Se o papa Bento XVI (ou
Benedito XVI) soubesse que sua visita pontifícia à ilha-cárcere da ditadura
socialista soviética dos Castros iria criar uma onda repressiva tão grande,
levando tantos mais às suas masmorras, possivelmente teria desistido de vir.
Imagino o quanto o Santo Padre
deve estar se sentindo constrangido e triste ao ver que a sua presença, ao
invés de inspirar a boa vontade e uma maior tolerância por parte dos dirigentes
da ilha – como talvez tenha sido a sua intenção ao visitá-la –, desencadeou uma
enorme onda repressiva contra os dissidentes, antigos e conhecidos do regime e
novos, que resolveram se expressar publicamente contra a iniquidade política e
econômica que vivem e sentem na carne, estimulados pela presença e pelas
palavras do santo pontífice.
Para piorar, dias antes, o
ex-presidente americano George W. Bush tratou de botar lenha na fogueira ao
apelar ao ex-prisioneiro político Oscar Elías Biscet, uma das mais destacadas
figuras da tímida oposição cubana, para que recebesse seus votos de
solidariedade e reiterar seu compromisso com a liberdade individual dos
cubanos. “Continuarei ajudando-o no melhor que puder”, disse Bush a Biscet.
“Quero que saiba que há muita gente aqui que o admira e respeita e vamos
continuar rezando por você. Na medida do possível, vamos manter a pressão não
apenas pela sua liberdade, mas também pela liberdade de todos os que vivem em
seu país”.
De 1999 a março de 2011,
Biscet ficou encarcerado, exceto por 36 dias, cumprindo uma condenação de 25
anos, por “tentar contra a segurança do estado comunista”. Nos últimos dias,
Biscet também tem sido vítima de uma campanha repressiva que já levou quase 200
dissidentes à prisão. Tanto Biscet como outros dissidentes e ativistas dos
direitos humanos exigiram das autoridades cubanas que identifiquem um
manifestante que foi preso e espancado minutos antes da missa papal na Praça
Antonio Maceo, em Santiago de Cuba. O manifestante foi capturado e abduzido por
agentes da Segurança do Estado depois de ter gritado várias vezes no meio da
multidão: “Abaixo o comunismo!”. Quando foi retirado da praça, o manifestante
foi esbofeteado violentamente e golpeado com uma mesa dobrável por um homem que
vestia uniforme da Cruz Vermelha de Cuba.
O incidente, que ocorreu numa
área próxima a uma plataforma onde estavam diversos cinegrafistas e fotógrafos,
foi amplamente difundido no mesmo dia.
Até ontem à noite, uns 200
dissidentes tinham sido presos ‘temporariamente’ ou forçados ao confinamento
dentro de suas residências. Janisett Rivero, do ‘Diretório Democrático Cubano’
(DDC), em Miami, disse que a repressão tinha aumentado consideravelmente
durante o dia em toda a ilha, mas, sobretudo nos estados ocidentais de Matanzas
e Havana.
Em Havana, o ex-prisioneiro
político Iván Hernández Carrillo alertou sobre mensagens de texto recebidas por
ele, nas quais fontes anônimas ameaçam ‘dar sumiço’ aos membros da resistência,
assim que a visita do Papa termine, informou o DDC.
“Apesar da repressão da
ditadura Castro, vamos estar todas, vestidas de branco, com um pulôver com a
imagem do Santo Padre e da Virgem da Caridade do Cobre”, disseram as ‘damas de
branco’, que são vigiadas de perto por agentes da repressão comunista. “Nos, as
Damas não vamos ficar presas em nossas casas, porque é um direito sair para
assistir a missa”. Elas têm pedido uma reunião com o Papa de pelo menos ‘um
minuto’ para que possam informar a ele sobre a situação interna e os atos de
provocação e perseguição a que são continuamente submetidas.
Durante uma conferência de
imprensa ontem no Hotel Nacional de Havana, Lombardi disse que o Papa está a
par dos pedidos, mas ‘lamentou que não há disponibilidade de tempo para
satisfazê-los. “Não estão previstos encontros do Santo Padre com sacerdotes,
religiosas, seminaristas e nem com grupos particulares, mas a comitiva papal
está atenta ao que escuta de suas palavras”, disse. “Todas essas esperanças,
toda essa dor, todas essas ilusões também estão presentes. O Santo Padre fala
por todos os cubanos, dos que estão próximos e dos que estão distantes, e dos
que sofrem”.
Desde que o Papa chegou à ilha
de Cuba, entre as medidas repressivas postas em prática com mais empenho pelos
agentes do governo comunista estão os cortes da telefonia celular e fixa dos
opositores.
Oswaldo Payá, coordenador do
Movimento Cristão de Libertação (MCL), condenou o clima de medo, terror e
repressão contras os que ainda têm um resquício de coragem para fazer oposição
à sanguinária ditadura comunista dos Castros. “Não se deve aceitar em silêncio
tantos maus tratos do regime, tanto abuso e prisões contra os que defendem
pacificamente os direitos humanos”, declarou Payá num comunicado. Recentemente,
Payá solicitou aos governos democráticos e organismos de defesa dos direitos
humanos que intercedam perante o governo para frear a escalada de atos de repúdio
e de violência por parte da ditadura aos opositores.
“Enquanto Raúl Castro saudava
pela segunda vez o Papa na missa”, disse Payá ontem, “seus bandos repressivos
atropelavam centenas de dissidentes e os metiam na prisão em toda Cuba para que
nem sequer possam ver o Papa de longe”.
A cada dia, o regime cubano se
torna mais e mais um exemplo vergonhoso para a humanidade.
Título e Texto: Francisco
Vianna
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