quinta-feira, 26 de abril de 2012

Capitalismo de Estado: a grande fonte da corrupção sistêmica

O WalMart tem sido vítima de extorsão direta, no México, e indireta nos EUA

Jeffrey Tucker

No fim de semana, fomos brindados com uma exibição absurda de intimidação pelas alegações de que o Wal-Mart México (prepare-se para um choque) pagou subornos a funcionários públicos para ter o direito legal de fazer negócios no país.

Como se vê, para fazer um negócio sério nos Estados Unidos requer vastas contribuições de campanha para várias camadas de políticos eleitos, um exército de lobistas em Washington, funcionários públicos aposentados em sua chapa e devoção do público à religião cívica americana. Ocorre todos os anos e se reinicia a cada ciclo eleitoral.

Mesmo assim, é difícil saber se você vai conseguir aquilo pelo que você paga.

É mais fácil e mais eficiente no México. Você paga a propina diretamente. O tomador de decisão recebe o dinheiro. Ele ou ela limpa o caminho para você fazer a coisa. O facilitador tira a sua fatia. As pessoas em sua maioria mantêm suas promessas. O negócio está feito.

Aparentemente, pagar suborno nos Estados Unidos é um sinal de uma democracia saudável e funcionando; fazer a mesma coisa no México, de uma maneira mais simples e direta, é uma violação criminosa dos padrões de ‘boa governança corporativa’.

Fila para a black friday
Aqui nos EUA temos o 'The New York Times' "expondo" o fato chocante e, presumivelmente, medonho, de que, durante vários anos, o Wal-Mart gastou US $24 milhões em pagamentos a políticos, burocratas e porteiros no México, na esperança das pessoas que empregam e das que precisam dos empregos trazerem bens e serviços a quem deles precisa.

A exposição de tirar o fôlego e de chocar escrita pelo NYT é como se esses repórteres intrépidos estivessem expondo uma turba violenta envolvida em assassinatos para obter o que querem. Nunca se percebe bem que o Wal-Mart seria muito melhor tendo usado essa dinheirama toda para expandir seus negócios, contratar mais funcionários ou otimizar seu inventário de estoques. O dinheiro usado para o suborno é uma perda para qualquer empresa, um preço terrível a pagar para se fazer negócios com o estado ou até apenas sob a sua ‘supervisão’.

Em qualquer caso, o monte de informações foi cavado sobre o conteúdo de comunicações de empregados descontentes. E isso é dificilmente incomum. É como o negócio é feito. Independentemente disso, o NYT está em busca de sangue – não dos extorsionistas que dirigem o sistema, mas de uma de suas vítimas, o Wal-Mart.

Na última contagem, havia 1.200 novas estórias sobre isso sendo transmitidas. A revista FORBES relata: "As Lojas Wal-Mart, provavelmente, enfrentarão a ira do Departamento de Justiça dos EUA para frear uma investigação interna sobre alegações de suborno em sua subsidiária mexicana". Tenho certeza de que as investigações do Congresso estão próximas, com todos os executivos nomeados sendo arrastados perante as comissões e assediados pelos reguladores.

A amarga ironia é que o DJ americano vai transferir mais recursos do sistema mexicano para os EUA. Para sobreviver, o Wal-Mart será forçado a gastar mais do que os US $ 12 milhões ou mais que já gasta por ano em contribuições de campanha e a lobbies.

Toda a aplicação prática do Ato de Práticas Corruptas Estrangeiras (APCE) faz aumentar a quantidade de práticas corruptas domésticas. Na verdade, essa é a forma como o sistema 'deve' funcionar. Verdadeiramente, se o APCE fosse realmente posto em prática como está escrito, os negócios em todo o mundo chegariam a um impasse insuperável e esmagador.

No bem conhecido sistema mexicano, as pessoas chamadas de "gestores" se especializaram em intermediar o negócio e a burocracia. Elas lidam com os inspetores, os emissores de licenças ambientais, os burocratas, os funcionários e fiscais do trabalho e os reguladores de zoneamento. Além do poder de fazer isso, os ‘gestores’ mantêm uma taxa de 6% para eles, apenas por uma questão de convenção. Até mesmo cidadãos comuns usam essas pessoas para ficar na fila para tirar alguma vantagem – tudo num esforço para encontrar meios não violentos de contornar os burocratas.

Devido a essas barreiras ridículas existentes, o sistema não chega a ser terrível. Para o empresário, governos corruptos dos quais se podem comprar os modos de como prosseguir nos negócios são muito melhores do que os "bons governos", que bloqueiam todo o progresso.

O problema sobre o Wal-Mart é que ele fez muito pior. Quando a empresa descobriu que isso estava acontecendo, varreu o lixo para debaixo do tapete, ao invés de vir a público e denunciar tudo. Sem brincadeira! Será que talvez a empresa tenha imaginado que isso a mancharia e que os fatos a atacariam?

Subornar funcionários é ilegal no México, assim como o é nos Estados Unidos. Mas, claro, que isso é apenas uma fina casca brilhante a disfarçar o que está por baixo. Em qualquer lugar que haja governo, haverá corrupção. Esse é o propósito das barreiras à empresa, para extrair a riqueza daqueles que querem superá-las.

Será que vale a pena? É pagar ou não fazer negócios, o que significa pobreza duradoura. Hoje, o Wal-Mart México emprega 209.000 pessoas e é o maior empregador do país. A empresa forneceu um exemplo fabuloso do mérito da iniciativa privada neste país, que está finalmente se reerguendo economicamente. Trouxe alimentos, bens e serviços para milhões de pessoas que de outra forma não os teriam. Fez mais em 10 anos para o México do que todos os burocratas dos governos têm feito em cem ou mil anos.

Por seu crime de trazer desenvolvimento econômico para este país, a empresa deve ser denegrida, espancada e obrigada a prestar reverência à classe política americana. Por que o México deve desfrutar de tal generosidade, quando há milhões de burocratas americanos que precisam fazer parte deste trem da alegria?

Pode-se ler milhares de artigos acadêmicos sobre o problema da "corrupção" em países ao redor do mundo e perder completamente o foco do ponto central. A maneira de eliminar a corrupção é eliminar as barreiras às empresas. Por que isso não é óbvio? Porque muitas pessoas imaginam um ideal utópico que não existe agora e nunca existiu: um 'bom governo'. Eles imaginam que as regras do governo podem ser aplicadas de forma imparcial com base na ciência ou o bem público.

É pura bobagem. Como Ludwig von Mises escreve em 'Ação Humana':

"Infelizmente, os ocupantes de cargos e seus auxiliares não são angelicais. Eles aprendem muito cedo o que as suas decisões significam para os empresários, quer em perdas consideráveis ou, às vezes, em ganhos enormes. Certamente, há também burocratas que não levam propinas, mas há outros que estão ansiosos para tirar proveito de qualquer oportunidade 'segura' de 'compartilhar' com aqueles a quem suas decisões favorecem... A corrupção é um efeito regular do intervencionismo estatal, onde o estado é o corruptor e a empresa, para sobreviver, é a corrompida".

Mas aqui está a parte que me incomoda tanto. De alguma forma, a iniciativa privada é sempre e em toda parte a culpada por perpetuar a corrupção, quando a verdade é, obviamente, que a culpa recai sobre os governos. A primeira é forçosamente corrompida pelo último que é corruptor. Quem corrompe é não apenas quem paga como também quem diz o que pode e o que não pode ser feito. É como assistir um assalto e culpar o assaltado para andar com muito dinheiro no bolso. É como dizer a alguém que enfrenta a exigência "a bolsa ou a vida" que deva sempre optar por entregar sua vida, ou chamar de corrupto quando entrega todo o seu dinheiro ao assaltante.

O pano de fundo aqui é nada menos do que o velho e mofado ressentimento anticapitalista. As 'elites' detestam o Wal-Mart por sua realização de ter colocado em exposição a realidade incrível do capitalismo que nunca se ouve falar na escola: é o sistema que está focado de forma maníaca no bem-estar da sociedade e a serviço do homem comum.

Quando se vai ao Wal-Mart não se vêm operários e camponeses se rebelando contra o sistema, mas comprando coisas que tornam suas vidas melhores. Parece algo bastante mundano, mas é como a civilização é construída: uma troca econômica de cada vez.

As pessoas que se interpõem nesse processo não merecem um centavo, mas a iniciativa privada é quase sempre boa o suficiente para expeli-las da vida econômica de um país, ou de outro modo a sociedade estará em vias de extinção.

Nos países socialistas, não existem empresas privadas, e os substitutos estatais para elas só são capazes de criar filas, desabastecimento, e divisão igualitária da miséria e da pobreza na população, enquanto suas ‘elites’ em seus politburos têm tratamento diferenciado e nababesco por fontes ‘especiais’ de fornecimento de bens e serviços, quase sempre adquiridos nos países capitalistas desenvolvidos.

O Wal-Mart merece a nossa simpatia, não a nossa condenação.
Jeffrey Tucker - Editor Executivo do ‘Laissez Faire Books’ – Auburn, Alabama, EUA, 23 de abril de 2012
Tradução e Destaques: Francisco Vianna

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