Ana Sá Lopes
E se o sistema médico-social tivesse sido
tomado de assalto por vegetarianos?
O tabaco nunca fez bem a ninguém. Como o álcool, a banha, o sal, os rojões e praticamente toda a comida regional portuguesa a boiar em gordura de porco. Para azar de uns quantos, a moral médico-social vigente dirigiu a luta armada e a exultação punitiva para os malefícios do tabaco e não para os danos e prejuízos da gordura de porco.
É uma pena que o sistema
médico-social em vigor não tenha sido tomado de assalto por vegetarianos
obsessivos, daqueles que invocam que comer carne está na origem de quase todas
as doenças arroladas no Simposium. O passo seguinte obrigatório seria o
encerramento compulsivo dos talhos, ou a sua obrigatória reconversão em lojas
de soja e tofu. A gordura animal seria banida à força e provavelmente o país
abandonaria a linha da frente nos rankings de acidentes cardiovasculares.
Por alguma razão ninguém toca
no porco. Não se proibem as famílias de dar quantidades inimagináveis de
gordura às crianças e aos adolescentes. O porco é de venda livre, mesmo a
menores de 18 anos, e faz parte das ementas infantis dos restaurantes e das
cantinas públicas. As criancinhas de seis anos podem adquirir banha no supermercado!
Incrível, não é?
Em contraste com a extraordinária protecção com que o porco é tratado pelos legisladores, o tabaco vai ser novamente alvo do ataque do governo, concertado com os porta-estandartes do conceito actual de “saúde”, que é uma coisa, de resto, excessivamente variável e que tende a mudar os seus fundamentos a cada 15 anos – é divertido comparar as normas pediátricas em vigor de ano para ano para ter uma ideia.
A mais recente proposta
anti-tabaco passa agora por banir completamente o direito a fumar nos lugares
públicos para, imagine-se, tornar a nossa legislação parecida com a que vigora
no estado de Nova Iorque. A ideia de que isto é um assalto à restauração (para
não falar de uma violação do direito de um fumador a jantar fora) não passou,
pelos vistos, pela confraria anti-tabagista.
Os proprietários de
restaurantes investiram imenso dinheiro há muito pouco tempo para adaptar as
suas instalações à nova lei. No meio de uma crise terrível, com as
consequências do aumento do IVA para 23% ainda por identificar, o governo
decidiu agora que o dinheiro que os donos dos restaurantes e bares gastaram em
alterações por causa da lei foi deitado à rua e que mais lhes valia terem
estado quietos. Agora, vem aí uma nova lei para mudar tudo outra vez. Preocupem-se com o porco, senhores. Há uma quantidade de gente indefesa a enfiar
quantidades inenarráveis de gordura no sangue. Alguns de vós, provavelmente.
Título e Texto: Ana Sá Lopes, jornal "i", 09-01-2012
12 089 acessos!
ResponderExcluir3ª postagem: 12 093.
ResponderExcluirCoitado do porco. Já anda de cabeça baixa por ter a mãe porca... Se investirem nele...
ResponderExcluirEm SÉTIMO lugar: 12 097.
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