Wálter Fanganiello Maierovitch
Para a mídia alemã não
representa notícia de interesse público o fato de a chanceler Angela Merkel,
chefe de governo, não dar carona ao marido em avião oficial.
Merkel passou a Páscoa na
cidade italiana de Nápoles a fim de descansar. O avião oficial que a
transportava desembarcou na sexta-feira e o corpo de segurança alemão a
acompanhou à residência que alugara com dinheiro próprio.
Cerca de quatro horas depois
do desembarque de Merkel em Nápoles, chegou o seu marido. Estava programado que
o casal passaria a Páscoa em Nápoles. O “maridão”, no entanto, pegou um vôo
comercial Berlim-Roma e, na sequência, uma conexão para Nápoles.
Por que não pegou uma “carona”
com a poderosa chanceler e esposa?
A resposta é simples. A carona
em vôo oficial, segundo a legislação alemã, é muito cara. Mais de dez vezes o
preço de um bilhete aéreo comercial. Por isso, o casal Merkel viajou separado.
Em outras palavras, para economizar. Assim, o varão viajou como um comum mortal
que, temporariamente, é esposo da chefe de governo da Alemanha. A virago, de
enormes responsabilidades institucionais, cumpriu a lei e fez economia
doméstica.
No Brasil, o senador Eduardo
Suplicy, depois de noticiado na imprensa, correu para devolver o valor de uma
passagem aérea que o seu gabinete, por sua ordem e numa relação privada, havia
comprado para a namorada.
Ontem, no final da tarde, um
avião alemão oficial conduziu Merkel de volta a Berlim, sede do governo e sua
cidade natal. O esposo da chanceler partiu hoje cedo em vôo de carreira, com
conexão e passagem paga por ele próprio e não pelo cidadão alemão.
O fato não passou em branco na
mídia italiana, que, no momento, cobre o escândalo a envolver o senador Umberto
Bossi, líder do partido político da Liga Norte e já demissionário da secretaria-geral,
e a vice-presidente do Senado da República italiana, Rosi Mauro, de 42 anos.
Bossi pagava as elevadíssimas
despesas familiares com dinheiro público referente ao financiamento de
campanhas e do partido político.
Não bastasse, a Liga Norte,
administrada por Bossi, pagava um “mensalão” para a vice-presidente do Senado,
que fundou um sindicato e mantém o amante-cantor como chefe de gabinete.
Cerca de 500 milhões de euros
foram “desviados” pela Liga Norte, segundo noticiado pela imprensa e cálculos
da magistratura do Ministério Público. Dois filhos de Bossi compraram diplomas
escolares na Suíça e Inglaterra. Tinham carrões de marca BMW e Porsche. A casa
de Bossi foi toda reformada e a sua esposa, leitora de livros de magia negra,
instalou com dinheiro público desviado, na cidade de Varese (vizinha a Milão),
uma escola maternal onde se autocontratou como diretora-geral.
Líder separatista e praticante
de xenofobia, Bossi, durante 20 anos, referia-se à capital do país como “Roma
Ladrona” (verbis). Desde ontem, nos muros de Roma estão grudados cartazes com o
título: “Lega Nord Ladrona”.
Dispensável dizer que Bossi
alega que não sabia de nada. Não controlava o tesoureiro do partido e, num
atentado à inteligência italiana, coloca-se em panos de quem não percebia nada.
Nem quando a casa estava sendo reformada e os filhos chegavam com automóveis
novos e caríssimos.
A vice-presidente do Senado,
Rosi Mauro, eleita pela Liga Norte em 21 de dezembro de 2010, não vê
necessidade de se afastar da vice-presidência. Ela disse aguardar o trabalho da
Magistratura do Ministério, que se desenvolve em três frentes independentes:
Milão, Calábria (suspeita de lavagem de dinheiro da Liga Norte pela máfia
calabresa ´NDrangheta) e Nápoles.
Como no Brasil, os políticos
confundem princípios. A presunção de não culpabilidade (mal chamada no Brasil
de presunção de inocência) aplica-se no processo criminal. Não se aplica em
política, como se viu, por exemplo, nas cassações de José Dirceu e Roberto
Jefferson.
Pano rápido. Na Itália, a
Operação Mãos Limpas acabou de completar 20 anos. Os membros da magistratura do
Ministério Público continuam atentos. No Brasil, o sistema, pela concentração
de competência em mãos dos procuradores-gerais (da República e dos estados) não
permite que tenhamos uma Operação Mãos Limpas. Só os procuradores-gerais
(escolhidos pelo presidente da República e, nos estados, pelos governadores)
cuidam dos políticos no Brasil. E em nosso país, ao contrário da Itália da Operação
Mãos Limpas, têm foro privilegiado e o Caixa 2 é descarado e indecoroso.
09 de abril de 2012
Por esses exemplos – da Sra. Merkel, da Alemanha e do povo alemão – é que são tão invejados e detratados – por incompetentes, invejosos e preguiçosos. Deu pra entender?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-