segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Conúbio na Eurozona


A irresponsabilidade dos bancos europeus contribuiu para a atual crise do euro, afirma Edmund Phelps. Em seu cerne, porém, está um conluio fatal entre governos e bancos, argumenta e economista.
Edmund Phelps é professor de Economia Política da Universidade de Columbia, em Nova York, e diretor do Centro sobre Capitalismo e Sociedade. Em entrevista à Deutsche Welle, o vencedor de 2006 do Prêmio de Ciências Econômicas – conhecido como Nobel de Economia – acredita na continuidade da zona do euro, apesar dos problemas.
Ele também alerta que o Reino Unido pode ter saltado "da frigideira para o fogo", ao não querer contribuir para a ajuda aos países endividados. Phelps considera que Angela Merkel, chanceler federal da Alemanha, maior economia da Europa, vem conduzindo bem a saída para a crise.

Deutsche Welle: Houve críticas sobre a cúpula da União Europeia na semana passada, por esta não ter focado suficientemente a crise imediata. Foi dito também que, sob a liderança da premiê Angela Merkel, os líderes europeus não teriam permitido que o Banco Central Europeu (BCE) agisse como um credor de última instância, não implementaram os eurobonds nem deram permissão bancária para o mecanismo de estabilidade. Muitos dizem que a crise só pode ser resolvida caso sejam implementadas algumas ou mesmo todas essas medidas. O senhor concorda?
Edmund Phelps: Fiquei um pouco surpreso por não ter sido dada uma atenção maior à crise imediata. Mas acredito que a explicação esteja no fato de que os líderes ainda não entraram em um acordo adequado sobre como agir frente à crise imediata. E ainda continuamos a especular se o BCE terá poderes para assumir boa parte da dívida grega. E acredito que a complacência do BCE para fazer isto seja outro elemento da equação. Acho que ainda há incertezas sobre o montante de dinheiro que o FMI seria capaz de empregar nesta missão.
Pode levar um mês ou muitos meses até que se chegue a um acordo sobre como lidar com a dívida da Grécia. É claro que o problema é que o tempo está passando e a Itália está exposta a ataques especulativos sobre os títulos italianos. Ou seja, a Europa encontra-se num território muito perigoso neste momento.

Com o tempo passando para a Grécia e a Itália, mas também para a Espanha e Portugal, vistos pelos mercados como credores instáveis, como o senhor vê a habilidade deles em adquirir empréstimos a juros razoáveis em 2012?
Os italianos com quem converso estão muito otimistas. Mas é claro que, se os integrantes do mercado de ações decidirem que não, então eles não vão conceder empréstimos para a Itália, nem mesmo a taxas de juros muito elevadas. Quanto maiores as taxas de juros que o governo italiano oferecer, tanto mais nervosos os compradores de títulos vão ficar. Então esta possibilidade poderia significar o colapso da habilidade italiana em conseguir rolar a dívida pública e seguir em frente.


Qual é sua sensação sobre a zona do euro? Ela continuará existindo em sua forma atual, com 17 países-membros? Ou espera-se a saída da Grécia e de outros países?
Temos que considerar a possibilidade de a Grécia querer sair e a possibilidade de outros membros empurrarem os gregos para fora da zona do euro. Isso poderia ajudar o euro como moeda, mas não ajudaria a salvar a insolvência dos bancos europeus. Acho muito difícil imaginar o fim da zona do euro como zona monetária. Todos os países do grupo se beneficiaram deste acordo, por isso acredito que haverá esforços de todos para preservar a moeda comum.

Foi um movimento inteligente do Reino Unido seguir sozinho e não participar da união de estabilidade?
É compreensível que os britânicos tenham optado por não colocar a si mesmos em uma posição, na qual eles teriam sido forçados a oferecer grande ajuda à Grécia, Itália, Espanha e outros. Mas a decisão está sendo criticada por pessoas que dizem que os britânicos agora não farão parte das discussões sobre as reformas dos sistemas fiscal, monetário e financeiro. E o Reino Unido é muito dependente dos países da zona do euro e de seu funcionamento. Apesar de terem fugido da situação por causa dos riscos iminentes, eles podem ter pulado da frigideira para o fogo.

Se a premiê Angela Merkel, considerada uma figura central na solução da crise do euro, lhe pedisse um conselho para solucionar a crise, o que o senhor diria?
Acho que ela está atuando de uma maneira que parece ser correta para a Alemanha. Ela quer promover uma reconstrução da zona do euro de tal forma, que o comportamento dos gregos jamais possa ser repetido. Se ela conseguir acordos com relação a isso, ela talvez possa obter o apoio da população alemã para um resgate da Grécia. E todo mundo vai entender, pelo que podemos prever, que este resgate é o último da zona do euro.
Mas não acredito que agora haveria um apoio maior na Alemanha a um pacote para a Grécia nas próximas semanas e meses. E nem para usar o BCE com este propósito. Teria-se a sensação de risco moral em se fazer isso, porque esta postura apenas incentivaria países a acreditar que, se eles estão com dificuldades fiscais, serão resgatados.

O que dizer dos vários testes internacionais de estresse dos bancos realizados nos últimos anos?
Houve um considerável consenso entre especialistas que os testes de estresse do ano passado foram vagos e pouco rigorosos. Os testes de estresse foram uma maneira de aumentar a confiança e garantir aos mercados que o colapso não estava esperando ali na esquina. Mas de alguma maneira eles acabaram sendo dispendiosos, porque os governos não viram a importância e a urgência de encaminhar os balanços dos bancos.
Mas os bancos não estão no centro do problema todo? Não estaríamos preocupados com a Grécia, se os bancos europeus não tivessem adquirido grande parte da dívida grega. Se os bancos tivessem sido mais prudentes, o problema teria sido resolvido há muito tempo, apenas com cortes aos detentores dos títulos. O problema todo é que os detentores de títulos são os bancos, ou pelo menos eram até eles tentarem se livrar dos papéis nas últimas semanas. Oferecer corte aos bancos pode derrubar o sistema bancário.
Acho que a história política aqui é que havia uma aliança por lucros mútuos entre governos e bancos. Nesta aliança, os bancos comprariam imensas quantidades de dívidas soberanas, em vez de conceder empréstimos a negócios pequenos em prol da inovação. Não se pediu que permanecessem com qualquer capital contra esses ativos e sem dúvida as agências eram colocadas sob pressão para dar a todas essas dívidas soberanas um rating AAA. E isso foi também ótimo para os governos e vários destes governos levaram vantagens, por não terem que pagar juros tão altos quanto teriam de outra forma. Acho que esta aliança entre bancos e governos está no centro da crise da zona do euro.

O movimento Occupy Wall Street cumpriu o seu papel?
Eles estavam muito certos em apontar para o péssimo desempenho do sistema econômico nos últimos anos. E aqui aparecem os banqueiros de Wall Street com bônus bastante altos, enquanto esses jovens na praça Zuccotti Park, no coração do bairro financeiro, não conseguem empregos e ganham quase nada. Foi um protesto bastante silencioso e efetivo.Tudo o que tiveram que fazer era ficar lá e dizer "olhem para este contraste entre nós e vocês". Eles não tinham muita ideia sobre o que deveria ser feito. Infelizmente, acho que os ocupantes ficaram sob influência de pessoas que queriam atacar a globalização.
O movimento ajudou a aumentar a conscientização de que algo precisa ser feito para melhorar a eficácia da economia norte-americana e resolver a disparidade de oportunidades que existe no país.
Entrevista: Michael Knigge (msb), revisão: Soraia Vilela, Deutsche Welle, 18-12-2011
Título e grifos: Rivadávia Rosa

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