quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A falta de coragem mata

Alexandre Pais
Deixemos por agora as pequenas taras que até nos funerais se manifestam e concentremo-nos nesse gigantesco funeral colectivo que 2012 promete ser. Não, não venho atirar mais achas para a fogueira, estou farto de ver e ouvir vaidosos compulsivos, alucinados sem conserto, profetas da desgraça ou pessoas equilibradas – e o discurso destas últimas é o único que verdadeiramente me preocupa – debitar o aterrador rol de tragédias que o novo ano quer despejar sobre nós. O que nos interessa é, sim, procurar uma oportunidade, descobrir um caminho, construir com o pouco que resta uma estratégia que evite a hecatombe civilizacional, perguntarmo-nos o que poderemos, no meio de tamanha depressão, fazer por nós e por Portugal.
Como não sou nem economista, nem sociólogo, o que é uma desvantagem na compreensão plena e na análise da actual situação, mas um ponto a meu favor quando se trata de rejeitar o pessimismo, pensar que posso ser mais eficaz no meu trabalho ou apostar na sobrevivência – da UE, do euro, do estilo de vida ocidental, do estado social e da soberania nacional –, acredito que os nossos maiores trunfos estejam tanto na capacidade de resistência à adversidade e na recusa em jogar a toalha ao chão, como no espírito empreendedor e na determinação na regeneração do tecido empresarial.
Sem mais empresas, novas e renovadas, e especialmente a funcionar melhor – muitas, mesmo muito melhor – não diminuiremos os níveis de desemprego, não cobraremos mais impostos, não recuperaremos a economia, não sairemos deste buraco. E como 2012 não poderá ser ainda, infelizmente, um ano de criação de emprego, seria bom, seria decisivo, que gestores e empresários se empenhassem a sério no emagrecimento saudável das suas organizações, e que os sindicatos se dedicassem enfim a proteger quem trabalha, desistindo da perniciosa protecção aos parasitas que pagam quotas.
Quando refiro um emagrecimento saudável, sei do que estou a falar. Em Portugal, e ao contrário do que por vezes se julga, não foi só o Estado que engordou. Há imensas empresas superendividadas, algumas já sem hipótese de recuperação, porque não se focaram nos resultados, porque não quiseram substituir o compadrio pela competência, porque se deixaram iludir na contratação de vendedores de ilusões, porque foram vulneráveis à intriga dos quadros e à criação de poderes paralelos, sempre imobilizadores, porque lhes faltou coragem a eliminar privilégios, combater vícios, identificar inutilidades, afastar amigalhaços. Eis o drama: sem que essa mudança de mentalidades e de procedimentos se faça, e em todo o lado, o país não andará para a frente.
Título e Texto: Alexandre Pais, Sábado nº 401, 05-01-2012

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