sexta-feira, 22 de julho de 2011

Situação política no Chile: razões e desdobramentos


Cesar Maia             
1. A divulgação de pesquisa onde o presidente Piñera aparece com apenas 31% de aprovação contra 60% de desaprovação despertou o debate sobre as razões. A coincidência de protestos massivos estudantis com a divulgação da pesquisa levou a conclusões simplistas. É evidente que colocar em campo uma pesquisa num momento em que as imagens são fortes - polícia X estudantes - e que o jovem tende a ter a simpatia da população, produz impacto na taxa de desaprovação.  

Santiago, Chile, 29-06-2011, foto: AFP/JB
            
2. Mas independente disso, é verdade que o governo vinha sofrendo uma perda de popularidade. Talvez um fato - de repercussão internacional - tenha ocultado essa tendência: o resgate dos mineiros quando Piñera subiu em sua popularidade. Mas os fatos fortes - quando são pontuais - se diluem, e as correntes permanentes voltam a aflorar.               
3. Em 2010, a economia chilena cresceu 5,2%, e em 2011 está crescendo e crescerá 6%, talvez a taxa mais alta da América Latina. Alguns dirão que o fator econômico deveria ter produzido um desdobramento favorável ao governo. Em geral é assim. Mas sempre que o crescimento se descola da sensação de melhoria e conforto por parte da população, esse impacto é muito menor. É o caso do Peru, por exemplo.               
4. Piñera - no discurso de posse dos novos oito ministros - onde substituiu o titular da pasta da Educação como resposta aos estudantes - sublinhou, como razão, o poder de mobilização impulsionado pelas redes sociais, usando as recentes mobilizações dos "indignados" como referência. Pode ser, mas lembre-se que as redes sociais atuam em vários sentidos e que se foi assim, os partidos de sustentação do governo, RN (do presidente) e UDI, perderam a batalha da comunicação. Claro, por enquanto. E se o presidente deu esse destaque é porque tratará de melhorar sua política de comunicação. 
              
5. Mas há duas razões que parecem muito mais relevantes que as anteriores. A primeira foram os megaterremotos que abalaram o Chile no início de 2010, quando Piñera assumia. Isso gerou um ajuste na política fiscal, com multiplicação dos gastos de reconstrução. Dada a disciplina fiscal e monetária chilenas, essa concentração de gasto em obras públicas, absolutamente necessárias, retardou as políticas sociais defendidas por Piñera. O PIB não é afetado. Ao contrário, pois o gasto público ajudou a impulsioná-lo. Mas o foco social o é, gerando, por um tempo, um desconforto na população.               
Fotografia oficial do Presidente Sebastián Piñera               
6. O segundo é político. Depois de várias eleições em que a centro-direita apresentou dois candidatos no primeiro turno, convergindo no segundo, em 2009 a RN de Piñera e a UDI vieram juntas desde o primeiro turno. A UDI vem tendo, através dos anos, maioria simples parlamentar, e agora passou a ser coadjuvante. Com poucos meses de governo, líderes da UDI reclamavam dos rumos do governo. Alegavam que a origem democrata-cristã dos Piñera estava deixando de lado a afirmação dos compromissos liberais da coalizão dos dois partidos.
7. Esse processo foi afetando as correntes de comunicação, já que a vocalização da UDI não era a mesma que a RN, pelo menos nas bases. Isso ficou claro agora na reforma ministerial, pois Piñera convocou dois senadores sêniores e de grande prestígio, líderes da sua bancada, para participar de seu ministério. O peso da UDI aumentou muito. Com isso, imagina-se que -mesmo que de forma não declarada - as políticas do governo Piñera sofrerão ajustes.              
8. Agora é acompanhar se essas mudanças virão mesmo, e quais serão elas e que feitos terão. E que, ultrapassados os desdobramentos da reconstrução, o ajuste das políticas sociais evitará que o Chile seja atingido pela síndrome de Peru.
Ex-Blog do Cesar Maia, 22-07-2011
Edição: JP

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