quinta-feira, 26 de abril de 2012

Esta política está certa?

José António Saraiva
A maior dúvida que todos os portugueses hoje têm, perante as opiniões contraditórias com que diariamente são bombardeados, é a seguinte: esta política de austeridade imposta pela troika e adoptada pelo Governo de Passos Coelho está certa ou está errada?
Têm razão os que dizem que estamos no bom caminho e não nos devemos afastar dele – ou os que defendem que nos encontramos perante um enorme logro e devíamos estar a apostar em políticas de crescimento?
Esta última é a posição do PS, mais mitigada no que respeita a Seguro, mais agressiva no que toca aos socráticos como Pedro Silva Pereira, Augusto Santos Silva, etc.
Normalmente em política não é possível fazer a contraprova – mas neste caso é.
A aposta no crescimento era basicamente a receita de Sócrates.
Um crescimento em que o Estado desempenhava o papel de locomotiva – e daí a aposta em projectos como a Parque Escolar, o Magalhães, a multiplicação de auto-estradas, o novo aeroporto de Lisboa, o TGV ou a requalificação da Zona Ribeirinha.
O problema é que não havia dinheiro para fazer nada disto – e o que foi feito implicou um maciço recurso ao crédito.
E assim a dívida foi crescendo de forma assustadora, os juros subiram e Portugal chegou a uma situação de pré-insolvência.
A intenção podia ser boa, mas não tinha sustentação.
A Parque Escolar seria um projecto excelente – «as crianças portuguesas têm direito ao melhor que há», como disse uma ex-ministra – se tivéssemos dinheiro para o pagar; só que não tínhamos.
E com as famílias passava-se o mesmo: o crédito barato permitia que fossem pedindo empréstimos para comprar isto e aquilo.
O endividamento constante e sem fim à vista fez de Portugal um carro que avançava direito ao precipício e que, em vez de travar, acelerava sempre mais.
Assim, quando chegou ao poder, este Governo fez o óbvio: travou a fundo.
E depois inverteu a marcha, passando do investimento ao corte generalizado.
Mas, sendo inquestionável que o caminho anterior estava errado, o que garante que este esteja certo apenas por ser o oposto do outro?
Há um dado recente muito encorajador.
Comparativamente ao ano passado, as nossas importações baixaram perto de mil milhões de euros e as nossas exportações cresceram quase outro tanto.
O saldo da nossa balança comercial melhorou, pois, em quase dois mil milhões de euros.
Ora, independentemente de tudo o resto, o caminho terá de ser este: vivermos daquilo que produzimos.
Não consumirmos acima das nossas possibilidades.
Não gastarmos mais do que recebemos.
Claro que a baixa do consumo interno afecta a economia, afecta os comerciantes e algumas empresas.
Mas o consumo interno tinha de baixar por uma razão óbvia: a maior parte dos produtos que consumimos são importados.
E, como não temos dinheiro para os comprar, o aumento do consumo traduz-se directamente no aumento da dívida ao exterior.
Os últimos dados da balança comercial lançam, pois, algum optimismo na descrença generalizada.
É assim – reduzindo por um lado o défice público, equilibrando por outro lado a balança comercial – que poderemos chegar a algum lado.
Deitar dinheiro para cima da economia sem grande retorno, ou concedendo crédito fácil às famílias, como estávamos a fazer, não nos levava a lado nenhum.
Por isso, não percebo como é possível que ministros do Governo anterior, como Silva Pereira ou Santos Silva, venham criticar as políticas actuais.
Eles tiveram a sua oportunidade e desperdiçaram-na.
São corresponsáveis por uma estratégia que se revelou suicida.
Se as suas ideias estivessem certas, eles teriam tido sucesso.
Sendo legítimo pôr todas as políticas em causa, é absurdo fazê-lo em nome de outras que foram experimentadas com péssimos resultados.

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