quinta-feira, 31 de maio de 2012

Leva o que quiser, mas deixa o cãozinho

Márvio dos Anjos
É de se esperar que bandidos trabalhem com um piso moral rebaixado: não deixa de ser um pré-requisito para quem investe nessa profissão. Mas há certas crueldades que chocam pelo ineditismo.
Foi o que aconteceu com Zeca, um cão dócil da raça staffordshire terrier da zona sul de São Paulo. Ele e o cineasta americano Blake Farber, amigo de seu dono, saíam para passear quando encontraram criminosos armados que haviam invadido o edifício em que moravam, na prática de assalto em bando que chamamos “arrastão”: um grupo numeroso leva o que encontrar de várias pessoas, sem ter alvos definidos.
- Ele morde? – Perguntou um dos bandidos.
- Não, ele é muito simpático – respondeu o cineasta, num português de sotaque carregado.
Blake foi levado para um depósito onde outros 20 moradores estavam amarrados, entre eles o dono de Zeca. O cachorro ficou em outro lugar. Quando os bandidos deram a fatura por encerrada, o dono do cachorro perguntou onde estava o animal, e ouviu como resposta uma cretinice:
- Ele é muito bonito para você.
E assim Zeca foi levado pelos bandidos no último dia 22, que não se satisfizeram apenas com um carro, laptops, joias e mais de R$ 20 mil. Um cachorro também pareceu-lhes um bem precioso, passível de roubo.
Após uma campanha conduzida pelo dono através do Facebook, Zeca foi reencontrado numa favela da zona leste da cidade – menos mal que estava bem tratado e brincava com crianças. A polícia também deteve três suspeitos do assalto na mesma ocasião.
Só neste ano, foram registradas 16 ocorrências de arrastões em São Paulo, o que por si só detona uma paranoia coletiva a respeito da segurança dos edifícios. Há vezes em que matam quem se lhes impõe um obstáculo, e isso já é de uma desumanidade brutal. Mas o que se fez com Zeca e seu dono é do perfil de crueldade que constrói um oficial nazista de filme. Mas Zeca passa bem, e assim passamos até que venha a próxima.
Título e Texto: Márvio dos Santos, Destak

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