terça-feira, 26 de junho de 2012

Os Estados Unidos começam ofensiva tecnológica para levar informação, livre de censura, aos cubanos


Juan O. Tamayo
O Departamento de Estado dos Estados Unidos está aumentando o financiamento relacionado à parte tecnológica de seus programas, na ordem de 20 milhões de dólares para promover a democracia em Cuba com a esperança de expandir o fluxo de informação livre de censura, apesar das fortes objeções da ditadura cubana. “Em espírito e em dinheiro, há uma recuperação” nos gastos em tecnologia para aumentar o fluxo de informação direta ao povo cubano livre da censura da ditadura dos Castros, disse Mark Lopes, vice-administrador assistente para a América Latina e o Caribe da Agência Internacional para o Desenvolvimento (USAID).

“Desde os resultados desportivos, até os títulos internacionais, o povo cubano deve ser capaz de satisfazer sua sede de informação não censurada, como qualquer outro cidadão das Américas. Isto é fundamental, e estamos comprometidos em ajudar da maneira que pudermos”, acrescentou Lopes.

Havana proscreveu os programas como sendo “subversivos”, e condenou Alan Gross, subempreiteiro da USAID, preso há 15 anos por entregar telefones celulares por satélite não registrados a judeus da ilha.

Mas a secretária de Estado, Hillary Clinton leva adiante uma campanha para apoiar a liberdade de Internet em âmbito global com a finalidade de acelerar “a mudança política, social e econômica” e derrotar os esforços da ditadura dos Castro para controlar a informação.

O governo Obama “ajudará as pessoas que vivem em ambiente opressor para a Internet a fugir dos filtros e a estar um passo adiante dos censores, dos hackers, e dos agentes intimidadores que as atingem e as encarceram pelo que dizem na rede”, declarou Clinton este ano.

O aumento dos fundos de tecnologia para Cuba se reflete numa carta do Departamento de Estado ao Congresso que detalha como Washington planeja gastar os 20 milhões de dólares aprovados para os programas em favor da 'democracia em Cuba' durante o ano fiscal que termina em 30 de setembro. Uma copia dessa carta, com data de 26 de abril, foi obtida por este jornal.
A carta mostra que o dinheiro será administrado por três entidades do Departamento de Estado: o Escritório da América Latina e Caribe (EAC) da USAID; o Escritório da Democracia, dos Direitos Humanos e do Trabalho (EDDHT); e Assuntos do Hemisfério Ocidental (AHO).

O maior aporte financeiro individual é de 4 milhões de dólares que a EAC gastará num programa de “democracia digital” para estimular o uso de “tecnologia inovadora para aumentar o fluxo de informação livre de censura para a ilha, dela e dentro dela”, diz a carta, que, no entanto, não deu maiores detalhes técnicos sobre o funcionamento do programa, e Lopes se negou a revelá-los. Esses detalhes geralmente não se tornam públicos para proteger os programas das tentativas do regime de Cuba de neutralizá-los. Por exemplo, agentes de segurança em Havana bloquearam os telefones de dezenas de dissidentes durante a visita do Papa Bento XVI à ilha em março último.

Para evitar outro incidente como o de Alan Gross, o programa evitará equipamentos sofisticados como telefones por satélites e em seu lugar usará somente artigos disponíveis na ilha, tais como computadores, DVDs, portas USB e celulares, conforme descreveu um funcionário do Capitólio ciente do caso.

Seis dos outros nove programas para Cuba, incluídos na carta, preveem também a tecnologia. Lopes disse que era difícil quantificar o aumento de um ano para outro de fundos para tecnologia com esta destinação pelo fato de que os programas se estendem por vários anos.

A AHO recebeu um aporte de 1,53 milhão de dólares para um programa destinado a aumentar o acesso dos cubanos à informação livre de censura por meio de “treinamento à distância de habilidades básicas em tecnologia da informação”, destacou a carta. “Além disso, os fundos apoiarão a compra de artigos de tecnologia básica da informação, e darão apoio material aos ativistas dos direitos humanos, jornalistas independentes e bibliotecas independentes que existem na ilha”.

A EDDHT tem 1,05 milhão de dólares para proporcionar treinamento, transferir equipamentos e software aos ativistas que recompilam informação sobre abusos contra os direitos humanos, segundo a carta, e 750 mil dólares para “treinamento com base na tecnologia” sobre o uso dos meios de comunicação social para abordar questões tais como os direitos humanos, a impunidade e a corrupção governamental.

A EDDHT também vai administrar 700 mil dólares para cada um dos dois programas: um para jovens que inclui “usos inovadores da tecnologia como os sites sociais”, e outro para educar os cubanos em economias de mercado e seus efeitos sobre a democracia, acrescentou a carta.
Outros 500 mil dólares serão administrados pelo EAC para apoiar “investigações sobre opções de tecnologia para ampliar as comunicações” entre os cubanos e a conectividade da Internet como parte de um programa intitulado “A Aplicação da Tecnologia na Promoção da Democracia”.

O EAC tem também 2,9 milhões de dólares para gastar com alimentos, remédios sem receita médica e outras formas de ajuda humanitária para os presos políticos, seus familiares e outras “pessoas politicamente marginalizadas pela ditadura comunista dos Castros”. O governo de Cuba nega normalmente empregos aos dissidentes e aos seus familiares, e os acusa de serem “mercenários” por aceitarem ajuda de Washington.

O EDDHT já tem comprometidos 4 milhões de dólares com a Fundação Nacional pela Democracia (National Endowment for Democracy), uma organização de Washington sem fins lucrativos que promove o fomento da democracia em todo o mundo, disse a carta. As petições de solicitações de fundos de outros programas serão logo levadas ao conhecimento público.

O Departamento de Estado indicou que também gastará 2,87 milhões de dólares dos 20 milhões para administrar os programas para Cuba, que tendem a gerar um alto volume de papelada, em comparação com outros programas estadunidenses de ajuda externa.

Outra questão não detalhada por Lopes o una carta é como poderão tais programas dos EUA incrementar o uso de tecnologia em Cuba, que tem a mais baixa taxa de acesso à Internet da América latina, e um rígido sistema de segurança nacional que trata de controlar todas as comunicações.

Gross, de 63 anos, foi preso em fins de 2009 depois de entregar três telefones de sintonia por satélites a judeus cubanos, para que pudessem ter acesso direto à Internet, fugindo dos controles estatais comunistas da ditadura. O senador John Kerry, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, bloqueou os fundos para Cuba no ano passado durante meses, alegando que os programas pela democracia eram ineficazes e só serviam para provocar a ira de Havana.

O rígido monopólio estatal das telecomunicações de Cuba não permite o registro de “telefones inteligentes” (smatphones) na ilha para o acesso à Internet, e não está inteiramente claro se é legal ter equipamentos eletrônicos não inscritos, como transmissores Wi-Fi e IPods.

Um ativista pela democracia em Washington, que trabalha nos programas para Cuba, disse que o “Santo Graal” dos programas pró-democracia é um telefone celular “doido” que pode ser adaptado para receber e enviar grandes arquivos, como fazem os smartphones. “Dizem que uma determinada empresa israelense o construiu; que algum hacker californiano de 16 anos o possui e que certo gênio da Índia o idealizou”, disse o ativista. “Mas quando o veremos por aqui, ninguém sabe e talvez não seja o que realmente precisamos em Cuba”.
Título e Texto: Juan O. Tamayo, para o jornal de Miami “El Nuevo Herald”, 25-06-2012
Tradução e Imagem: Francisco Vianna

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-