A irresponsabilidade dos
bancos europeus contribuiu para a atual crise do euro, afirma Edmund Phelps. Em
seu cerne, porém, está um conluio fatal entre governos e bancos, argumenta e
economista.
Edmund Phelps é professor
de Economia Política da Universidade de Columbia, em Nova York, e diretor do
Centro sobre Capitalismo e Sociedade. Em entrevista à Deutsche Welle, o
vencedor de 2006 do Prêmio de Ciências Econômicas – conhecido como Nobel de
Economia – acredita na continuidade da zona do euro, apesar dos problemas.
Ele também alerta que o Reino
Unido pode ter saltado "da frigideira para o fogo", ao não querer
contribuir para a ajuda aos países endividados. Phelps considera que Angela
Merkel, chanceler federal da Alemanha, maior economia da Europa, vem
conduzindo bem a saída para a crise.
Deutsche Welle: Houve
críticas sobre a cúpula da União Europeia na semana passada, por esta não ter
focado suficientemente a crise imediata. Foi dito também que, sob a liderança
da premiê Angela Merkel, os líderes europeus não teriam permitido que o Banco
Central Europeu (BCE) agisse como um credor de última instância, não
implementaram os eurobonds nem deram permissão bancária para o mecanismo de
estabilidade. Muitos dizem que a crise só pode ser resolvida caso sejam
implementadas algumas ou mesmo todas essas medidas. O senhor concorda?
Edmund Phelps: Fiquei
um pouco surpreso por não ter sido dada uma atenção maior à crise imediata. Mas
acredito que a explicação esteja no fato de que os líderes ainda não
entraram em um acordo adequado sobre como agir frente à crise imediata. E
ainda continuamos a especular se o BCE terá poderes para assumir boa parte da
dívida grega. E acredito que a complacência do BCE para fazer isto seja outro
elemento da equação. Acho que ainda há incertezas sobre o montante de dinheiro
que o FMI seria capaz de empregar nesta missão.
Pode levar um mês ou muitos
meses até que se chegue a um acordo sobre como lidar com a dívida da Grécia.
É claro que o problema é que o tempo está passando e a Itália está exposta a
ataques especulativos sobre os títulos italianos. Ou seja, a Europa encontra-se
num território muito perigoso neste momento.
Com o tempo passando para a
Grécia e a Itália, mas também para a Espanha e Portugal, vistos pelos mercados
como credores instáveis, como o senhor vê a habilidade deles em adquirir
empréstimos a juros razoáveis em 2012?
Os italianos com quem converso
estão muito otimistas. Mas é claro que, se os integrantes do mercado de
ações decidirem que não, então eles não vão conceder empréstimos para a Itália,
nem mesmo a taxas de juros muito elevadas. Quanto maiores as taxas de juros
que o governo italiano oferecer, tanto mais nervosos os compradores de títulos
vão ficar. Então esta possibilidade poderia significar o colapso da
habilidade italiana em conseguir rolar a dívida pública e seguir em frente.
Qual é sua sensação sobre a
zona do euro? Ela continuará existindo em sua forma atual, com 17
países-membros? Ou espera-se a saída da Grécia e de outros países?
Temos que considerar a
possibilidade de a Grécia querer sair e a possibilidade de outros
membros empurrarem os gregos para fora da zona do euro. Isso poderia ajudar o
euro como moeda, mas não ajudaria a salvar a insolvência dos bancos europeus.
Acho muito difícil imaginar o fim da zona do euro como zona monetária. Todos os
países do grupo se beneficiaram deste acordo, por isso acredito que haverá
esforços de todos para preservar a moeda comum.
Foi um movimento
inteligente do Reino Unido seguir sozinho e não participar da união de
estabilidade?
É compreensível que os
britânicos tenham optado por não colocar a si mesmos em uma posição, na qual
eles teriam sido forçados a oferecer grande ajuda à Grécia, Itália, Espanha e
outros. Mas a decisão está sendo criticada por pessoas que dizem que os
britânicos agora não farão parte das discussões sobre as reformas dos
sistemas fiscal, monetário e financeiro. E o Reino Unido é muito dependente dos
países da zona do euro e de seu funcionamento. Apesar de terem fugido da
situação por causa dos riscos iminentes, eles podem ter pulado da frigideira
para o fogo.
Se a premiê Angela Merkel,
considerada uma figura central na solução da crise do euro, lhe pedisse um
conselho para solucionar a crise, o que o senhor diria?
Acho que ela está atuando
de uma maneira que parece ser correta para a Alemanha. Ela quer promover uma
reconstrução da zona do euro de tal forma, que o comportamento dos
gregos jamais possa ser repetido. Se ela conseguir acordos com relação a
isso, ela talvez possa obter o apoio da população alemã para um resgate da Grécia.
E todo mundo vai entender, pelo que podemos prever, que este resgate é o
último da zona do euro.
Mas não acredito que agora
haveria um apoio maior na Alemanha a um pacote para a Grécia nas
próximas semanas e meses. E nem para usar o BCE com este propósito. Teria-se a
sensação de risco moral em se fazer isso, porque esta postura apenas
incentivaria países a acreditar que, se eles estão com dificuldades fiscais,
serão resgatados.
O que dizer dos vários
testes internacionais de estresse dos bancos realizados nos últimos anos?
Houve um considerável consenso
entre especialistas que os testes de estresse do ano passado foram vagos e
pouco rigorosos. Os testes de estresse foram uma maneira de aumentar a
confiança e garantir aos mercados que o colapso não estava esperando ali na
esquina. Mas de alguma maneira eles acabaram sendo dispendiosos, porque os
governos não viram a importância e a urgência de encaminhar os balanços dos
bancos.
Mas os bancos não estão no
centro do problema todo? Não estaríamos preocupados com a Grécia, se os
bancos europeus não tivessem adquirido grande parte da dívida grega. Se
os bancos tivessem sido mais prudentes, o problema teria sido resolvido há
muito tempo, apenas com cortes aos detentores dos títulos. O problema todo
é que os detentores de títulos são os bancos, ou pelo menos eram até eles
tentarem se livrar dos papéis nas últimas semanas. Oferecer corte aos bancos
pode derrubar o sistema bancário.
Acho que a história política
aqui é que havia uma aliança por lucros mútuos entre governos e bancos.
Nesta aliança, os bancos comprariam imensas quantidades de dívidas
soberanas, em vez de conceder empréstimos a negócios pequenos em prol da
inovação. Não se pediu que permanecessem com qualquer capital contra esses
ativos e sem dúvida as agências eram colocadas sob pressão para dar a todas
essas dívidas soberanas um rating AAA. E isso foi também ótimo para os
governos e vários destes governos levaram vantagens, por não terem que pagar
juros tão altos quanto teriam de outra forma. Acho que esta aliança
entre bancos e governos está no centro da crise da zona do euro.
O movimento Occupy Wall
Street cumpriu o seu papel?
Eles estavam muito certos em
apontar para o péssimo desempenho do sistema econômico nos últimos anos.
E aqui aparecem os banqueiros de Wall Street com bônus bastante altos,
enquanto esses jovens na praça Zuccotti Park, no coração do bairro financeiro,
não conseguem empregos e ganham quase nada. Foi um protesto bastante
silencioso e efetivo.Tudo o que tiveram que fazer era ficar lá e dizer
"olhem para este contraste entre nós e vocês". Eles não tinham muita
ideia sobre o que deveria ser feito. Infelizmente, acho que os ocupantes
ficaram sob influência de pessoas que queriam atacar a globalização.
O movimento ajudou a
aumentar a conscientização de que algo precisa ser feito para melhorar a
eficácia da economia norte-americana e resolver a disparidade de oportunidades
que existe no país.
Entrevista: Michael Knigge
(msb), revisão: Soraia Vilela, Deutsche Welle, 18-12-2011
Título e grifos: Rivadávia Rosa
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