sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A inveja doentia dos salários dos políticos


Isabel Stilwell
Ainda nem tomámos plena consciência de como mais pobres vamos todos ficar. Crescemos a ouvir falar de crise, e o nosso cérebro, por uma questão de saúde mental, habituou-se a descartar os constantes avisos alarmistas, do estilo “o país está de tanga”. Durante muito tempo, demasiado, acreditámos que esta crise era como as outras, mas agora entendemos que a realidade à nossa volta vai mudar para sempre.
É um processo doloroso, que exige um enorme esfoço de adaptação, e suponho que é natural que as pessoas procurem à sua volta bodes expiatórios para a desilusão e medo que sentem, e se agarrem à ideia de que há por aí uns tipos que, bem apertados, podem ainda desembolsar umas massas para nos salvar.
Mas alguns parecem encontrar uma grande consolação na ideia de que, se vão ao fundo, hão-de levar toda a gente atrás. Simplesmente, se o luto por aquilo que tivémos ou sonhámos ter, explica episódios de raiva, já a inveja não leva a lado nenhum.
Não leva a lado nenhum, mas está a ser o prato forte de muitos meios de comunicação social. Multiplicam-se as “reportagens”, que se gabam de ter encontrado os verdadeiros salários, os rendimentos escondidos, as alcavalas recebidas por estes e por aqueles. Os políticos, então, têm estado na ordem do dia, ou não fossem o target mais apetecível, qual bonecas de vudu onde se espetam alfinetes na esperança de vingança. Confesso que acho abjecta esta perseguição. Há maus políticos, certamente que há, e compete-nos não votar neles. Há políticos corruptos? Que sejam denunciados, julgados e condenados.
Mas ser político, ocupar um cargo público, é prestar um serviço à Nação. Têm todo o direito ao respeito, a um bom ordenado (sujeito, obviamente, aos mesmos cortes do que os nossos), e de após o seu mandato, continuarem com a sua vida. Se não aceitarmos que assim é, então é melhor fecharmos a porta da democracia.
Título e Texto: Isabel Stilwell, Destak, 20-10-2011

A inveja, conforme Sebastián de Covarrubias, gravura século 16.

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