quarta-feira, 27 de julho de 2011

Escândalos – II


Peter Wilm Rosenfeld
A República brasileira já sofreu e teve que conviver com uma série de escândalos, de toda a espécie, o que não é novidade em governos brasileiros.
Penso, porém, que ainda não tinha enfrentado algo parecido com o que aconteceu – e ainda não terminou de todo, no Ministério dos Transportes.
Até o momento em que escrevo, já foram demitidos 18 burocratas de alto coturno, a começar pelo Ministro.
Não se sabe, ainda, quantos outros serão demitidos pelo País afora.
Ilustração: Glauco
Um fato interessante é que, até o presente momento, a Presidente Rousseff nem uma vez, pelo menos em público, se queixou de tão grande herança maldita que lhe foi deixada por seu antecessor, o fanfarrão Sr. da Silva.
Esse episódio inclui algumas coisas interessantes.
- Na segunda metade do segundo mandato do Sr. da Silva, a atual Presidente era a gerentona do PAC e, como tal, responsável por tudo o que acontecia com as obras do mesmo. As obras rodoviárias faziam parte do PAC e, como tal, vem a pergunta: como foi que não se deu conta do que estava acontecendo?
E cabe uma especulação: a Sra. Rousseff não sabia da roubalheira ou sabia, comunicou o que estava acontecendo ao Sr. da Silva e esse, a sua vez, disse-lhe que esquecesse, fizesse de conta que não sabia de nada?
Ao Sr. da Silva não há que dar o benefício da dúvida, mas à Sra. Rousseff inclino-me a dar-lhe essa consideração.

Só que, tomando essa posição, faz-se necessária outra pergunta: se sabia, mas não queria prejudicar o que então era seu chefe (e mais do que chefe, padrinho de sua candidatura vitoriosa), será que não teve força para excluir essa verdadeira corja do PR de seu governo?
No caso de a resposta ser positiva, o governo da Sra. Rousseff ficaria maculado por essa falha monumental ainda antes da metade do primeiro ano de seu mandato.
E necessariamente vem a pergunta: e nos outros ministérios, como anda o governo, ainda mais que o caso Palocci foi tristemente emblemático?
Esse Senhor não tinha o direito de fazer o que fez, depois do vergonhoso ato que cometeu quando Ministro da Fazenda do Sr. da Silva. E deveria estar sendo processado pelo caseiro Francenildo pelo mal que sua mentira causou à vida do caseiro.
Voltando aos Ministérios, sabe-se desde sempre que o desvio de recursos na área de saúde sofre do mesmo mal que o dos Transportes (antigamente designado por Obras Públicas). E vem a mesma pergunta: o que está sendo feito para evitar tal desvio?
O Ministro, médico sanitarista, tem uma tarefa gigantesca pela frente, pois a saúde no Brasil é vergonhosamente deficiente e o SUS é um fracasso e um engodo. Mas já estamos na segunda metade do primeiro ano e ainda não se sabe de nada do que está sendo feito nessa área, a não ser a pressão para a volta da CPMF…
O coitado de um doente que tiver que ser tratado pela estrutura do SUS tem grandes chances de terminar em um cemitério (e não estou dizendo isso por ouvir falar; tivemos, minha família e eu, a experiência ao vivo e a cores com um grande amigo, antigo empregado doméstico, há poucos anos. Por odioso que possa parecer eu escrever isso, teve a sorte de falecer, pois estava sofrendo muito!)
No ensino (educação) o quadro não é diferente, mas isso não é surpresa. O Sr. Fernando Haddad continua fazendo o que fez no governo anterior: nada que sirva.
Agora decidiu candidatar-se a um cargo eletivo em S. Paulo e aí, talvez, a situação melhore um pouco, pois terá pouco tempo para os assuntos do Ministério. E já que está decidido a disputar uma eleição, deveria deixar o ministério, mas duvido que o faça, por enquanto. A única coisa que nos resta fazer é torcer para que o Ministério fique em melhores mãos do que está agora. 
A Presidente Sra. Rousseff deveria tomar algumas decisões corajosas visando a evitar fiascos futuros: desistir de uma vez por todas de algumas idéias absurdas: do TAV (trem-bala), pelo altíssimo custo sem retorno, da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, que custarão uma fortuna ao País sem nada de mais importante a adicionar.
O Brasil tem tantas prioridades e tantas deficiências que, certamente, não haverá recursos para a realização das obras necessárias, ao mesmo tempo cuidando das reais necessidades do País.
A Sra. Rousseff que entre para a história do Brasil como a primeira Presidente do sexo feminino que, ao mesmo tempo, colocou o País em ordem em termos de saneamento básico, saúde, estradas (rodovias e ferrovias) e ensino fundamental.
Se fizer só isso (só? Isso será um enorme, gigantesco avanço real!), ocupará um lugar de destaque na galeria das grandes personalidades brasileiras.
Caso contrário, será incluída na galeria das personalidades que contribuíram para nosso irremediável atraso no concerto dos países!
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre, 27-07-2011
Edição: JP

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