terça-feira, 26 de junho de 2012

A crise política da moeda única

André Abrantes Amaral

Imagem: Rodrigo Amorim
Andamos tão preocupados com a crise da dívida, a possível saída da moeda única da Grécia, da Espanha e de Portugal que esquecemos o desafio político que podemos enfrentar nos próximos meses. A diferença da produtividade entre o norte e do sul da Europa, a que se soma a incapacidade que os países mais pobres tiveram em perceber que a solidariedade europeia implicava um esforço reformista que não levaram a cabo, pode tornar-se fatal para o projecto europeu.
Pelos mesmos motivos, as democracias europeias poderão sofrer transformações ainda hoje impensáveis. Caso a moeda única acabe, é todo o programa político que está agora a ser encetado que será posto em causa. Os seus governos perderão credibilidade política e os partidos que os sustentam, pouco mais terão para dizer aos eleitores. Caso o euro desapareça, o palco fica montado para outros actores políticos que não os que estão hoje em cena. PS, PSD e CDS estão de tal forma implicados no programa da troika que correm o risco de serem ultrapassados pelos acontecimentos, caso as políticas seguidas até agora para salvar a moeda única percam sentido.
Mais grave ainda será a helenização política da Europa. O fim do euro é o fim político de Merkel e da liderança alemã. Ora, se sem Merkel a Alemanha vai pensar o que quer fazer da vida, sem Alemanha a Europa volta ser um continente no qual os seus vários estados só têm em comum a história. E esta já nós conhecemos bem demais.
Título e Texto: André Abrantes Amaral, jornal “i”, 26-06-2012

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