António Ribeiro Ferreira
É Natal e ano novo. Muita
gente costuma aproveitar estes dias para carregar baterias e fugir ao
quotidiano, mas este final de 2011 não se compara com nada do que se passou em
Portugal neste gloriosos tempos democráticos. A agenda da troika é dura, violenta
em muitas áreas e exige reformas a sério, que nenhum governo teve coragem de
pôr em prática até agora. Provavelmente muita gente com responsabilidades
políticas sabia que, mais cedo ou mais tarde, o bem-bom ia acabar e que era preciso mexer a sério em
muitas questões herdadas da loucura do período revolucionário e da fraqueza de
muitos executivos. Acontece que os políticos vivem para ganhar eleições e a
ditadura dos votos impõe-se sempre na hora de se tomarem decisões difíceis,
dolorosas e naturalmente impopulares. Graças a Deus que agora não há eleições
no horizonte e o governo do PSD/CDS está rigorosamente vigiado pelos elementos
do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, que não o deixam pôr o pé em
ramo verde. E sempre que algo corre mal, como baixar a taxa social única, lá
vem um novo pacote de medidas adicionais para compensar os pontos não
cumpridos. É verdade que as avaliações têm sido positivas e Portugal tem
recebido a tempo e horas as tranches da ajuda financeira internacional. Mas
também é verdade que os elementos da troika, os tais que alguns consideram de
quinta e sexta linha dos organismos que tutelam Portugal, não deixam de fazer
reparos, lançar avisos e alertas para situações que podem descarrilar e pôr em
perigo os objectivos estratégicos do Memorando.
E como não há tempo a perder, o
governo prepara esta semana uma maratona legislativa com dois Conselhos de
Ministros nos dois últimos dias úteis do ano. É natural que nessas duas
reuniões sejam aprovadas leis importantes na área do trabalho, no arrendamento
e na justiça, com destaque natural para o diploma sobre os despejos. Aqui e ali
têm vindo a público informações sobre a nova lei das rendas. A expectativa é
enorme, depois de anos de medos, hesitações e reformas execráveis no arrendamento.
Espera-se que desta vez haja coragem para acabar com as rendas condicionadas e
não se hesite em acabar com o escândalo de uma lei dos despejos que favorece
quem não paga, destrói as casas e castiga fortemente o desgraçado que um dia
decidiu investir no imobiliário em vez de pôr o dinheiro numa rentável
off-shore. É por essa razão que hoje há milhares de casas vazias, por alugar. É
muito melhor para os proprietários não arrendar que ficar com um sarilho em
mãos por muitos e bons anos, com prejuízos enormes e habitações destruídas.
Simplifiquem os despejos e acabem com as rendas condicionadas e logo verão que
as cidades deste país começam a sair do marasmo. Acabem com a protecção aos
caloteiros e aos criminosos e logo verão que a reabilitação urbana vai ser uma
realidade, com importantes benefícios para a economia e o emprego. As leis
aprovadas quinta e sexta não são obviamente pacíficas e provocarão muitos
amargos de boca aos situacionistas. Mas é a altura ideal para avançar, até
porque os sindicatos ainda estão nas palhinhas.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 27-12-2011
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