juvenil envolvido em sonhos que lhe valeram dois anos e meio de cadeia, ela simbolizava um resgate histórico de alcance profundo, levando as velhas elites a engoli-la. Mas seria, antes de tudo, a candidata do Lula.
Para consumar essa novidade, ele trabalhou igualmente na mesma linha viciada de alianças com qualquer um, absorvendo e até fortalecendo corruptos conhecidos. É de se admitir que esse foi o preço que pagou para elevar à condição de presidenciável alguém sem folha corrida eleitoral e até mesmo sem o sacramento partidário.
A composição do governo da presidente Dilma refletiu esse arco dominado pelas velhas raposas e manteve referenciais de um longo continuísmo: Sarney permaneceu dando as cartas (o que faz desde 1964) e a malandragem meteu a mão na massa. O que Dilma poderia fazer, senão entrar na dança?

Era pegar ou largar
Sua condição de mandatária sem qualquer prova nas urnas seria mamão com açúcar para o controle total do poder, pensavam as ratazanas. Os ministérios foram distribuídos a retalho em que cada grupo levava a peça inteira, induzindo cada um a se achar dono absoluto do seu pedaço, diante de uma "presidente fraca".
Essas raposas inescrupulosas não contavam com a astúcia da presidente. Ela sabia que se não assumisse de fato a chefia do governo ia acabar condenada a endossar as peripécias sinistras dos donos dos cargos, limitando-se a ser uma figura decorativa.
Sabia também que tudo tem limite. Pode-se até admitir que a corrupção e o tráfico de influências são inerentes ao poder. Mas não se pode esconder que o abuso dos corruptos torna insustentável o próprio regime.

Pagando para ver
Nesse momento, a presidente paga para ver, livrando-se sumariamente de alguns bolsões de maus elementos. O desafio que fez a um grupo, nomeando o novo ministro por sem as bençãos dos seus cardeais, vai alcançar a toda a malha do poder retalhado.
Esse lance do Ministério dos Transportes não foi o primeiro no tenso tabuleiro de Brasília. Antes mesmo de tomar posse,ela deu um fora no governador Sérgio Cabral Filho, que anunciou por conta própria o seu secretário como o novo ministro da Saúde. Nos temporais da região serrana, passou outro pito nele, por estar sempre fora do país nas horas difíceis, mostrando que teria um convívio difícil com ele.
Nos primeiros dias de janeiro, também abortou a compra de caças franceses, que já parecia definida num acerto envolvendo cachorros grandes.
Depois, afastou o seu ministro da Casa Civil, influente petista, pondo em seu lugar uma senadora em seu primeiro mandato político e surpreendendo meio mundo. Além disso, fez as outras mudanças conforme sua visão de governo, à revelia dos palpiteiros.
Com sua cultura política, ela sabe que é no começo do governo que tem de demarcar seu espaço e tornar explícita sua visão do poder. E logo percebeu que os corruptos são audaciosos, mas não aguentam uma rebordosa. Movem-se com desenvoltura quando não encontram empecilhos. Ao primeiro tranco, perdem o rebolado e põem o rabo entre as penas.
Só espero que a presidente não se assuste com os blefes do crime político organizado. Se for para dar um chega pra lá nessa corja de maus políticos, terá o respaldo do povo e este acabará por readquirir a confiança nas instituições, policiando-se mais na hora de dar o seu próximo voto.
Título e Texto: Pedro Porfírio

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