Cesar Maia
Sami Nair, professor da
Universidade Pablo de Olavide de Sevilla, El País (12).
1. A revolução democrática
árabe não apenas chocou o mundo, mas também transformou os paradigmas
tradicionais da esquerda que, não mais do que a direita, não pôde pressenti-la.
Na Europa, apesar de algumas hesitações, a esquerda, em geral, reagiu de
maneira positiva, acolhendo esta entrada brusca das massas como um evento de
importância histórica. Não é o caso, infelizmente, da grande maioria da
esquerda latino-americana. Durante simpósio realizado em Buenos Aires (8 e 9 de
setembro de 2011) sobre o capital intelectual, nós, os participantes europeus,
ficamos muito surpreendidos em ver nossos amigos latino-americanos defender
certas posturas que estamos mais acostumados a ler, de bajuladores de ditaduras
no mundo árabe.
2. As revoluções na Tunísia e
no Egito, ouvimos pela boca de intelectuais que vieram da Venezuela, Brasil e
mesmo da Argentina, que não eram mais do que "movimentos sociais
violentos" e de maneira nenhumas revoluções. Nosso companheiro Fathi
Chamkhi, universitário e sindicalista tunisiano ali presente, participante da
revolução, se incendiou de indignação. Essa visão é simplesmente desoladora. É
baseada em vários erros graves.
3. Em primeiro lugar, a
análise está baseada no preconceito de que, não sendo lideradas por partidos revolucionários
ou pela “vanguarda”, essas revoluções não podem senão fortalecer as forças de
reação, mundiais. Isso é não entender nada. Em segundo lugar, se a OTAN
interveio, foi sob comando da ONU e de maneira perfeitamente limitada,
impedindo que a França e o Reino Unido, cujos interesses conhecemos,
interviessem sozinhos. Esta intervenção, que salvou de um massacre certo as
populações civis de Bengasi por parte do exército de Kadaffi, na verdade
fortaleceu a vontade de resistência dos líbios em todo o país. Ele encorajou
também o processo revolucionário no mundo árabe. Em terceiro e último lugar, é
uma piada de muito mau gosto acreditar que Kaddafi é um amigo das revoluções
latino-americanas. A verdade é que ele vendeu a certos movimentos latino
americanos o mito de que seria um revolucionário anti-imperialista, banhando-se
em dólares, quando na verdade não passava de um criminoso para os líbios.
4. Tal desconhecimento da
esquerda latino-americana a respeito da situação árabe é suficiente para
explicar, juntamente com uma boa dose de maniqueísmo, a obsessão daqueles na
esquerda em colocar um rosto na insurreição dos povos. Esses
"revolucionários” estão na realidade, mais perto da razão do Estado que
defendem, do que da solidariedade com os oprimidos. Acordem, amigos
latino-americanos, vocês que dão lições de populismo revolucionário: a
revolução árabe lhes deixou muito para trás dela!
Ex-Blog do Cesar Maia,
20-10-2011
A matéria original no El País aqui
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