sexta-feira, 22 de junho de 2012

Americanos querem saber quem vai pagar a conta pela defesa do mundo livre

Finalmente, alguém no governo questiona sobre o imposto para financiar a próxima guerra
Walter Pincus
Há pelo menos onze anos, desde que os EUA entraram em Guerra contra o Terror, só agora surgiram uns poucos minutes de debate público a respeito de um imposto a ser pago para financiar a guerra. Mas tal imposto será cobrado apenas para a próxima guerra.

Senadores discutem na Subcomissão de Apropriação do Senado sobreimposto para financiar as guerras
“Qual seria o impacto sobre a economia americana, se o país fosse novamente à guerra sem se comprometer em arrecadar um imposto específico para financiá-la – algo que, pela primeira vez na história do país, não foi feito no caso do Iraque ou no caso do Afeganistão”? Foi a pergunta que o senador Democrata de Vermont, Patrick J. Leahy, fez ao Secretário de Defesa Leon E, Panetta, ouvido no inquérito da Subcomissão do Senado de Apropriação de Defesa em 13 deste mês de junho.  
Esta é uma pergunta que deveria ser feita ao Pentágono e à Casa Branca, antes que o Presidente da República enviasse forças armadas dos EUA para operações militares no exterior ou aos membros do Congresso para que propusessem uma legislação que autorizasse tais ações militares e que providenciasse a arrecadação fiscal específica para pagar por elas. “Nós, basicamente, levamos adiante esta guerra (Iraque) na base do cartão de crédito”, disse Leahy a Panetta, que tinha sido convocado para discutir o projeto de lei sobre “Apropriação Fiscal de Defesa para 2013”. “Agora, vemos pessoas que exigem mais ação militar em outras partes do mundo e, ao mesmo tempo, não querem saber de forma nenhuma sobre como pagar por isso”. Querem tomar chocolate? Então paguem o que devem! – como diz uma conhecida canção latina.  
Nenhum detalhe foi mencionado, mas Leahy obviamente pensava nos preparativos de guerra e como prover a logística e as armas à oposição síria ao ditador Bashar al-Assad proposta pelos senadores: do Arizona, John McCain (Rep.), da Carolina do Sul, Lindsey O. Graham (Rep.), e de Connecticut, Joseph I. Lieberman (Indep.), bem como pelo provável candidato Republicano à Presidência, Mitt Romney e seus assessores. E quem está pronto para pagar o que for necessário caso os Estados Unidos da América tenham que recorrer à ação militar para impedir que o Irã, por exemplo, consiga seu arsenal nuclear? Os esforços na Líbia já custaram mais de um bilhão de dólares.
Leahy podia ter pensado numa autorização do Capitólio ao Presidente Obama para enviar 100 Forças Especiais à África Central em outubro próximo. Elas estarão dando apoio às unidades ugandenses, congolesas e centro-africanas na caça a ao facínora Joseph Kony e seu Exército da Resistência de Deus. Isso tudo sem mencionar possíveis missões que possam vir a ser necessárias na América do Sul, cada vez mais sob o domínio de governos marxistas e progressivamente antiamericanistas.
Panetta respondeu da forma esperada de um ex-diretor da Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, de um diretor do Escritório de Gerenciamento do Orçamento Federal e de ex-chefe do gabinete do Presidente Bill Clinton, em 1966, quando ajudou a negociar um compromisso de orçamento com os líderes Republicanos no Congresso. “Obviamente”, disse Panetta aos senadores, “se repetirmos o erro de não pagarmos pela guerra que decidirmos fazer, qualquer que seja ela, os resultados serão simplesmente os de se adicionar mais déficit e de aumentar a dívida pública deste país para o futuro. As futuras gerações que se virem para pagar a dívida, porque é certo que, mais cedo ou mais tarde, ela terá que ser paga e, por isso, é que as guerras têm que ter uma contrapartida de compensação econômica”. “Todos nós, no mundo livre – e não apenas os americanos –, temos que arcar com alguma parcela de responsabilidade no levantamento de recursos para pagar pelos custos dessa liberdade, caso necessitemos entrar em guerra”.
Como o Congresso poderia ter votado, em outubro de 2002, às vésperas das eleições legislativas, para dar ao Presidente George W. Bush a autorização para usar a força militar americana no Iraque, se tal resolução também contivesse uma provisão para arrecadar um imposto específico para a guerra?
Em outubro de 2007, um sobreimposto para a guerra no Iraque foi proposto por três deputados federais Democratas — David R. Obey (Wisconsin), então diretor da Comissão de Apropriações da Câmara, John P. Murtha (Pensilvânia), então diretor da subcomissão de Apropriação para a Defesa, e Jim McGovern (Massachussets), então vice-diretor da Comissão de Regulamentações. O sobre imposto seria cobrado na base de 2% da carga tributária dos americanos de baixa e media renda (entre 1.000 e 10.000 dólares/mês) e de 15 % sobre a carga dos americanos de maior renda (acima de 10.000 dólares/mês).
Tristemente, a liderança Democrática na Câmara dos Deputados (House) recusou dar apoio à medida, a qual poderia ter gerado mais de 150 bilhões de dólares/ano especificamente destinados a financiar a guerra no Oriente Médio, ou aproximadamente tudo que o então Presidente Bush buscava naquele ano. A então oradora da Câmara, Nancy Pelosi (Democrata da Califórnia) criticou Bush por “adicionar centenas de bilhões de dólares à dívida para ser paga pelas futuras gerações”, e acrescentou que “exatamente como eu me opus à guerra desde o seu início, me opus a sua convocação, agora me oponho a este sobreimposto para a guerra”.  
Em função da situação atual, por que o Presidente Obama não conecta sua demanda no sentido de restaurar o a medida tributária proposta no governo Clinton com a finalidade de arrecadar os 88,5 bilhões de dólares solicitados para o ano fiscal de 2013 para pagar o prosseguimento da guerra no Afeganistão e o contra terrorismo em todo o mundo? Tal conta para ‘Operações de Contingências Exteriores’ (OCE), a apropriação suplementar a ser criada para custear a guerra do Iraque, do Afeganistão e outra qualquer ação militar americana externa no mundo, é esperado que o Congresso continue tentando mantê-la, enquanto os EUA tiver tropas no exterior em luta contra os terroristas e em defesa dos legítimos interesses do mundo livre. Para propósitos de planejamento, o Escritório de Orçamento do Congresso avalia que a conta para as OCE chegue a 44 bilhões de dólares/ano até 2022.
E que tal se Obama, Romney, ou até mesmo os lobistas membros do Congresso criassem um ‘imposto especial de consumo’ sobre as chamadas telefônicas ou mesmo sobre o uso da Internet ou pusessem fim a algumas ‘brechas fiscais’ para arrecadarem os 44 bilhões de dólares/ano necessários para financiar as guerras? Os impostos têm sido usados pelos EUA para pagar as guerras desde 1812 – exceto para as do Iraque e do Afeganistão.
Presume-se que a resposta seja a de que ninguém tem a serenidade para decidir isso, pelo menos num ano eleitoral.
As palavras de Panetta devem ser gravadas em mármore e expostas no Senado e na Câmara dos Deputados, e penduradas numa placa no Salão Oval da Casa Branca: “Francamente, todos nós – e não apenas os americanos – temos, no mundo livre, alguma parcela de responsabilidade no pagamento dos custos das guerras que travamos para proteger os interesses desse mesmo mundo livre”.
Texto: Walter Pincus, The Washington Post, 20-06-2012
Tradução: Francisco Vianna

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