terça-feira, 23 de agosto de 2011

Depoimento: serviço de bordo durante "apertar cintos" causa grave acidente


Queridos colegas,
Finalmente recebi uma notícia que me trouxe esperança: a justiça marcou uma audiência para ouvir testemunhas para saber se a Varig falou a verdade quando disse que nunca executou um serviço de bordo com o apertar cintos ligado e que eu só quebrei a coluna porque eu desrespeitei uma norma que na Varig sempre foi cumprida rigorosamente. Gostaria de saber quem de vocês poderia me ajudar a dizer ao juiz que essa norma só passou a ser respeitada na Varig depois do meu acidente.

Tive uma fratura na coluna toráxica (T7) por ter sido obrigado a continuar trabalhando com o aviso de apertar cintos ligado. Dessa fratura adquiri uma doença neurológica que causa inflamação nas células da medula e que me deixa dias na cama toda a vez que tenho uma crise de dor. Estou fazendo tratamento há11 anos no Hospital das Clínicas em São Paulo. Por causa dessa doença perdi a minha licença de voo do CEMAL e a minha carreira foi interrompida. Fui aposentado por Invalidez Definitiva por Acidente de Trabalho.

O comandante do voo foi consultado pelo Chefe de Equipe se poderia interromper o serviço de bordo, mas ele proibiu que o serviço fosse interrompido e mandou a tripulação continuar trabalhando. A Diretoria de Operações assumiu que o comandante errou. O Cmte. M.P., na época Piloto-Chefe de Operações, me enviou uma carta dizendo que o aviso de “apertar cintos” é para todos e que a Varig estava tentando acabar com esse “ranço cultural” de alguns comandantes e chefes de equipe ainda insistirem em não interromper o serviço com o aviso ligado.

Após o meu acidente e a repercussão do mesmo, a Varig lançou uma campanha interna proibindo a execução do serviço de bordo com o aviso de apertar cintos ligado. Essa campanha dizia que após um acidente grave com um tripulante (no caso eu), a partir daquela data estava proibido a execução do serviço de bordo com o aviso ligado.Ou seja, após o meu acidente, a posição da empresa mudou totalmente em relação a essa questão.

Fiz um vídeo depoimento que foi passado obrigatoriamente em todos os cursos no Centro de Treinamento de Operações (CTO) a partir dessa data.

O jornal da Acvar (Associação do Comissários da Varig) fez uma edição exclusiva sobre o meu acidente e a falha da empresa em não respeitar o aviso de apertar cintos para os tripulantes, onde foi questionado se a vida do passageiro valia mais do que a do tripulante, ou seja, o perigo é o mesmo para todos.

O tratamento foi pago apenas nos 3 primeiros anos e depois não mais. Há 8 anos arco com todas as despesas de médicos especialistas, fisioterapias e medicações.

A audiência para o juiz ouvir as testemunhas foi marcada para o dia 10 de novembro de 2011 às 11h40, no Rio de Janeiro.

Preciso muito da ajuda de vocês nesse momento. Qualquer colega pode ser testemunha:

- os que estavam comigo no voo que eu me acidentei;
- qualquer colega que tenha executado um serviço de bordo com o apertar cintos ligado (acredito que todos nós passamos por isso).

Peço também a todos que repassem esse e-mail para todos os nossos colegas da Varig, pois não tenho o e-mail de todos.
Bem, meus amigos, ficarei esperando ansioso uma resposta de vocês.
Um grande abraço e muito obrigado,
Jeff Alcantara
Comissário Jeff Alcantara. Foto: AD
Edição: JP

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Um comentário:

  1. Conheci este excelente comissário de voo; tive o privilégio de voar algumas vezes com Jeff Alcantara.

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