sábado, 2 de julho de 2011

O rookie Passos Coelho e o bom aluno

Manuel Queiroz
Este imposto extraordinário cai bem na Europa e nos mercados. Passos aposta nesse reconhecimento. Mas há um prazo de validade
Passos Coelho foi ao parlamento anunciar um imposto extraordinário em 2011 igual a metade do subsídio de Natal para todos. Veremos como é que tecnicamente isso vai ser feito, mas o primeiro-ministro tinha prometido ir mais longe que as medidas da troika, sob um conceito que me parece correcto: é preciso cumprir o acordo e dar mostras de que é esse o princípio. Por aí, Passos Coelho vai bem. Neste momento não há mesmo vida para além do défice.
António José Seguro diz-se "chocado" com o imposto, mas o candidato a líder do PS iria votar o PEC IV sem choque? Não ia, com certeza. Francisco Assis diz que o governo só se lembrou de cortar nos rendimentos, em vez de o fazer nas despesas do Estado, como sempre tinha prometido. É verdade o que diz o outro candidato a líder do PS, mas convenhamos que não é possível numa semana fazer mais do que anunciar que o TGV está suspenso, por exemplo. Com Sócrates nunca se sabia bem se estava ou se não estava. Hoje não há dúvidas.
Há, assim, um princípio de clareza que parece um avanço, e sobretudo um princípio: o de que, mal ou bem, há um acordo para cumprir e que é mesmo para cumprir.
O problema com o anterior governo era que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças pensavam e diziam coisas diferentes, tanto que no fim nem foi convidado para as listas do PS, sem uma palavra a Teixeira dos Santos, como este fez saber, e não foi desmentido.

A estreia do novo ministro das Finanças na Assembleia pediu mais preparação na forma - sobretudo para que a modulação da voz não mate as ideias sobre as finanças - mas foi claro e seguro. A estreia professoral de Vítor Gaspar pediu mais treinos, porque o combate vai ser mais forte proximamente. Olá se vai. Basta olharmos para o resto da Europa: greve na função pública inglesa por causa das pensões, manobra para cortar 50 mil milhões de euros em quatro anos na Itália, a Grécia aos tiros na Praça Sintagma, a Espanha sem saber bem para onde vai e com eleições antecipadas à porta, a Irlanda a pedir um segundo resgate também.
Para um rookie como Passos Coelho, é essencial que os seus pares europeus vejam a determinação para que ao menos um caso nesta desunião europeia possa correr bem. É esse o objectivo do primeiro-ministro e percebe-se que o PCP e o Bloco ou a CGTP digam que é um erro a política austeritária. Mas Portugal está sob os holofotes da Europa e dos mercados e esta medida corajosa cairá bem nesses sectores. Cairá mal aos portugueses, mas boas notícias é coisa que não temos há muito tempo.
Este imposto extraordinário vai ter efeitos muito fortes sobre a economia das pessoas. Vai ser dura. Mas o ponto é, evidentemente, outro: chegará? O capital de Passos Coelho joga-se nos resultados que há-de ter uma medida desta gravidade. Se os sacrifícios tiverem um prazo, toda a gente percebe. É isso: chame-se Cameron, Zapatero ou Papandreou, o capital de confiança tem sempre um prazo de validade. 
Título e Texto: Manuel Queiroz, jornal “i”, 01-07-2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-