Ricardo Lima
Ser um Libertário não implica
a concordância com tudo que de estúpido e imbecil as pessoas fazem a si
próprias e entre si, voluntariamente. É aceitá-lo, mesmo não respeitando e
admitir tais actos como consequências necessárias, ainda que por vezes desagradáveis,
da existência de um mundo de homens livres, com prazeres, saberes e ambições
que diferem. E ainda bem que diferem. Aos olhos de tantos, a igualdade não é
mais que a estandardização do comportamento humano, condicionado, na
preferência destes, segundo padrões tradicionais ou científicos, segundo livros
sagrados ou estudos académicos. O libertário não é um extremista, do meu ponto
de vista. Extremismo é a censura inquisitorial, provinciana, ignorante e feia,
muito feia, com que muitos encaram a crença aparentemente radical, quase
terrorista de que o Homem, essa complexa criatura antecessora de toda e
qualquer forma de proto-organização política, nasce livre. E a gravidade
adensa-se quanto na admissão de que o Homem nasce efectivamente livre, se
considera que o Estado, construído por ele para assegurar, através das forças
de segurança que o protegem do seu vizinho, através do exército que o protege
da nação vizinha e através do tribunal que julga as suas disputas, a sua liberdade, pode ser ele próprio o condicionador
da mesma. É o futuro distópico em que o Homem, tendo construído a máquina para
o servir, vê essa mesma máquina ganhar força, inteligência própria e é, no
final da história, escravizado por ela. É surpreendente que a intolerancia,
essa assassina de sonhos e vontades ao longo da história – e quase sempre no
sentido literal da palavra – não só tenha sobrevivido à Era do Conhecimento,
como se tenha expandido, alargado, adaptado aos meios coercivos que o futuro
lhe foi deixando à disposição. E no centro do tabuleiro, o libertário, essa vil
criatura amante de uns quantos filósofos defuntos que, diga-se de passagem,
lançaram as bases para o mundo moderno onde hoje grassam, sem repressão, os que
fazem da intolerância, da extorsão e da propaganda o seu programa político. O
mundo deve mais ao pensamento libertário do que realmente imagina. Já o
libertário, este não exige nada do mundo, não deve nada ao mundo e não guarda
em relação ao mundo que o rodeia nada mais que um simples e incompreendido
desejo: que este o deixe em paz.
Título, Imagem e Texto:
Ricardo Lima, no blogue “O Insurgente”, 22-05-2012
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