Nos anos 90 e princípio do
século XXI, a Europa transbordava de optimismo. A vitória sobre o comunismo, o
euro, a riqueza, a “sensibilidade social” eram outros tantos sinais de uma
superioridade que tinha por inequívoca.
Luciano Amaral
A Europa desse tempo era o fim
da História. Nem sequer a América tinha lições para dar, com a barbárie da pena
de morte, do porte de armas, da falta do "Estado Social" e a vontade
de ir para a guerra em todo o lado. Não só o desenvolvimento económico e social
a colocava acima de todos como também o fazia o "poder macio" (‘soft
power'). Toda a gente devia ser como a Europa. Neste mundo europeu, não havia
lugar para guerras. A Europa era a compreensão de tudo. Tudo cabia na Europa
"humanista", "social" e próspera.
Satisfeita com o fim da
História, a Europa não via que ela estava apenas a começar noutros lados. A
nacionalização pela Argentina da empresa petrolífera YPF, expropriando a
espanhola Repsol, não é uma mera história de petróleos, nem sequer de direitos
de propriedade. Trata-se do mais recente episódio de uma ofensiva
"anti-colonial" que a "presidenta" Cristina Kirchner vem
desenvolvendo e que teve a sua afirmação mais espectacular no regresso à
reclamação da soberania sobre as ilhas Falkland (perdidas para a Inglaterra em
1833). Ouvir a retórica anti-colonial de Kirchner remete-nos para um tempo de
que os europeus já não se lembravam. Pouco importa que Kirchner (de origem
alemã e espanhola) e a própria Argentina sejam dos melhores exemplos do
colonialismo europeu (que massacrou os verdadeiros argentinos originais, os
índios de que lá há poucos vestígios actualmente). Importa que o nacionalismo
da América do Sul não é apenas anti-americano, é também anti-europeu. E importa
mais ainda que a Europa não sabe lidar com isto: porquê atacar quem só quer a
paz, quem só quer um mundo de harmonia entre os povos?
Claro que estamos aqui de
regresso a uma velha história argentina, a do peronismo, essa espécie de
fascismo social e sindical que se afirmou contra os banqueiros, os fazendeiros
e os ingleses (nem que fosse apoiando a Alemanha nazi). Cristina Kirchner não
perde uma oportunidade para aparecer enquadrada com imagens de Evita Perón. Mas
a Europa olha estupefacta. Noutros tempos talvez a Espanha enviasse uma
expedição punitiva. Hoje, não consegue garantir um mínimo de protecção dos
direitos de propriedade dos seus investidores ou uma condenação efectiva da
Europa, essa entidade que pura e simplesmente não sabe o que fazer consigo
própria.
Era o fim da História, não
era? Afinal parece que está tudo apenas a começar.
Título e Texto: Luciano Amaral, Professor Universitário, Diário Económico, 26-04-2012
Título e Texto: Luciano Amaral, Professor Universitário, Diário Económico, 26-04-2012
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