domingo, 24 de julho de 2011

O que o atentado na Noruega pode significar para a Europa


Tradução: Francisco Vianna
Pelo menos 17 pessoas morreram e mais ficaram feridas numa explosão no centro da cidade de Oslo, a capital da Noruega, e um tiro no acampamento da juventude do Partido Trabalhista nos arredores da capital norueguesa. A polícia do país nórdico prendeu o atirador no acampamento e acredita que ele tem conexão com o atentado à bomba no centro da cidade, embora outros possam estar envolvidos. O significado dos eventos na Noruega para o resto da Europa irá depender amplamente de quem é o responsável pelo atentado, e a identidade dos culpados ainda não é conhecida. Entretanto, este artigo faz uma extrapolação sobre as possíveis consequências dos ataques com base em diversos cenários.O primeiro cenário é o de que militantes islâmicos baseados na Noruega possam estar por trás desses ataques aparentemente conectados. Grupos jihadistas locais já são todos como certo existirem por toda a Europa, e esta suposição – juntamente com os ataques anteriores – reforça a popularidade da extrema-direita dos partidos políticos em todo o continente. Muitos políticos de centro-direita também começaram a levantar questões políticas contra os imigrantes, a fim de desviar a atenção da opinião pública da implantação de medidas de austeridade econômica provocada pela crise econômica européia. Se militantes islâmicos radicados no país forem considerados os culpados desses eventos terroristas na Noruega, isso irá simplesmente reforçar a tendência da política européia atual que favorece à extrema direita. Dito isto, alguns partidos de extrema-direita, particularmente no Norte da Europa, podem receber um impulso de popularidade suficiente para empurrá-los no contexto geral político e, possivelmente, para o governo.
Se um indivíduo, ou um grupo organizado doméstico, com tendências de extrema-direita (?) ou neonazista (?) perpetrou o ataque, o significado para o resto da Europa não será grande. Tal resultado poderia levar a uma perda temporária da popularidade para a extrema-direita (?), mas no longo prazo as repercussões para a extrema direita (?) são improváveis, uma vez que esses partidos começaram a moderar suas plataformas a fim de atrair um público mais vasto.
Há também a possibilidade de que os ataques sejam obras de um indivíduo qualificado, mas perturbado e com queixas contra o Partido Trabalhista, no poder. Esta possibilidade teria poucas repercussões de longo alcance, além da de gerar uma reformulação de procedimentos de segurança interna na Noruega.

Outro cenário e o de que o atentado tenha sido perpetrado por um grupo internacional que pode ter entrado no país há algum tempo. Independentemente do prazo, se os culpados cruzaram a fronteira para entrar na Noruega, outros países europeus vão se sentir muito vulneráveis; a Noruega é onde a Europa termina ao norte, e se militantes internacionais podem entrar na Noruega, podem também chegar a qualquer lugar da Europa. Esta vulnerabilidade pode danificar gravemente a segurança de um estado se mantido sob ataque por alguns meses.
O Acordo de Schengen – que já foi um pilar simbólico da unidade européia – permite a concessão de visas para os que se deslocam entre os 25 países da Área Schengen (a maioria dos quais são membros da UE, mas a Área Schengen não inclui alguns membros não pertencentes à UE como a Noruega e a Suíça). O acordo ficou sob pressão quando a Itália ameaçou permitir que os imigrantes que fugiam do conflito da Líbia e da agitação política da Tunísia ganhassem o status de ‘residentes temporários’ na França. Foi a maneira de Roma em forçar o resto da Europa para ajudá-la com o problema do fluxo de migrantes. A solução proposta pela França e Itália era, essencialmente, estabelecer fronteiras temporárias "em circunstâncias muito excepcionais". Depois, a Dinamarca re-impôs os controles de suas fronteiras, supostamente devido a um aumento da criminalidade transfronteiriça. 
O atentado na Noruega, caso tenha envolvido movimentos transfronteiriços, poderá, portanto, prejudicar ou mesmo acabar com o Acordo de Schengen. Outros países europeus, particularmente aqueles onde a extrema-direita é forte ou de centro-direita, onde os partidos têm adotado uma mensagem contra a imigração, poderão pressionar por novas alterações ao pacto. A trama transnacional militante contra um país europeu no contexto contemporâneo também pode ser significativo para a política de defesa européia.
Quando o atentado em Madri de 2004 e o em Londres de 2005 aconteceram, muitos na Europa argumentaram que tais ataques foram resultados do apoio dos governos europeus para as operações militares dos EUA no Oriente Médio. Isto já não é realmente o caso para a Europa, embora forças européias ainda estejam no Afeganistão. É muito mais difícil culpar aliança da Europa com os Estados Unidos por este ataque. Como tal, a Europa poderia muito bem ser motivada a levar mais a sério os esforços em curso para aumentar a coordenação européia de defesa. Os esforços atuais estão sendo conduzidos pela Polônia, que está fazendo isso principalmente porque quer aumentar a segurança contra o ressurgimento da Rússia, não por causa da militância global. O problema do plano de Varsóvia é que tem pouco apoio genuíno na Europa Ocidental, a não ser da França. Um ataque a Noruega poderia, no entanto, prever o tipo de impulso necessário para que a Europa se sinta ameaçada por eventos globais.
O último cenário é o de que o atentado possa estar ligado ao envolvimento da Noruega na campanha na Líbia. Caso o governo líbio esteja de algum modo implicado no atentado à bomba e no tiroteio no acampamento, o resto da Europa correrá em apoio à Noruega e aumentará seus esforços para derrubar de vez o regime da Líbia. Este cenário essencialmente fecharia de vez a abertura das negociações propiciadas por uma recente medida de Paris e outros governos europeus de aventarem a possibilidade de Muammar Gadhafi permanecer na Líbia.
Fonte: STRATFOR – GEOPOLITICAL INTELLIGENCE
Relacionado:
What the Norway Attack Could Mean for Europe

2 comentários:

  1. Jim,

    Obrigado por postar esse artigo da STRATFOR que traduzi.
    O governo de esquerda da Noruega pode estar sendo considerado de 'direita' pelos 'socialistas' de plantão, sejam eles fascistas, nazistas ou comunistas, entre outros.
    O socialismo, que enfrenta uma crescente recusa por parte do europeu, pode estar reagindo usando o velho expediente do terrorismo, ainda mais agora onde a culpa pode ser facilmente jogada nas costas dos islâmicos.
    O socialismo é como a saúva: ou o mundo se livra dele ou ele acabará com o mundo.
    Francisco Vianna

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