José António Saraiva
A maior dúvida que todos os
portugueses hoje têm, perante as opiniões contraditórias com que diariamente
são bombardeados, é a seguinte: esta política de austeridade imposta pela
troika e adoptada pelo Governo de Passos Coelho está certa ou está errada?
Têm razão os que dizem que
estamos no bom caminho e não nos devemos afastar dele – ou os que defendem que
nos encontramos perante um enorme logro e devíamos estar a apostar em políticas
de crescimento?
Esta última é a posição do PS,
mais mitigada no que respeita a Seguro, mais agressiva no que toca aos
socráticos como Pedro Silva Pereira, Augusto Santos Silva, etc.
Normalmente em política não é
possível fazer a contraprova – mas neste caso é.
A aposta no crescimento era
basicamente a receita de Sócrates.
Um crescimento em que o Estado
desempenhava o papel de locomotiva – e daí a aposta em projectos como a Parque
Escolar, o Magalhães, a multiplicação de auto-estradas, o novo aeroporto de Lisboa,
o TGV ou a requalificação da Zona Ribeirinha.
O problema é que não havia
dinheiro para fazer nada disto – e o que foi feito implicou um maciço recurso
ao crédito.
E assim a dívida foi crescendo
de forma assustadora, os juros subiram e Portugal chegou a uma situação de
pré-insolvência.
A Parque Escolar seria um
projecto excelente – «as crianças portuguesas têm direito ao melhor que há»,
como disse uma ex-ministra – se tivéssemos dinheiro para o pagar; só que não
tínhamos.
E com as famílias passava-se o
mesmo: o crédito barato permitia que fossem pedindo empréstimos para comprar
isto e aquilo.
O endividamento constante e
sem fim à vista fez de Portugal um carro que avançava direito ao precipício e
que, em vez de travar, acelerava sempre mais.
Assim, quando chegou ao poder,
este Governo fez o óbvio: travou a fundo.
E depois inverteu a marcha,
passando do investimento ao corte generalizado.
Mas, sendo inquestionável que
o caminho anterior estava errado, o que garante que este esteja certo apenas
por ser o oposto do outro?
Há um dado recente muito
encorajador.
Comparativamente ao ano
passado, as nossas importações baixaram perto de mil milhões de euros e as
nossas exportações cresceram quase outro tanto.
O saldo da nossa balança
comercial melhorou, pois, em quase dois mil milhões de euros.
Ora, independentemente de tudo
o resto, o caminho terá de ser este: vivermos daquilo que produzimos.
Não consumirmos acima das
nossas possibilidades.
Não gastarmos mais do que
recebemos.
Claro que a baixa do consumo
interno afecta a economia, afecta os comerciantes e algumas empresas.
Mas o consumo interno tinha de
baixar por uma razão óbvia: a maior parte dos produtos que consumimos são
importados.
E, como não temos dinheiro
para os comprar, o aumento do consumo traduz-se directamente no aumento da
dívida ao exterior.
Os últimos dados da balança
comercial lançam, pois, algum optimismo na descrença generalizada.
É assim – reduzindo por um
lado o défice público, equilibrando por outro lado a balança comercial – que
poderemos chegar a algum lado.
Deitar dinheiro para cima da
economia sem grande retorno, ou concedendo crédito fácil às famílias, como
estávamos a fazer, não nos levava a lado nenhum.
Por isso, não percebo como é
possível que ministros do Governo anterior, como Silva Pereira ou Santos Silva,
venham criticar as políticas actuais.
Eles tiveram a sua
oportunidade e desperdiçaram-na.
São corresponsáveis por uma
estratégia que se revelou suicida.
Se as suas ideias estivessem
certas, eles teriam tido sucesso.
Sendo legítimo pôr todas as
políticas em causa, é absurdo fazê-lo em nome de outras que foram
experimentadas com péssimos resultados.
Título e Texto: José António
Saraiva, SOL,
23-04-2012
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