terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

China, o Japão de ontem?


Ministro das Relações Exteriores do Japão Mamoru Shigemitsu assina a Ata de rendição do Japão,
 no USS Missouri, perante o General Richard K. Sutherland, 02 de setembro de 1945
Plínio Sgarbi
Quanto à questão "qualidade", creio que o leitor deve se lembrar dos produtos japoneses que invadiram o mercado mundial nas décadas 1960 e 1970. Em apenas duas décadas após o Japão ser arrasado pela 2ª Guerra Mundial, o país se colocou entre os países adiantados. No início do seu período de industrialização o Japão contava com mão-de-obra abundante, o que permitiu um crescimento acelerado, mas os produtos japoneses eram semelhantes aos produtos chineses de alguns anos atrás, considerados baratos e ruins até pelos próprios japoneses. A etiqueta “made in Japan” era malvista, diziam que os japoneses nada criavam ou inventavam, só miniaturizavam. Em pouco tempo o produto "made in Japan" passou a ser sinônimo de qualidade e uma garantia de eficiência e o Japão passou a ameaçar os Estados Unidos como segunda potência econômica.
Quem quer se tornar uma potência, um dia tem que trocar a quinquilharia pela tecnologia. O Japão de algumas décadas atrás, dos robozinhos de lata aos mais modernos seres cibernéticos do planeta, o Japão deu um salto de tecnologia e qualidade em poucos anos. A lição japonesa foi então compreendida pela Coréia do Sul e pela China e demais Tigres Asiáticos. Copiando os japoneses, a partir da década de 70, o direcionamento da indústria eletrônica para a exportação de produtos baratos traz prosperidade econômica crescente e rápida para alguns países da Ásia. Coréia do Sul, Formosa (Taiwan), Hong Kong e Cingapura são os primeiros destaques. Dez anos depois, Malásia, Tailândia e Indonésia integram o grupo de países chamados Tigres Asiáticos. Apesar da recessão mundial dos anos 80, apresentam uma taxa de crescimento médio anual de 5%, graças à base industrial voltada para os mercados externos da Ásia, Europa e América do Norte.
Hoje produtos chineses estão tomando conta do restrito e lucrativo mercado de produtos de alta qualidade. No início, a China como grande produtor, para ganhar mercado, exportou para o mundo todo a preço abaixo do custo. Para tentar deter o avanço chinês, mercados aplicaram a lei antidumping, sobretaxando o produto chinês. Mas pouco adiantou, pois usaram outros mecanismos para driblar a taxação. E o estigma de baixa qualidade vem dessa época. A indústria chinesa superou essa fase. A China deu esse salto, hoje há milhares de empresas chinesas que fabricam produtos de qualquer outra qualidade do mundo. A etiqueta "made in China" mostra a real procedência dos vestidos franceses, das calcas americanas, das bolsas italianas, fabricadas na China. Reflexo de uma realidade do mercado de luxo: seis em cada dez roupas já são produzidas total ou parcialmente na China. A italiana Alzati, uma das mais caras marcas de tapetes do país, recentemente trouxe 30% da sua nova coleção da China.

E agora, veículos chineses começam a entrar no mercado, mas há de se lembrar que algo semelhante aconteceu com os automóveis japoneses. Os japoneses entraram no mercado dos Estados Unidos, com modelos pequenos e baratos para concorrer com os carrões americanos. Logo a tecnologia japonesa passou a se mostrar confiável e até chique, depois que entrou na moda economizar combustível.
Deng Xiaoping, herói da modernização chinesa, sem nenhum apreço por ideologias, nunca achou que um regime de liberdade política pudesse manter nos trilhos uma população de mais de 1 bilhão de habitantes
Na China há pobreza sim, mas não miséria, como todos os sinais de miséria que se apresentam na América Latina. Mas como isso é possível no país mais populoso do mundo (1,3 bilhão de chineses)? Por vários motivos. O salário mínimo do chinês é de cerca de 300 yuans, o médio está entre 500 e 600 yuans e o máximo mal chega a mil. Mas, com 150 yuans uma pessoa pode comer durante um mês, com 20 paga a moradia, quando é oferecida pela unidade de trabalho, e com poucos centavos paga a condução. Sobra dinheiro para outras despesas, como, por exemplo, o vestuário e o lazer.
Cada chinês pertence a uma unidade de trabalho, que pode ser a escola, a fábrica ou o hospital onde exerce sua profissão. A unidade de trabalho garante moradia, a preços baixíssimos, escola para as crianças e assistência médica. Todos os habitantes de uma cidade estão divididos em unidades de trabalho que, além de proporcionar a seus membros tudo o de que eles precisam, controlam em tudo o que fazem, aonde vão, se frequentam alguma religião
Entretanto, o capitalismo implantado na China tem grande intervenção do Estado (economia planificada), fato que ocorre de forma modesta em outros países de regime capitalista. O crescimento industrial proporcionou uma relativa melhoria na qualidade de vida da população, com destaque para as condições de moradia, alimentação e acesso ao consumo, especialmente de eletrodomésticos.
Como não há brutal carga de impostos trabalhistas, como no Brasil, que chega a ser vergonhoso o que se paga, onerando as empresas com os encargos sociais e previdenciário que chega ser uma aberração, e faz com que um em cada três empregados não tenha carteira assinada. O chinês costuma poupar um quarto de tudo que ganha, mesmo com tal fator educacional, ao longo de anos, também adquiriu a cultura e atitudes consumistas, como: uso crescente do cartão de crédito, substituição da bicicleta por carros e o jeito de vestir, elementos que produzem status na China.
Um quinto da humanidade foi puxado pelos cabelos para fora da zona de miséria. Os chineses, os tais amarelos que sobrevivem com um salário de miséria e mão-de-obra escravagista como insistentemente afirmam, compram em supermercados de padrão ocidental e em shopping centers mais ricos (com as mais admiradas grifes internacionais) e maiores do mundo. Os amarelos rodam em automóveis das marcas, Mercedes-Benz, BMW e Audi. Os aeroportos estão lotados de amarelos tomando jumbos para viagens internas e na construção civil, elevam-se os mais altos edifícios do mundo, com arrojada arquitetura pós-moderna e restaurantes com culinária das mais sofisticadas e iguarias exóticas, como: serpentes; escorpiões e roedores, herança alimentícia da miséria onde tudo que se movia, se comia.
O número de cidadãos chineses com mais de US$ 1 milhão disponíveis para investimento chegou a 534 mil em 2010 - o que eleva a China para o quarto lugar no ranking de países com maior número de milionários. E já são 115 chineses com pelo menos US$ 1 bilhão de livre disponibilidade.
Nas relações de busca da felicidade em uma sociedade de consumo "enganosa" como a nossa, ininterruptamente reposta como necessidade de mais consumo, de diversão, de conforto, de bem-estar individual e familiar, de lazer, padrões de vida e de "sonhos de consumo", também o pagamento de dízimo exagerado pelos pobres; o enriquecimento de igrejas, protegidas pela imunidade injustificável com a presença de ministros religiosos ocupando cargos públicos e etc. E em tais relações, não há a preocupação em consumir-comprar produtos de fabricação nacional, fomentando o emprego em nosso país, pois o certo e necessário sim refletir que os impostos é que estão matando a indústria brasileira. E que também passou-se a usar o dólar para controlar a inflação e manter o mercado interno abastecido. Sempre que inflação sobe, valorizava o real (desvalorizando o dólar), barateando as importações. E assim tem sido até hoje, mesmo no governo Dilma - que agora resolveu sobretaxar alguns produtos importados ao invés de diminuir a carga tributária dos produtos fabricados no país. Isso pode ocasionar um preço muito alto para o Brasil, aí sim está um certo futuro negro.
Nossa dívida interna e externa já está em mais de 2 trilhões. Fora essa dívida, resultante de gastos excessivos, ainda existe outro risco gigantesco, que é as centenas de bilhões de dólares investidos no mercado financeiro (Bolsa de Valores), atrás do juro brasileiro, o mais alto do mundo. Cerca de 10 vezes mais alto do que nos EUA e nos principais países da Europa. Ao primeiro susto, essas centenas de bilhões de dólares aplicados em Bolsa, somem em 24 horas.
Produtos que envolvem alta tecnologia é o setor que mais tem sido prejudicado. Na área eletrônica, já não fabricamos mais nada. O "fabricado no Brasil" é quase sempre uma enganação. Nessa área o Brasil apenas monta, não fabrica. Assim é em todas as áreas que envolvem alta tecnologia. Na área automobilística, as fábricas voltaram a ser montadoras, como eram 40 anos atrás. Praticamente só fabricamos as carrocerias e estofamentos. Todos os principais componentes são importados. Com a alta carga tributária, fabricá-los no Brasil torna o preço proibitivo.
Abraços
Texto: Plínio Sgarbi, 21-02-2012
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