Márvio dos Anjos
É de se esperar que bandidos
trabalhem com um piso moral rebaixado: não deixa de ser um pré-requisito para
quem investe nessa profissão. Mas há certas crueldades que chocam pelo
ineditismo.
Foi o que aconteceu com Zeca,
um cão dócil da raça staffordshire terrier
da zona sul de São Paulo. Ele e o cineasta americano Blake Farber, amigo de seu
dono, saíam para passear quando encontraram criminosos armados que haviam
invadido o edifício em que moravam, na prática de assalto em bando que chamamos
“arrastão”: um grupo numeroso leva o que encontrar de várias pessoas, sem ter
alvos definidos.
- Ele morde? – Perguntou um
dos bandidos.
- Não, ele é muito simpático –
respondeu o cineasta, num português de sotaque carregado.
Blake foi levado para um
depósito onde outros 20 moradores estavam amarrados, entre eles o dono de Zeca.
O cachorro ficou em outro lugar. Quando os bandidos deram a fatura por
encerrada, o dono do cachorro perguntou onde estava o animal, e ouviu como
resposta uma cretinice:
- Ele é muito bonito para
você.
E assim Zeca foi levado pelos
bandidos no último dia 22, que não se satisfizeram apenas com um carro,
laptops, joias e mais de R$ 20 mil. Um cachorro também pareceu-lhes um bem
precioso, passível de roubo.
Após uma campanha conduzida
pelo dono através do Facebook, Zeca foi reencontrado numa favela da zona leste
da cidade – menos mal que estava bem tratado e brincava com crianças. A polícia
também deteve três suspeitos do assalto na mesma ocasião.
Só neste ano, foram
registradas 16 ocorrências de arrastões em São Paulo, o que por si só detona
uma paranoia coletiva a respeito da segurança dos edifícios. Há vezes em que
matam quem se lhes impõe um obstáculo, e isso já é de uma desumanidade brutal.
Mas o que se fez com Zeca e seu dono é do perfil de crueldade que constrói um
oficial nazista de filme. Mas Zeca passa bem, e assim passamos até que venha a
próxima.
Título e Texto: Márvio dos Santos, Destak
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